28 Outubro 2025
Enquanto espera na fila para entrar na Basílica de São Francisco, Dominique Zinato está com o nariz colado ao smartphone. A ideia de que em poucos meses o corpo de São Francisco poderá ser visto parece-lhe uma ótima ideia: "Principalmente para nós, jovens, acho que ver é importante", afirma a brasileira de 17 anos, levantando a cabeça. "As pessoas querem ver". Ela está aqui agora, mas logo em seguida irá ver o corpo de Carlo Acutis, preservado em um relicário na igreja de Santa Maria Maggiore. "Para mim, é mais importante que São Francisco", confessa, "eu o sinto mais, desperta mais emoção".
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 27-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Embora tenha sido canonizado recentemente, o santo jovem está competindo em popularidade até mesmo na casa de Francisco. "Cinquenta por cento", sentencia o taxista, "50% dos visitantes vêm para ver São Francisco e 50% vêm para ver Carlo Acutis". Se não fosse blasfêmia, poderia quase ser considerado um clássico de futebol sagrado que já começa no balcão do café da estação: de um lado, os mostaccioli, os biscoitos de São Francisco, do outro, o "Dolce Carlo", à base de mingau (Acutis nasceu em Londres) e canela.
A exposição de seus restos mortais nesta próxima Quaresma, no entanto, provavelmente fará o poverello de Assis triunfar.
Será a primeira vez na história que seu corpo será exposto em público. O anúncio foi feito há menos de um mês, para a festa de São Francisco em 4 de outubro, mas 50 mil visitantes já se inscreveram. Não que o santo de Assis precise de publicidade, especialmente este ano: "Entre o Jubileu, 4 de outubro, e marcha pela paz, sempre há muita gente", conta Luca Salari, voluntário na basílica.
Além disso, embora no passado houvesse temporadas altas e baixas, "desde a pandemia, tem sido um fluxo contínuo", observa Valerio Febbraro, zelador há 25 anos, que espera uma casa lotada para a exibição do corpo, mesmo em pleno inverno. Um destino paradoxal para uma figura que permaneceu oculta por quase seis séculos. De fato, até 1818, ninguém sabia nem mesmo onde estava o corpo do santo. "Francisco era um fenômeno, e os frades tinham verdadeiro terror de que fosse roubado", explica Frei Giulio Cesareo, diretor do escritório de comunicações da basílica. Ele morreu em 1226 e, quatro anos depois, foi transferido para a nova basílica. As crônicas relatam que houve uma tremenda confusão, as pessoas se jogando nos carregadores tentando agarrar as relíquias, o crânio foi esmagado por uma pedra usada como travesseiro. Os frades o enterraram sob o altar-mor, mas não revelaram o local exato. Ele foi exumado pela primeira vez em 1818, após dias de procura, e novamente em 1978 e 2015, mas até agora só foi exposto à veneração dos frades.
Agora a virada. Para o 800º. aniversário de sua morte, seus restos mortais — uma pequena pilha de ossos, mas uma figura humana reconhecível — estarão expostos de 22 de fevereiro a 22 de março do próximo ano. "É realmente pequeno, como ele se define", explica Frei Marco Moroni, zelador do Sagrado Convento, "uma pequenez que representa a aniquilação de si mesmo para se doar".
Talvez seja porque vivemos na era da imagem e das mídias sociais, talvez seja porque, desde o século XX, a Igreja multiplicou as exibições de corpos de santos, do Padre Pio a Carlo Acutis. Certamente, nestes últimos anos, muitos gostariam de se apropriar de São Francisco. A começar por Giorgia Meloni, que conta com as celebrações do próximo ano para reanimar o mito daquele que Gabriele D'Annunzio certa vez definiu como "o mais santo dos italianos e o mais italiano dos santos". "A franciscofilia", comenta Daniele Menozzi, historiador do cristianismo, "permeou toda a época contemporânea, tornando o santo de Assis um ícone planetário cuja atual renacionalização empobrece, na obtusidade do soberanismo".
O governo decidiu proclamar o dia 4 de outubro feriado nacional, ignorando que Santa Catarina já constava na data: "Parece-me que o pastiche jurídico é a expressão da falta de informação histórica adequada com a qual a operação foi realizada", comenta o professor emérito da Escola Normal Superior de Pisa. "O problema é, afinal, geral: toda vez que o passado é destacado, as intervenções desse governo revelam aproximação, superficialidade e um desejo de apropriação para fins propagandísticos".
Para o professor Menozzi, "o que influenciou a decisão foi a intersecção dos acontecimentos atuais, a aproximação do oitavo centenário de sua morte, com uma vaga sedimentação memorial que lembrava a nacionalização da figura de Francisco realizada pelo regime fascista e a pressão do nacional-catolicismo para tornar o 4 de outubro um feriado nacional". Além disso, Meloni pretende "ampliar o apoio ao governo dos setores conservadores do mundo católico", por um lado, e, por outro, lança uma piscadela aos nostálgicos da "continuidade com o regime". A presença da primeira-ministra aqui em Assis, no último 4 de outubro, não agradou a muitos que agora fazem fila para entrar na basílica. "É só política", diz Mimmo Milone com convicção, "uma forma de ganhar publicidade. São Francisco não precisa disso; na verdade, talvez se ofenda".
Em relação à exibição de seus ossos, os sentimentos são mistos. Lorena Canales, mexicana, está entusiasmada: "Ver seus ossos pode aumentar minha fé", explica. Para Riccardo Lozzi, 17, um não crente, "o que importa em Francisco é seu exemplo espiritual". O risco, diz Giovanna Bellusci, é que apareçam pessoas "com uma curiosidade mórbida. Lembro-me de quando fui ver o Padre Pio, havia pessoas que diziam: 'Olha a pele dele!' Se ele fosse meu avô, isso me incomodaria".
São Francisco, afirma Mimmo Milone, "deve ser exposto no coração".
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