29 Outubro 2025
Os líderes globais precisam aprender com os Povos Indígenas a importância de uma relação harmoniosa com a natureza, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres à Sumaúma e ao Guardian. Foi a primeira vez que o secretário-geral da organização concedeu uma entrevista exclusiva a um jornalista indígena – Wajã Xipai, jornalista-floresta do Povo Xipai.
A informação é publicada por ClimaInfo, 28-10-2025.
Guterres afirmou que as vozes dos Povos Originários são indispensáveis para que o mundo evite uma catástrofe climática. “Responsáveis políticos em nível mundial devem assumir a defesa dos Direitos Indígenas como prioridade essencial em suas políticas interna e externa. É absolutamente indispensável que se ganhe uma consciência mundial de que as Comunidades Indígenas são as nossas defensoras da Natureza, são as nossas defensoras do planeta.”
Mas esse aprendizado não está garantido. A organização da COP30 prometeu valorizar a participação dos delegados indígenas. Mas uma prévia da agenda revelada pelo Guardian sugere apenas uma “possibilidade” de intervenção do tipo, e de apenas três minutos, na cúpula de líderes, em 6 e 7 de novembro.
Para o secretário-geral da ONU, a COP30 precisa marcar uma mudança de rumo da Humanidade. Senão, o aquecimento global trará “consequências devastadoras”, incluindo pontos de não retorno da Floresta Amazônica, da Groenlândia e dos vários sistemas de recifes de corais.
Para Guterres, agora é “inevitável” que a Humanidade ultrapasse a meta do Acordo de Paris. “Vamos reconhecer o nosso fracasso. A verdade é que não conseguimos evitar uma ultrapassagem acima de 1,5°C nos próximos anos.”
Isso não significa, porém, que o quadro é irreversível. “É absolutamente indispensável mudar de rumo para garantir que o overshoot [a ultrapassagem de 1,5°C] seja o mais curto possível e o mais baixo em intensidade possível para evitar pontos de inflexão. Não queremos ver a Amazônia como uma savana. Mas isso é um risco real se não mudarmos de rumo e se não fizermos uma redução drástica nas emissões o mais rápido possível.”
Guterres ainda pediu que os governos reequilibrem a representação nas COPs para que a sociedade civil, especialmente comunidades indígenas, tenha mais presença e influência do que os lobistas de empresas e setores, que são cada vez mais numerosos nas conferências climáticas. “Todos sabemos o que os lobistas querem. Aumentar seus lucros, com o preço sendo pago pela Humanidade.”
Sobre petróleo, gás e carvão, Guterres afirmou que a transição é uma questão de interesse econômico próprio, pois está claro que a era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim: “Estamos vendo uma revolução das energias renováveis, e a transição inevitavelmente se acelerará — não haverá como a Humanidade usar todo o petróleo e o gás já descobertos”, disse.
Questionado se tratou desse assunto com o presidente Lula, já que o governo brasileiro acaba de autorizar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o secretário da ONU contou que iria “aproveitar a COP [para fazer isso]”.
Em tempo 1
Em um memorando divulgado na 3ª feira (28/10), o bilionário Bill Gates disse que é hora de adotar um tom mais ponderado sobre as mudanças climáticas e a ameaça que elas representam, e criticou o que chamou de "visão apocalíptica", informam Bloomberg, Valor, InfoMoney, Vero Notícias, Brasil 247, Exame e Terra. Segundo Gates, priorizar a luta contra o aumento das temperaturas acima de tudo significa que questões como saúde humana e igualdade correm o risco de serem ofuscadas. "As mudanças climáticas são sérias, mas fizemos grandes progressos", disse ele, “esquecendo” que tanto as emissões de gases de efeito estufa quanto a temperatura continuam subindo. "Precisamos continuar apoiando as inovações que ajudarão o mundo a atingir emissões zero. Mas não podemos cortar o financiamento para saúde e desenvolvimento – programas que ajudam as pessoas a se manterem resilientes diante das mudanças climáticas – para fazer isso.” Ao que parece, isso é “adaptação”, que deve ser um dos destaques da COP30. O que anularia a crítica de Gates.
Em tempo 2
A preocupação da população brasileira com a crise climática cresceu, de 18% em 2022 para 33% em 2025. Os números são da Pesquisa Global de Consciência do Consumidor 2025, feita pelo Instituto Ipsos para o Conselho de Manejo Florestal (FSC, sigla em Inglês), organização internacional que atua na promoção do manejo florestal responsável, informa a Folha. A pesquisa foi feita em 50 países, com 40 mil entrevistados. A edição da pesquisa de 2022 ouviu 26,8 mil consumidores de 33 países.
Leia mais
- Sonia Guajajara: ‘Esta será a maior COP em participação e protagonismo indígena da história’
- COP30: O desafio dos indígenas para serem ouvidos
- Povos indígenas propõem metas para a COP30
- Organizações indígenas criam estratégia para incluir demarcação de terras como política climática na COP30
- Pré-COP Indígena reafirma protagonismo dos povos originários na COP30
- Indígenas reivindicam participação direta nas decisões da COP30
- Líderes indígenas reivindicam mesmo peso que chefes de Estado na COP30
- Mais de 6 mil indígenas se reúnem em Brasília para a 21ª edição do Acampamento Terra Livre
- “A Resposta Somos nós”, dizem povos indígenas sobre crise climática
- Maior mobilização indígena do Brasil pede demarcação como política climática para COP30
- Povos Indígenas acampam em Brasília contra petróleo na Amazônia
- Organizações indígenas criam estratégia para incluir demarcação de terras como política climática na COP30
- Povos indígenas mostram uma saída para a humanidade. Artigo de Sandoval Alves Rocha
- Os Territórios: direitos coletivos dos povos indígenas. Artigo de Cândido Grzybowski
- Governo avançou pouco nas demarcações e violência contra indígenas continua, relata secretário do Cimi à ONU
- Presidente da COP30 quer vencer distopia climática com mutirão pelo clima
- II Romaria do Fórum das Águas desafia a COP30 ir além dos discursos. Artigo de Sandoval Alves Rocha
- Movimentos sociais planejam Cúpula dos Povos na COP30 em Belém