15 Dezembro 2025
De fato, rompeu-se o estreito cerco criado pelos dois pontificados anteriores. Sem medidas drásticas, sobretudo evitando condenações e proibições. É uma tarefa bem realizada pelo prefeito.
O artigo é de Andrés Torres Queiruga, teólogo, publicado por Religión Digital, 12-12-2025.
Eis o artigo.
Caro José Manuel, justamente hoje, antes de ler teu artigo sobre o cardeal prefeito da Doutrina da Fé, eu pensava em te escrever. A verdade é que eu não conhecia minimamente bem o que mencionas em teu magnífico artigo. Aliás, estás te tornando um mestre nesse tipo de chamado à necessária abertura na Igreja atual.
Se penso no que significou sua nomeação para a doutrina da fé, é claro que ela coincide com o programa de renovação iniciado por Francisco. Como papa, ele o fez sobretudo no âmbito da renovação pastoral e, com bom critério, buscou um teólogo para o aspecto doutrinal. Conhecia as dificuldades que havia tido para nomeá-lo reitor da Faculdade de Teologia de Buenos Aires e, portanto, previu que poderiam surgir dificuldades e oposição.
Mas o nomeou. E assim criou um novo espaço para ir recuperando a renovação conciliar, que era e continua sendo tão necessária. Naturalmente, não cabe ao prefeito levá-la a cabo, mas sim preparar o caminho para aqueles que devem fazê-lo: os teólogos, no âmbito doutrinal.
De fato, rompeu-se o estreito cerco criado pelos dois pontificados anteriores. Sem medidas drásticas, sobretudo evitando condenações e proibições. É uma tarefa bem realizada pelo prefeito. Sem introduzir inovações espetaculares em nenhum campo teológico, o que não é sua atribuição, ele vem saneando o ambiente com algumas manifestações de maior abertura teórica, como a última sobre o tema de Maria, e com outras mais práticas, como as bênçãos abertas a todos, sem discriminações incompreensíveis.
Que esses casos de abertura tão elementar e de mínima atualização, no vasto espaço que a teologia tem aberto diante de si em praticamente todos os temas fundamentais, provoquem reações tão injustas e ignorantes da verdadeira problemática teológica, indica quão incipiente e em construção voltou a ser a situação atual.
A Igreja, que por necessidade histórica já se encontra com os pés na cultura atual (no que esta implica de progresso irreversível, não em suas derivas anti-humanas, que também as tem), ainda mantém a cabeça muito povoada por ideias e pressupostos herdados da cultura pré-moderna. Precisamos, como um batismo pascal, da graça de uma nova abertura que ajude a teologia a se atualizar. Isso o exige o amor ao evangelho, em sua necessidade de continuar sendo anunciado em todo tempo e lugar. Ainda estamos muito longe de uma teologia que ofereça uma compreensão atualizada do mandato evangélico de ir a todas as pessoas e fazer discípulos em todas as culturas.
Devemos agradecer ao cardeal Víctor Manuel Fernández sua prudência e bom senso, fazendo todo o possível para que continue na tarefa, que ainda está nos começos de uma atualização radical e integral. A continuidade de fundo que Leão XIV quer manter com Francisco tem, em seu bom saber e em seu talante evangélico, uma garantia de experiência e conhecimento do ambiente geral.
Se não se romper a deriva anticonciliar, a fé continuará sendo vista como algo antiquado e até incompreensível para quem a observa de fora, e sem o cultivo de um sentido crítico e responsável para tantos crentes que vivem sua fé com sinceridade e paixão, mas que com demasiada frequência não conseguem justificá-la nem para si mesmos nem para responder às perguntas dos outros.
Um cainismo teológico, que (possivelmente sem perceber sua gravidade) se estabeleceu em certos ambientes, deve terminar para o bem do evangelho e da humanidade. São estas, eu sei, palavras grandes, talvez até um pouco retóricas; mas seu conteúdo é muito verdadeiro e inclui uma urgência que deveria nos preocupar a todos, em uma Igreja de irmãs e irmãos, para o bem de um mundo comum, em grave crise de crescimento.
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