28 Outubro 2025
Ninguém excluído. "É um primeiro passo, não o último. Para a Igreja italiana, a inclusão não é um slogan a ser exibido, mas um processo de conversão pastoral, cultural e espiritual que, por meio do Evangelho, reconhece em cada pessoa, sem exceção, a dignidade irredutível de filho de Deus", explica Dom Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que no mês passado subiu ao púlpito no Jubileu LGBTQ+. Ele também é pioneiro de unidades de cuidados paliativos para doentes terminais.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 27-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
O que o Papa lhe indicou?
"Quando Leão XIV me disse com simplicidade e gentileza: 'Vá celebrar com eles', ele sintetizou o horizonte de uma Igreja que não se retrai diante de suas periferias existenciais, mas entra nelas com amor. Não um gesto político, mas de justiça restaurativa. A necessidade de restituir a dignidade àqueles que a viram negada tanto pelas leis quanto pelo silêncio cúmplice de quem deveria ter intercedido."
Por que a assembleia sinodal pede à CEI apoio para grupos antidiscriminação?
O caminho sinodal nos desafia a não nos afastarmos de toda forma de discriminação. Esse é um sinal importante, não tanto em termos de militância política, mas sim em termos de fidelidade evangélica e coerência humana. A identidade da Igreja se realiza na saída, no encontro, na proximidade que não julga, mas acompanha.
O objetivo é a inclusão?
A orientação expressa no documento não é uma ‘rendição’ às instâncias da cultura contemporânea, mas um ato de discernimento pastoral que reafirma a centralidade da pessoa na missão eclesial. A Igreja não aprova nem condena em abstrato: ‘faz companhia’ às pessoas, na certeza de que a verdade se comunica através da relação, não da distância. Apoiar quem se sente machucado, marginalizado e rejeitado não é um compromisso ético, mas fidelidade ao Evangelho.
Quais são os efeitos?
O passo em direção à inclusão, em sentido cristão, não pode ser reduzido a um gesto simbólico ou a um ato de solidariedade civil. É um profundo caminho espiritual e cultural, que exige passar de uma pastoral ‘para’ pessoas LGBTQ+ para uma pastoral ‘com’ elas: participada, dialógica, sinodal. Não se trata de ‘abrir espaço’, mas de reconhecer que o espaço já existe. A Igreja é a casa de todos, não a fortaleza de poucos.
Haverá resistências?
Apoiar aqueles que sofrem exclusão não significa renunciar à verdade da fé, mas sim encarná-la na caridade. A verdade sem amor torna-se ideologia, o amor sem verdade torna-se sentimentalismo. A síntese é Cristo, que nunca sacrificou a verdade pela misericórdia, nem a misericórdia pela verdade. A tarefa da Igreja é anunciar o Evangelho construindo pontes de verdade e misericórdia enquanto o mundo ergue muros de medo e julgamento. A Assembleia Sinodal, embora com as devidas distinções de método e contexto, está em continuidade com a experiência jubilar.
Qual foi o impacto do Jubileu?
A peregrinação e a passagem pela Porta Santa são sinais eloquentes do desejo de muitos fiéis de se sentirem parte viva do corpo eclesial. Não espectadores à margem, mas protagonistas de uma Igreja em saída. O documento da Assembleia Sinodal capta esse eco eclesial, orientando-se não no plano reivindicativo ou identitário, mas naquele evangélico: escuta, companhia, corresponsabilidade. Como ensina o Concílio, a Igreja é ‘povo de Deus’, comunidade de irmãos e irmãs chamados juntos à santidade, não hierarquia entre dignos e indignos. A Igreja italiana pretende continuar em frente. Não como uma instituição que ‘concede espaço’ por benevolência, mas como mãe que reconhece, acolhe e acompanha os seus filhos no caminho da fé. Ninguém lhe é estranho. Surge o desejo de uma Igreja que não exclui por medo, mas caminha junta na verdade e na misericórdia. Não se trata de baixar o padrão da verdade, mas de elevar aquele da proximidade. A verdade do Evangelho não é uma fronteira que separa, mas uma luz que ilumina o caminho comum. Hoje, as portas estão mais abertas porque escolhemos conscientemente não deixar ninguém fora do perímetro dos batizados do povo de Deus, transformar a distância em encontro, a indiferença em escuta, o medo em acolhimento.
O senhor prevê recuos?
Essas portas devem ser deixadas abertas, não por conveniência cultural. Elas devem ser guardadas pela coragem, por uma fé que não transige com a verdade e por uma misericórdia que busca o bem integral da pessoa. A Igreja deve se tornar próxima: não para julgar, mas para cuidar; não para possuir, mas para libertar de verdade.
O que acontecerá com o "fim da vida"?
É um momento decisivo para a reflexão ética e pastoral sobre o fim da vida. Com uma consciência necessária: uma norma nacional compartilhada, capaz de proteger a dignidade inalienável de cada pessoa, é melhor do que decisões fragmentárias e contraditórias das regiões do país separadamente. É mais sábio e justo trabalhar hoje por uma lei equilibrada sobre o fim da vida, fruto de diálogo e discernimento, do que nos depararmos amanhã com uma lei que efetivamente abre para a eutanásia. Quando a política escuta, a sociedade respira; quando se delega a tarefa de legislar à dor, acaba se transformando a compaixão em concessão e a fragilidade em defeito. A morte é um evento humano que chama a comunidade a uma responsabilidade coletiva. Uma lei é uma tentativa de criar uma síntese como povo para honrar a vida que está se extinguindo. Uma legislação para os cuidados paliativos diz sim à vida na forma mais elevada possível, não diz não à morte natural e inevitável.
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