07 Outubro 2025
"Resta saber se essas iniciativas levarão a uma paz autêntica e duradoura ou se simplesmente marcarão uma pausa em um ciclo de conflito", escreve Majd al-Assar, habitante de gaza, publicada por La Stampa, 06-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Em uma reviravolta surpreendente, o Hamas expressou sua aprovação ao plano de paz para Gaza proposto por Trump. Em princípio, o Hamas concordou em libertar todos os reféns israelenses – vivos e mortos – em uma única fase e em entregar a administração de Gaza a uma autoridade palestina formada por tecnocratas independentes com base no consenso nacional. Por um lado, expressou reservas quanto algumas cláusulas relativas ao futuro político de Gaza de longo prazo e à questão palestina em sentido mais amplo, a organização islamista também enfatizou que qualquer arranjo para o futuro deverá emergir de uma visão nacional palestina única, na qual o próprio movimento desempenhará um papel de responsabilidade.
O presidente dos EUA, Donald Trump, saudou favoravelmente essas posições, definindo-as "um passo à frente em direção a uma paz duradoura" e solicitou Israel a interromper imediatamente os bombardeios em Gaza para garantir a segurança dos reféns e sua libertação imediata.
A opinião pública na Faixa parece profundamente dividida em relação ao plano de Trump. Alguns o consideram cheio de falhas, embora menos negativo do que uma guerra sem fim. Outros, no entanto, argumentam que ele não oferece garantias e representa uma ameaça direta à essência da causa palestina.
Musab Al-Assar, um médico de 26 anos da Cidade de Gaza, considera o plano de paz "desprovido de qualquer garantia real", explicando que "Israel poderia perfeitamente retomar a guerra após ter recuperado os reféns. O que realmente esperamos", explica, "é um cessar-fogo permanente, sem possibilidade de retorno dos combates. A maioria das pessoas aqui quer simplesmente permanecer em sua terra e reconstruir o que a guerra destruiu", conclui. "Os combates só cessaram devido às pressões externas sobre Israel."
Karim Joudeh, 30 anos, diretor da filial de Gaza da Agora, uma organização sediada em Washington que documenta as violações de direitos humanos no conflito israelense-palestino, explica ao La Stampa que "se a primeira fase do acordo se concretizar, a guerra perderá boa parte de seu significado e de suas finalidades". "A questão da retirada israelense permanecerá", acrescenta. "Israel já alcançou a maioria de seus objetivos, e é por isso que os combates se interromperam", continua. “Muitos deixarão Gaza, mas muitos outros ficarão. Trump parece agir de forma séria. Ele insistirá em implementar um cessar-fogo de acordo com seu plano, e Israel provavelmente se alinhará, pois seu roteiro substitui a proposta de criação do Estado da Palestina apresentada às Nações Unidas na semana passada”.
Younes Al-Shtini, professor da UNRWA, acredita que o sucesso do plano depende da possibilidade de recomeçar a vida em Gaza após os combates. "Muitas pessoas aguardarão para ver o que acontece. Se a reconstrução começar, se a vida recomeçar, as pessoas ficarão. Ninguém quer abandonar sua casa e sua terra a menos que seja obrigado pela força. Se, ao contrário, Gaza não retomar a vida como era no passado, muitos irão embora, porque, do jeito que está hoje, esta terra não é mais habitável." "Há muito ceticismo", conclui ele, "quanto à possibilidade de o Hamas entregar as armas. Enquanto sua ideia de resistência prevalecer, esta terra não deixará de ser dilacerada pela guerra."
Yousef, 20 anos, vendedor ambulante de cigarros, sente-se profundamente desiludido. "Perdi a fé nas negociações e naqueles que falam em nome do nosso povo. Infelizmente, tenho a sensação de que o que está acontecendo agora não é o fim da guerra."
À medida que a poeira começa a baixar, a atividade diplomática volta a acelerar. Uma delegação de líderes do Hamas chegou ao Cairo para discutir a concretização do plano de paz de Trump, acompanhada pelo enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e pelo conselheiro sênior Jared Kushner, junto com os mediadores do Catar e da Turquia. As negociações, descritas pelas autoridades como "sérias e intensas", visam avançar o roteiro de paz do presidente Trump e analisar os vários mecanismos para a reconstrução, a governança e a estabilidade de longo prazo para Gaza.
Resta saber se essas iniciativas levarão a uma paz autêntica e duradoura ou se simplesmente marcarão uma pausa em um ciclo de conflito. Em Gaza, muitos nutrem esperanças cautelosas ligadas à questão que afligem gerações inteiras: poderemos algum dia viver em paz?
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