29 Outubro 2025
Levantamento mostra que bloco aliado a Jair Bolsonaro deve crescer, mas ainda ficará longe dos 54 votos necessários para aprovar o impeachment de ministros do STF.
A reportagem é de Carole Bê, publicada por Agenda do Poder, 28-10-2025.
Um mapeamento inédito da correlação de forças no Senado indica que a oposição ao governo Lula pode se tornar majoritária na próxima legislatura. O bloco de partidos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderá alcançar até 44 das 81 cadeiras da Casa a partir de 2027, número suficiente para disputar a presidência do Senado, mas insuficiente para concretizar o principal desejo do grupo: o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A projeção foi elaborada pela coluna de Andreza Matais, do portal Metrópoles, com base nas pesquisas eleitorais da Real Time Big Data e no posicionamento atual dos senadores. Para remover um ministro do Supremo, são necessários 54 votos. Mesmo com o avanço bolsonarista, essa barreira parece intransponível no cenário atual.
O Senado renovará dois terços de suas cadeiras nas eleições de 2026. Dependendo dos resultados, a oposição poderá ter entre 42 e 44 senadores.
Avanço da oposição em estados estratégicos
De acordo com o levantamento, em sete estados há tendência de aumento da bancada bolsonarista em comparação com a atual legislatura: Acre, Alagoas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraná, Roraima e Tocantins. Nessas unidades, a oposição pode conquistar pelo menos uma cadeira a mais.
Por outro lado, o grupo ligado ao PL deve perder espaço no Amapá, Ceará, Espírito Santo e Sergipe. Já em São Paulo e no Rio Grande do Sul, o cenário ainda é considerado incerto, devido à indefinição de candidaturas.
No Sul, os mandatos de Paulo Paim (PT) e Luis Carlos Heinze (PP) chegam ao fim. O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo) aparece bem posicionado em alguns cenários, enquanto o governador Eduardo Leite (PSD) ainda avalia disputar a Presidência da República. A possível entrada da ex-deputada Manuela D’Ávila (sem partido) pelo PSOL também pode alterar o quadro. O resultado final, portanto, pode ser neutro ou representar leve recuo da oposição.
Disputa acirrada em São Paulo e espaço para Michelle Bolsonaro
Em São Paulo, os mandatos de Giordano (MDB) e Mara Gabrilli (PSD) se encerram. Uma das vagas deve ser disputada pelo atual secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), aliado de Bolsonaro. A outra tende a ficar entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSOL).
Segundo a Real Time Big Data, se ambos entrarem na disputa, Derrite ficaria de fora: Boulos aparece com 18%, Haddad com 17% e Derrite com 16%.
O levantamento também indica espaço para novas figuras no campo bolsonarista. Em Brasília, por exemplo, Michelle Bolsonaro e o governador Ibaneis Rocha (MDB) despontam como favoritos para suceder Leila Barros (PDT) e Izalci Lucas (PL). Ibaneis, que já defendeu anistia aos presos de 8 de janeiro, cogita uma “dobradinha” com a ex-primeira-dama.
Estados com potencial de crescimento bolsonarista
O Acre tende a reeleger o ex-governador Márcio Bittar (PL), líder nas sondagens. A segunda vaga, hoje ocupada por Sérgio Petecão (PSD), pode ser conquistada por Gladson Cameli (PP).
Em Alagoas, o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB) lidera a disputa, mas candidatos da oposição aparecem logo atrás, como Davi Davino Filho (Republicanos) e Alfredo Gaspar (União), relator da CPMI do INSS.
No Mato Grosso do Sul, Nelson Trad (PSD) deve se reeleger e pode ter como colega de bancada o ex-governador Reinaldo Azambuja (PL), que lidera os cenários testados.
No Paraná, a direita também aparece fortalecida, com Ratinho Júnior (PSD), Cristina Graeml (Podemos) e Filipe Barros (PL) entre os favoritos. Em Rondônia, o coronel Marcos Rocha (União) e Silvia Cristina (PP) são os nomes mais citados.
Por fim, no Tocantins, Janad Valcari (PL) e o ex-governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) aparecem como principais candidatos para substituir Irajá (PSD), filho da ex-ministra Kátia Abreu.
Pesquisas e metodologia
As pesquisas da Real Time Big Data foram realizadas entre agosto e o fim de outubro de 2025. O número de entrevistados variou de 800 a 1.500, dependendo do estado, com margem de erro de três pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%.
O levantamento considera “neutros” os estados em que a correlação entre governo e oposição tende a permanecer estável.
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