Petro propõe um governo de transição e uma anistia geral na Venezuela diante de uma possível agressão dos EUA

Gustavo Petro (Foto: @gustavopetrourrego | Flickr CC)

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11 Dezembro 2025

O presidente colombiano convoca uma “revolução democrática” no país vizinho no mesmo dia em que a líder da oposição, María Corina Machado, recebe o Prêmio Nobel da Paz.

A reportagem é de Diego Stacey, publicada por El País, 10-12-2025.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, declarou na quarta-feira que "é hora" de um governo de transição ser estabelecido na Venezuela "com a inclusão de todos" e de uma anistia geral ser concedida naquele país como alternativa à crise política diante de um possível ataque dos Estados Unidos. "O governo de Nicolás Maduro precisa entender que a resposta à agressão externa não é apenas a mobilização militar, mas uma revolução democrática", afirmou o presidente à emissora X, poucas horas depois da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz à líder da oposição, María Corina Machado, que não compareceu ao evento.

A declaração de Petro surge em resposta à notícia de que Caracas confiscou o passaporte do Cardeal Baltazar Porras, uma das figuras religiosas mais proeminentes da Venezuela, quando ele tentava viajar para a Espanha. "Um país se defende com mais democracia, não com mais repressão ineficaz", enfatizou o presidente, que vem propondo um governo de transição desde novembro. "Eu me oponho a soluções que não se baseiam no diálogo e que buscam garantir o triunfo de um lado através do extermínio do outro", declarou na ocasião.

A pressão sobre Maduro tem aumentado nos últimos meses devido às ações dos EUA no Mar do Caribe. Desde setembro, Washington atacou diversas embarcações supostamente usadas para transportar drogas para a América do Norte e acusa o presidente venezuelano de ser o mentor dessas operações. O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que Maduro é o líder do Cartel dos Sóis, uma organização criminosa envolvida com o narcotráfico, e aumentou a recompensa por sua captura para US$ 50 milhões. Uma ação militar contra a Venezuela, seja por ar ou terra, afetaria diretamente a Colômbia, que já abriga mais de 2,8 milhões de migrantes venezuelanos. Bogotá não reconhece os resultados das eleições de 2024 porque os registros eleitorais não foram divulgados, embora mantenha relações diplomáticas com Maduro.

Nesse contexto, Petro instou tanto Trump quanto Maduro a buscarem uma solução negociada, chegando a apresentar propostas que geraram controvérsia. Sua sugestão mais recente é a formação de uma chamada Frente Nacional, um pacto político que funcionou na Colômbia em meados do século XX, no qual conservadores e liberais compartilharam o poder a cada quatro anos por mais de uma década. Segundo o plano de Petro, esse modelo funcionaria "por um período que permitisse a construção de confiança" antes da realização de eleições livres.

Em relação a essa proposta, Petro reconheceu que “algumas pessoas na oposição gostaram, enquanto outras no governo não gostaram”, então sugeriu que a ideia fosse submetida a votação em um plebiscito ou que uma declaração fosse feita perante as Nações Unidas. Agora, com suas usuais referências aos tempos coloniais, o presidente afirma: “A pátria de Bolívar não deve ser invadida por estrangeiros, nem por retórica vazia, nem por prisões da alma. A pátria de Bolívar se defende com mais democracia e soberania.”

As últimas declarações de Petro surgem horas depois da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz à líder da oposição María Corina Machado, em Oslo, na Noruega. Embora Machado não tenha podido comparecer ao evento, o Comitê Norueguês do Nobel confirmou que ela deixou a Venezuela. O Wall Street Journal, citando autoridades americanas, relata que Machado deixou o país, onde vivia escondida há um ano, em um barco que partiu da costa oeste da Venezuela rumo à ilha caribenha de Curaçao.

O presidente colombiano tem sido bastante crítico da líder da oposição venezuelana por se mostrar aberta a uma possível ofensiva militar para derrubar o regime de Maduro. Um dia após o anúncio do Prêmio Nobel da Paz em outubro — Petro mal a parabenizou —, ele reiterou uma carta que Machado havia enviado em 2018 ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, solicitando o “apoio necessário para promover a mudança de regime”.

“O que eu não entendo, e o que quero que me expliquem, é: por que vocês estão pedindo ajuda a um criminoso contra a humanidade, com um mandado de prisão internacional, para trazer a democracia à Venezuela? O que significa que o povo da Noruega, que concede este prêmio, incentive esse tipo de aliança global que só poderia ser de barbárie e guerra, e não de paz?”, questionou Petro.

Em todo caso, o presidente colombiano é explícito em sua condenação a qualquer ação militar contra a Venezuela, uma questão que tensionou ainda mais as relações entre Bogotá e Washington. Na semana passada, o presidente colombiano denunciou como “ilegal” e uma “ameaça colonialista” o fechamento do espaço aéreo ordenado por Trump sobre o país vizinho, o que muitos interpretaram como um prenúncio de um possível envio de tropas por via aérea, embora isso ainda não tenha ocorrido. Tanto Maduro quanto Trump afirmam que os canais de diálogo permanecem abertos, após uma conversa telefônica entre os dois no final de novembro.

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