Da batalha das Termópilas à Guerra do Vietnã: todas as vezes em que Davi derrotou Golias

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12 Dezembro 2025

Em relação ao conflito na Ucrânia, Donald Trump disse à revista Politico que “o tamanho vai vencer. A Rússia é muito maior e muito mais forte”. Mas a história nem sempre confirmou sua teoria.

O artigo é de Enrico Franceschini, jornalista, publicado por La Repubblica, 10-12-2025.

Eis o artigo.

“Em algum momento”, disse Donald Trump ontem em uma longa entrevista ao site de notícias americano Politico, referindo-se à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, “o tamanho vai vencer. A Rússia é muito maior e muito mais forte”. Mas a história dos conflitos militares está repleta de situações em que o oposto é verdadeiro: Davi vence Golias, ou seja, o tamanho não importa. Da Batalha das Termópilas à Guerra do Vietnã, aliás, existem inúmeros exemplos em que o menor derrota o maior. Um fato que também parece ser confirmado pela guerra na Ucrânia, segundo um estudo publicado esta semana pelo Financial Times, apesar de alguns avanços feitos pelas forças russas em campo nos últimos meses. Estrategistas os chamam de “conflitos assimétricos”: desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a força teoricamente mais fraca e menor venceu 55% das vezes. E mesmo em um passado distante, sob as circunstâncias certas, um Davi prevaleceu sobre um Golias.

O pastor e o gigante

Podemos começar pela Bíblia, com o episódio descrito no Livro de Samuel, no Antigo Testamento, que se tornou proverbial e, portanto, é sempre citado em todas as situações, não apenas militares, em que um resultado inesperado leva à vitória de um forasteiro. Trata-se do desafio entre Golias, um gigante aparentemente invencível, guerreiro dos filisteus, inimigos declarados de Israel, e o pastor hebreu Davi. Nenhum dos judeus do rei Saul ousou desafiá-lo, até que o jovem pastor se apresentou e o derrotou com uma funda e uma pedra.

A batalha de Maratona

Em 490 a.C., uma frota persa desembarcou na Grécia com mais de 20. mil soldados. Os exércitos se enfrentaram em Maratona, ao norte de Atenas. O general grego Milcíades ordenou um ataque rápido e envolvente que levou à derrota persa, apesar da inferioridade numérica.

Os 300 em Termópilas

Em 480 a.C., a Pérsia, sob o comando do rei Xerxes, invadiu a Grécia novamente. O rei espartano Leônidas posicionou-se em Termópilas com 299 guerreiros para retardar o avanço persa. Embora todos tenham morrido, a resistência permitiu a vitória grega posterior na Batalha de Salamina.

A revolta de Boudica

Em 61 d.C., a rainha Boudica, dos icenos, liderou uma revolta contra os romanos na Britânia. Apesar da inferioridade tática, os romanos, comandados por Caio Suetônio Paulino, venceram ao escolher um terreno favorável.

A batalha de Morgarten

Em 1315, camponeses suíços derrotaram um exército austríaco maior na Batalha de Morgarten, episódio decisivo para a formação da Confederação Suíça.

A batalha de Agincourt

Em 1415, durante a Guerra dos Cem Anos, o rei Henrique V da Inglaterra derrotou um exército francês muito superior em Agincourt, graças ao uso estratégico de arqueiros.

A batalha de Panipat

Em 1526, Babur venceu o sultão Ibrahim Lodi em Panipat, dando início ao Império Mughal na Índia.

A guerra de Inverno

Em 1939-40, Stalin ordenou a invasão da Finlândia. Apesar da inferioridade numérica, os finlandeses resistiram à URSS, preservando sua independência. Após o fim da Guerra Fria, a Finlândia aderiu à União Europeia e, mais tarde, à OTAN.

A guerra da Argélia

Entre 1954 e 1962, a França enfrentou os rebeldes da Frente de Libertação Nacional. O conflito levou à independência da Argélia e ao retorno do General de Gaulle ao poder. O episódio foi retratado no filme A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo.

A guerra dos Seis Dias

Em 1967, Israel derrotou os exércitos do Egito, da Síria e da Jordânia. O general Izhak Rabin comandou a ofensiva que redefiniu o mapa da região e marcou o conflito israelense-palestino.

A guerra do Vietnã

De 1955 a 1975, o Vietnã do Norte, apoiado pela China e pela União Soviética, derrotou o Vietnã do Sul e os Estados Unidos. A queda de Saigon simbolizou o fracasso americano.

As guerras no Afeganistão

O Império Britânico, a União Soviética e os Estados Unidos fracassaram em subjugar o Afeganistão. A retirada americana em 2021 ecoou a derrota soviética e o colapso imperial anterior.

A invasão da Ucrânia

Quando Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, a Rússia esperava uma vitória rápida. Quatro anos depois, apesar de enormes perdas humanas, Moscou não conseguiu subjugar o país, que segue resistindo com apoio europeu e americano.

A queda de Assad

Na Síria, o regime de Bashar al-Assad entrou em colapso diante da ofensiva rebelde liderada por Ahmed al-Shara, sem intervenção decisiva da Rússia, abrindo uma frágil esperança de estabilidade.

Conflitos assimétricos

Estudos da Universidade de Cambridge, da Universidade da Geórgia e do historiador Ivan Arreguín-Toft demonstram que grandes potências frequentemente perdem guerras contra adversários menores. Argumentos reforçados por Elina Ribakova, do Instituto Peterson de Economia Internacional e da Escola de Economia de Kiev, indicam que “o tamanho nem sempre importa”. A lição da Ucrânia pode ser decisiva para a Europa de amanhã.

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