07 Novembro 2025
A conferência começa com Lula, Guterres e o Príncipe William. Trump está ausente: "Um pacto contra suas políticas poluentes é crucial."
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 07-11-2025.
Para dar destaque às evidências de que a crise climática está transformando nossas vidas, os líderes mundiais decidiram começar por uma ausência: a de Donald Trump. No coração da Amazônia – em Belém, Brasil – a cúpula de chefes de Estado e de governo que inaugurou a COP30 embarcou em uma jornada que deve encontrar soluções para reverter a tendência dramática do aquecimento global. Mais do que um plano de ação, no entanto, parece ser um apelo desesperado por união contra um inimigo comum: o próprio presidente dos EUA, que chamou a crise climática de "farsa" e, ao focar nos combustíveis fósseis, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Dez anos atrás, esse acordo levou 190 países a prometerem reduzir as emissões para se manterem abaixo do famoso limite de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Hoje, já ultrapassamos esse limite e agora é "virtualmente impossível" voltar atrás. "Uma falha moral, uma negligência mortal", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu discurso de abertura.
Para evitar que o aquecimento global atinja 2,5 graus Celsius até 2100, soluções urgentes são necessárias: encontrar US$ 1,3 trilhão por ano para os países menos desenvolvidos já afetados pela crise (fundos que até agora têm sido insuficientes); alcançar US$ 125 bilhões em financiamento ao longo de 10 anos para salvar a Amazônia e outras florestas; abrir espaço para soluções de mitigação e adaptação; acabar com os subsídios e o financiamento de combustíveis fósseis; e, finalmente, criar ferramentas para tributar os maiores poluidores, como aviões particulares ou as empresas de maior impacto. Mas é inevitável que, para alcançar um resultado final satisfatório — maiores reduções de emissões, uma transição dos combustíveis fósseis, fundos de ajuda concretos e apoio a soluções naturais propostas por povos indígenas — um novo acordo global seja necessário, uma união contra as "forças extremistas que fabricam notícias falsas sobre o clima para obter ganhos políticos", afirma o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Porque a atitude de Trump, acrescenta o presidente colombiano Gustavo Petro, é "contra a humanidade: está nos levando ao colapso". Palavras que inspirarão outros líderes a buscar um entendimento comum.
A China, que chegou ao Brasil para assumir a liderança na luta climática, deixou claro que concordava e pediu uma reunião para "remover barreiras comerciais e fortalecer a cooperação internacional para alcançar as metas climáticas". A Grã -Bretanha também aplaudiu, e a Itália, representada por Antonio Tajani (a primeiro-ministro Meloni estava ausente), concordou com maiores esforços para reduzir as emissões, mas somente se "levassem em conta questões sociais e empregos". Em meio a conflitos internacionais e questões críticas como os temidos ataques aéreos dos EUA contra a Venezuela — um tema que monopoliza as discussões privadas dos líderes em detrimento do clima — é, portanto, essencial recuperar as forças diante da tragédia que enfrentamos: "Se nos unirmos, ainda podemos acelerar e evitar o ponto de não retorno", foi o apelo desesperado do Príncipe William na sessão plenária.
Para os presentes, somente com esse pacto anti-Trump a COP30 poderia se tornar a "conferência da verdade" que o próprio Lula almeja. Mas há um problema: para alcançar esse objetivo, a Conferência teria que começar apagando todas as suas inconsistências, justamente aquelas das quais o magnata se vangloria. Está conseguindo? A julgar pelo primeiro dia de trabalhos, não.
A logística no Brasil está lamentavelmente atrasada: operários ainda estão montando pavilhões em meio a barracas onde poucos voluntários falam inglês e sanduíches são vendidos a preços exorbitantes. Jatos particulares poluentes continuam sobrevoando a região e, este ano, na Amazônia, somam-se as emissões de embarcações, como as dos dois navios de cruzeiro italianos que chegaram para oferecer mais hospitalidade (mas que atualmente estão com apenas um terço da capacidade ocupada) e do iate que abriga Lula, que consome 150 litros de diesel por hora.
Tudo isso está acontecendo na orla de uma floresta tropical delicada, onde árvores foram derrubadas para dar lugar a estradas e novas perfurações foram anunciadas, no mesmo ano em que o Brasil aderiu à OPEP+. Para se tornar a COP do pragmatismo, além da unidade, será necessário também um apelo à coerência.
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