02 Agosto 2025
“Anexação” é a palavra-chave dos últimos dias. Uma ameaça que paira sobre Gaza e a Cisjordânia, e apesar das tentativas de esconder os planos, após os anúncios da França e da Grã‑Bretanha, de diferentes formas prontas a reconhecer o Estado da Palestina, agora é a opção favorita do governo israelense. Após uma ausência de três meses, o enviado de Trump, o empreendedor imobiliário Steve Witkoff, é esperado em Tel Aviv. O objetivo da visita, segundo fontes da Casa Branca, é promover esforços humanitários pelos moradores da Faixa de Gaza. Witkoff deveria viajar ao Oriente Médio na semana passada para conversas sobre os reféns, mas cancelou a viagem devido ao fracasso das negociações.
A reportagem é de Nello Scavo, repórter internacional, publicada por Avvenire, 31-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas últimas semanas, Trump não escondeu sua irritação pelo comportamento do primeiro-ministro Netanyahu, que até agora sempre saiu vitorioso dos confrontos com a diplomacia estadunidense, primeiro aquela de Biden, agora a de Trump. E Tel Aviv está agora prestes a anexar partes de Gaza para aumentar a pressão sobre o grupo militante Hamas, de acordo com rumores que circulam entre membros do governo. No meio, entretanto, está o destino dos reféns. Os extremistas armados não têm intenção de entregar suas armas, nem de libertar os 51 israelenses (cerca de vinte dos quais ainda estão vivos), na esperança de manter vivas suas ambições na Faixa.
O governo de Tel Aviv deixou vazar sua intenção de renunciar à libertação dos 51 restantes, dos 256 capturados em 7 de outubro de 2023, durante o pior massacre visto em décadas. De reféns, eles se tornariam "prisioneiros de guerra", e sua eventual libertação seria adiada até o fim do conflito. Isso soa como música para os ouvidos da extrema direita, que nunca escondeu seu desejo de sacrificar os reféns para derrotar o Hamas e retomar o controle total da Faixa de Gaza. Um objetivo que atualmente está distante, considerando que a própria inteligência israelense estima que o grupo armado fundamentalista e as facções aliadas ainda poderiam contar com pelo menos 20 mil combatentes.
A situação na Faixa continua desesperadora, com mais de 20 mortos ontem, incluindo o fotojornalista palestino Ibrahim Mahmoud Hajja. E embora as entregas humanitárias enfrentem obstáculos, nenhum foi encontrado até ontem à noite para o envio das mil famílias de ultranacionalistas com destino a Gaza, onde esperam entrar com a permissão do Ministro da Defesa, Katz, para realizar uma inspeção inicial em vista da construção de colônias de ocupação na Faixa. Elas pertencem à “Nachala”, uma organização que promove a ocupação ilegal de territórios palestinos. Não se trata de franjas minoritárias. Ontem, seis ministros e 16 parlamentares solicitaram ao Ministro Israel Katz a aprovação de uma missão de reconhecimento. Katz não respondeu ao longo do dia. “O plano é promover a ideia de assentamentos em Gaza. Sionismo, assentamento, segurança”, disse Daniella Weiss, ativista e veterana dos assentamentos.
Cada vez mais isolado, Israel não recua, mas também cresce a pressão interna contra o governo de Netanyahu. “A comunidade internacional deve impor sanções duríssimas a Israel até que acabe com a campanha brutal e implemente o cessar‑fogo permanente” em Gaza. É o que afirma um apelo publicado no Guardian por 31 personalidades israelenses, entre as quais acadêmicos, intelectuais, artistas, figuras políticas e públicas, como o ex‑procurador‑geral Michael Ben‑Yair e o ex‑presidente do Knesset, Avraham Burg.
São palavras que pesam, visto que a indignação também cresce pelo assassinato de Awdah Hathaleen, ativista e jornalista palestino que participou do longa‑metragem vencedor do Oscar. Seu assassino foi colocado em prisão domiciliar enquanto se aguarda uma investigação, pois, segundo fontes israelenses, ele teria se defendido de uma chuva de pedras de ativistas palestinos enquanto tentava destruir propriedades palestinas com sua escavadeira. Um benefício, o da prisão domiciliar, que os noticiários não mencionam quando se trata de episódios com os papéis invertidos.
Enquanto Yinon Levy, já incluído na lista de sanções dos EUA pelo presidente Joe Biden e posteriormente removido por Donald Trump, aguarda os desdobramentos em sua casa de colono, oito palestinos foram presos por supostamente “provocar” a resposta armada de Levy.
Segundo a polícia, os palestinos foram presos e levados para a prisão após um “incidente violento em que palestinos atiraram pedras em veículos civis envolvidos em trabalhos legais na área”, localizada na Cisjordânia ocupada, perto da aldeia palestina de Umm al‑Kheir, no sul da Cisjordânia. Eles são acusados de “homicídio culposo e uso ilegal de arma de fogo”. Na realidade, as imagens mostram Levy estendendo o braço e apontando para o corpo de Odeh Hadalin, e em seguida atirar deliberadamente. E ontem, durante o funeral do jovem, forças israelenses intervieram para interromper a cerimônia, dispersando os presentes após declarar a área uma “zona militar fechada”.