08 Outubro 2025
O Vaticano confirmou oficialmente nesta terça-feira a primeira viagem papal do Papa Leão à Turquia e ao Líbano no final de novembro e início de dezembro, uma viagem que pode ter implicações significativas para sua agenda em Gaza.
A reportagem é de Elise Ann Allen, publicada por Crux Now, 07-10-2025.
Em uma declaração de 7 de outubro, o Vaticano anunciou que o Papa Leão XIV fará uma Viagem Apostólica à Turquia de 27 a 30 de novembro, que incluirá uma peregrinação a İznik, anteriormente conhecida como Niceia, para comemorar o 1.700º aniversário do Primeiro Concílio de Niceia.
Ele então viajará para o Líbano de 30 de novembro a 2 de dezembro, embora não tenham sido divulgados detalhes sobre as cidades que visitará. O itinerário completo da viagem, informou o Vaticano, será publicado "oportunamente".
Originalmente programada para maio como uma viagem a ser realizada pelo Papa Francisco, a visita à Turquia para o 1.700º aniversário do Primeiro Concílio de Niceia foi adiada devido à morte de Francisco e ao conclave que elegeu seu sucessor, o Papa Leão.
Nos primeiros séculos, a comunidade cristã estava profundamente dividida em torno de um debate sobre se Jesus poderia ser plenamente humano e plenamente divino. A questão foi resolvida durante o Concílio de Niceia, realizado na atual Iznik, na Turquia, em 325.
Francisco havia planejado ir à Turquia para celebrar o aniversário do concílio ao lado de seu amigo de longa data e interlocutor, o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, líder espiritual da Igreja Ortodoxa Oriental.
Em uma entrevista exclusiva ao Crux para sua nova biografia, Leão XIV: ciudadano del mundo, misionero del siglo XXI, o Papa Leão confirmou seus planos de visitar a Turquia, mas naquele momento o Líbano não estava na mesa.
Ele falou sobre a importância que a viagem teria para as relações ecumênicas da Igreja, dizendo: “Uma das feridas mais profundas na vida da Igreja hoje é o fato de que, como cristãos, estamos divididos”.
“Falo sobre construir pontes; às vezes é mais fácil construir pontes com pessoas que não são cristãs do que com nossos vizinhos cristãos. Há coisas que nos separam, há coisas que nos impedem de estarmos todos unidos em comunhão autêntica naquilo em que acreditamos”, disse o papa.
Neste espírito, a ênfase do Concílio Vaticano II no ecumenismo “deve ser um dos objetivos da Igreja hoje”.
Leão disse que convidou não apenas o Patriarca Bartolomeu para participar da viagem, mas também os líderes de diversas comunidades e denominações cristãs, “porque Niceia é um Credo, é um dos momentos em que, antes que as diferentes divisões ocorressem, todos nós ainda podemos encontrar uma profissão de fé comum”.
O papa disse que, neste sentido, o ecumenismo e a promoção da unidade entre os cristãos “são uma prioridade”.
Sua visita à Turquia e ao Líbano, no entanto, também será sua primeira visita oficial de Estado como líder mundial e, portanto, também terá peso significativo em termos de sua agenda geopolítica no Oriente Médio, especialmente no que diz respeito ao conflito em andamento em Gaza.
Desde sua eleição ao papado, o Papa Leão tem pedido paz em Gaza em quase todas as audiências e discursos públicos, apelando pela libertação de reféns israelenses, pelo acesso à ajuda humanitária e pelo fim das hostilidades.
A guerra ainda corre o risco de se transformar em um conflito regional de grande magnitude, com o envolvimento contínuo de terceiros, incluindo as forças do Irã e do Hezbollah no Líbano.
Em sua entrevista com Elise Ann Allen, do Crux, Leão não chegou a chamar o conflito de dois anos de genocídio, mas observou que muitos na comunidade internacional, incluindo várias organizações de direitos humanos, já o fizeram.
Leão, em sua entrevista com Allen, lamentou que, apesar dos esforços feitos na negociação e nas conversas sobre cessar-fogo, "não houve uma resposta clara em termos de encontrar maneiras eficazes de aliviar o sofrimento do povo, do povo inocente em Gaza, e isso é obviamente uma grande preocupação".
“Vai ser muito difícil porque algumas pessoas, especialmente crianças, quando passam não apenas por privação, mas também por fome, só para receber comida o problema não é resolvido imediatamente”, disse ele, observando que as pessoas que sofrem no local vão precisar de “muita ajuda”, incluindo assistência médica e assistência básica.
Ele observou: “A palavra genocídio está sendo usada cada vez mais”, mas disse que a Santa Sé ainda não está pronta para fazer uma declaração oficial a esse respeito.
Ainda não se sabe se essa posição mudará antes ou durante sua visita à Turquia e ao Líbano, mas qualquer mensagem que ele transmitir desses locais — especialmente dada a influência que a Turquia exerce nas negociações em andamento — terá fortes repercussões em toda a comunidade internacional.
"É tão horrível ver as imagens que vemos na televisão. Espero que algo mude isso. Espero que não fiquemos insensíveis", disse o papa em sua entrevista com Allen.
Ele acrescentou: "Acredito que, certamente, nós, seres humanos, e como resposta cristã, não podemos ficar insensíveis e não podemos ignorar isso. De alguma forma, temos que continuar a pressionar, a tentar fazer uma mudança."
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