10 Dezembro 2025
"Mas, nos perguntamos, como seria possível uma comissão tão minúscula resolver um problema tão enorme, que envolve elementos bíblicos, históricos, eclesiais, canônicos e estruturais cruciais? Teriam podido João XXIII e Paulo VI confiar a minicomissões questões difíceis, como a colegialidade episcopal, a liberdade religiosa e a mudança de postura da Igreja em relação aos judeus? Não, obviamente não, porque seu valor era nulo", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 08-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Está provocando protestos generalizados, junto com poucos aplausos, a "Síntese da Comissão de Estudos sobre o Diaconato Feminino", um volumoso documento datado de 18 de setembro de 2025, publicado na última quinta-feira e assinado pelo Cardeal Giuseppe Petrocchi, Arcebispo Emérito de L'Aquila e presidente do órgão.
O documento nega, "pelo menos por enquanto", a possibilidade da ordenação diaconal das mulheres: uma decisão que, com os "não" e "sim" provocados, está abrindo uma divisão dentro da Igreja Católica Romana destinada a se aprofundar.
Parece ser a consequência do curto-circuito em que Francisco caiu, e que agora recai sobre o inocente Leão XIV. De fato, para abordar o problema, em 2016 Bergoglio havia criado uma pequena comissão ad hoc, substituída por outra semelhante em 2020; contudo, ambas não conseguiram chegar a um consenso unânime, e entre o "sim" e o "não", prevaleceu a opinião negativa.
Mas, nos perguntamos, como seria possível uma comissão tão minúscula resolver um problema tão enorme, que envolve elementos bíblicos, históricos, eclesiais, canônicos e estruturais cruciais? Teriam podido João XXIII e Paulo VI confiar a minicomissões questões difíceis, como a colegialidade episcopal, a liberdade religiosa e a mudança de postura da Igreja em relação aos judeus? Não, obviamente não, porque seu valor era nulo.
E, de fato, entre 1962 e 1965, essas questões foram confiadas ao debate, por vezes dramático, e à votação dos mais de dois mil "padres" do Concílio Vaticano II.
Agora, torna-se cada vez mais evidente que, se desejamos a paz eclesial, sacudir pelas raízes o patriarcado dominante e, finalmente, desfrutar das consequências das palavras de Jesus a Maria Madalena ("Ide e dizei aos meus irmãos..."), é necessário iniciar programaticamente um profundo debate intraeclesial global sobre o tema, que possa depois resultar num Concílio de novo viés, onde "madres" e "padres" possam abordar o problema e, finalmente, deliberar com responsabilidade.
A responsabilidade passa, enfim, a Leão XIV, o único que poderia convocar tal atípica Assembleia. Nós não sabemos se, nem quando, ele trilhará esse caminho que, para muitos observadores, parece ser a via mestra para a pacificação do catolicismo; mas não poucos nas altas esferas trabalharão para dissuadi-lo.
Afinal, a empreitada não se apresenta fácil. Para muitas pessoas a Igreja Romana deve permanecer assim como é, com apenas homens na esfera sagrada; contudo, cada vez mais cresce o número daquelas e daqueles que estão convencidos de que não faz parte do pensamento de Jesus confiar somente a homens a presidência da Eucaristia. A Igreja da Inglaterra, liderada durante séculos por bispos homens, escolheu há dois meses Sarah Mullally (casada e mãe de dois filhos) como Arcebispa de Canterbury. Essa decisão, no entanto, foi contestada pelos Anglicanos "conservadores". Será que aconteceria o mesmo na Igreja Católica se um dia o tão almejado Concílio viesse a decidir pelas diáconas? É também verdade, porém, que muitos fiéis abandonarão a Igreja se o Concílio persistir no "não", considerando-o uma traição e uma afronta insuportável à outra metade da Igreja.
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