17 Outubro 2025
O limite seguro foi excedido há mais de três décadas, mas a quantidade do principal gás causador das mudanças climáticas liberado pela queima de combustíveis fósseis aumentou desde 2011.
A reportagem é de Raúl Rejón e Raúl Sánchez, publicada por El Diario, 16-10-2025.
O efeito estufa não é causado apenas pelo CO2, mas é o principal componente da cúpula gasosa que retém a radiação solar e aquece o planeta. É em grande parte responsável pelas mudanças climáticas, causando chuvas mais violentas, secas mais frequentes e condições perfeitas para ondas de incêndios florestais incontroláveis.
Portanto, quanto mais CO2 (juntamente com outros gases como o metano) houver na atmosfera, mais calor, mais perturbações e maiores serão os impactos. É física. A concentração desse gás é o indicador crucial da crise climática. No ano passado, essa concentração aumentou mais do que nunca, desde que passou a ser medida anualmente. E o nível global atingiu seu nível mais alto desde o início da humanidade: 423,9 partes por milhão (ppm). Uma vez acumulado, permanece por entre 300 e 1.000 anos: "A humanidade altera a atmosfera com suas emissões, mas essas mudanças persistem em uma escala de tempo muito maior do que muitas vidas humanas", de acordo com esta explicação científica da Nasa.
423,9 ppm é algo que não acontece na Terra há cerca de um milhão de anos, enfatizam os climatologistas. Os primeiros humanos modernos surgiram no planeta há 300.000 anos. 423,9 ppm representa 120% do suposto nível máximo de segurança. Esse limite teórico foi estabelecido há quase duas décadas em 350 ppm.
O climatologista da Nasa James Hansen publicou um estudo em 2008 concluindo que "se esse limite for excedido em um curto espaço de tempo, efeitos catastróficos irreversíveis poderão ocorrer". Quando o artigo foi publicado, a concentração já estava em 385 ppm e continuou a aumentar desde então.
Hansen explicou desta forma: “Se a humanidade quiser preservar um planeta semelhante àquele que permitiu o desenvolvimento da civilização e ao qual a vida se adaptou, as evidências paleoclimáticas indicam que o CO2 deve ser reduzido a um nível máximo de 350 partes por milhão.”
O CO2 é responsável por 66% do calor extra que a Terra acumula — o que os cientistas chamam de forçamento radiativo, a diferença entre a radiação solar absorvida e a que escapa para o espaço. O metano vem em seguida com 16%, os CFCs com 9% e o óxido nitroso com 6%.

Gráfico do aumento da concentração de CO2 em 2024 (Fonte: Global Atmosphere Watch - GAW)
A principal fonte de CO2 injetado na atmosfera tem sido a queima intensiva de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás. À medida que seu uso se acelerou, as concentrações dispararam. "Enquanto na década de 1960 o aumento médio anual era de 0,8 ppm, entre 2011 e 2020 foi de 2,3 ppm", revela a Organização Meteorológica Mundial em seu último Boletim de Gases de Efeito Estufa.
No entanto, os maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo (dos Estados Unidos à Rússia, incluindo Arábia Saudita, Brasil, Índia e quase vinte outros países) planejam produzir mais que o dobro de petróleo, carvão e gás até 2030, o que limitaria o aquecimento global a 1,5°C até o final deste século.
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