29 Outubro 2025
Em um país onde a casa própria ainda é um sonho distante para milhões, as mulheres estão à frente da maioria das famílias sem moradia digna. Segundo levantamento da Fundação João Pinheiro (FJP), o país registrava 6 milhões de domicílios em déficit habitacional em 2022, o equivalente a 8,3% do total de moradias ocupadas. As mulheres são responsáveis por 62,6% dos lares incluídos nessa estatística, muitas delas mães solo que sustentam seus lares em meio à precariedade e à incerteza de não possuir uma casa própria.
Em São Leopoldo (RS), essa realidade se traduz na história de Cristina, mãe solo de nove filhos e filhas, entre biológicos e adotados. Cristina está próxima de realizar um sonho antigo: viver em uma casa que pode, enfim, chamar de sua. Depois de anos vivendo de aluguel, sofrendo com despejos e incêndios, falta apenas R$ 8.500,00 para quitar o imóvel e garantir à família um lar definitivo e seguro.
Cristina tem a saúde cardíaca fragilizada, mas nunca deixou de trabalhar para manter a casa e cuidar dos filhos. Sustenta-se com pequenos bicos, como venda de doces, limpeza de pátios e cortes de grama, atividades que se tornaram mais difíceis com as limitações físicas da doença. Mesmo diante das dificuldades, ela é reconhecida por sua força e dedicação, a exemplo de tantas mulheres brasileiras que transformam a vulnerabilidade em resistência cotidiana.
“Eu cuido muito dos meus filhos. Eles não estão abandonados no mundo. Eu não tive uma mãe cuidadora, então eu faço de tudo para ser para eles o que eu não tive”, conta.
A rotina da casa é movida pela união. As crianças ajudam nos contraturnos escolares e partilham as tarefas do dia a dia. Juntos, mantêm a esperança de construir um futuro melhor. Além de cuidar dos filhos, Cristina também dedica atenção a animais abandonados, que acolhe e alimenta sempre que pode, um gesto que revela a sensibilidade de quem, mesmo com pouco, reparte o que tem.
“A gente se guia pela conversa e pelo carinho. Não temos segredo um com o outro. Estamos juntos e enfrentamos as dificuldades juntos”, relata a família.
Hoje, uma rede solidária se mobiliza para ajudá-la a conquistar a segurança de uma casa própria. A contribuição de cada pessoa é um passo concreto para transformar a vida dessa mãe e de seus filhos, e um gesto simbólico diante do desafio coletivo que é garantir moradia digna como direito humano.
Contribua com a campanha em apoio à Cristina aqui.
Foto: divulgação
Leia mais
- Mística e espiritualidade na pastoral de moradia no Brasil. Artigo de Frei Betto
- Moradia, substantivo feminino: gênero e política habitacional. Entrevista especial com Tuize Rovere
- A invisibilidade social das mães solo. Artigo de Rejane Rodrigues
- Na tragédia da fome, família pede por ajuda. Uma ação de Natal
- Habitar na região metropolitana de Porto Alegre. A luta pelo direito à cidade
- Crise habitacional é consequência do modelo de desenvolvimento urbano: alta concentração de terra e grande parcela da população sem acesso. Entrevista especial com Luiz Kohara
- Relatório da Oxfam: 42% das mulheres no mundo têm um trabalho de cuidados privado ou familiar não remunerado
- Novos empreendimentos imobiliários contribuem para a perpetuação das desigualdades sociais. Entrevista especial com Carolina Freitas
- Da cidade que desrespeita a cidadania ao direito à cidade