31 Julho 2025
Para Olivier Roy, o recente anúncio de Emmanuel Macron sobre o reconhecimento do Estado palestino pela França é uma manobra puramente simbólica. "Não é um ato diplomático que terá efeitos concretos", afirma o islamólogo francês, professor do Instituto Universitário Europeu de Florença, em vista da conferência das Nações Unidas sobre a solução de dois Estados, que começa hoje em Nova York. "O presidente francês quer forçar todos a se posicionarem", enfatiza o especialista.
Professor, Macron, no entanto, parece não ter conseguido convencer outros europeus a seguirem seu exemplo.
"Por enquanto, está sozinho nessa questão. Estamos em uma dimensão puramente macroniana, onde se ocupa o espaço da palavra pois não se consegue fazer o mesmo naquele da política. É a diplomacia do verbo."
A entrevista é de Danilo Ceccarelli, publicada por La Stampa, 28-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Qual o papel que pode desempenhar a Arábia Saudita, que copreside a conferência de Nova York com a França?
A Arábia Saudita está farta da questão palestina, assim como os outros Estados árabes. É claro que Riad gostaria de resolver a questão humanitária, mas no plano político certamente não lutará pela solução de dois Estados. Além disso, muitos países da região não querem tal eventualidade.
Por quê?
Há desconfiança em relação à criação de uma nação que, na visão deles, poderia se alinhar muito à esquerda ou se tornar um Estado islâmico. Os países árabes consideram que Benjamin Netanyahu está gerindo muito mal essa situação, porque não manteve a ilusão da possibilidade de criar um Estado palestino, mas ninguém quer entrar em conflito com seu governo. Quanto mais distante se estiver dos palestinos, mais se pode defende-los: essa é a regra.
Giorgia Meloni declarou que o reconhecimento de um Estado palestino poderia ser "contraproducente".
Não creio que o método de Macron possa ser definido dessa forma, porque não vejo como poderia piorar uma situação já tão grave. O problema, porém, é que nada acontecerá. Permanecemos no âmbito das declarações, sem fazer mais nada. Seria necessária uma diplomacia muito mais ativa e empenhada. Este é o problema da Europa: não consegue encontrar um acordo interno capaz de ir além das questões de princípio.
Existe também um elemento cultural na posição italiana?
Os governos de direita, como o italiano, caracterizam-se por um trumpismo pró-israelense, antiesquerda, antiwoke e islamofóbico. Há uma confusão permanente entre palestinos, Hamas, jihadismo e terrorismo que impede qualquer abordagem realmente política ao conflito israelense-palestino. Mas as coisas são muito mais complicadas. O Hamas, por exemplo, nunca realizou atentados na Europa e nunca se aliou à Al-Qaeda ou ao ISIS.
Que lições devem ser aprendidas pelo recente fracasso das negociações?
Trump reconhece negociações com o Hamas, que é considerado por toda a política israelense um movimento terrorista. É um ponto interessante, porque normalmente costuma-se dizer que não se deve negociar com os terroristas. Por sua vez, o movimento está tentando assumir uma posição de força. O objetivo da operação de 7 de outubro de 2023 era capturar o maior número possível de reféns israelenses para poder depois negociar. O Hamas não entendeu que aquele ataque só poderia levar a uma brutal intervenção militar de Israel em Gaza. A resposta israelense, no entanto, não funcionou, e hoje nos encontramos em uma espécie de paradoxo: o Hamas está resistindo e dialogando com os estadunidenses, apresentando-se como um interlocutor político.
O que poderia pôr um fim ao governo do Hamas em Gaza?
A opinião pública da população. Para chegar a uma solução política, seria necessário o surgimento de figuras reconhecidas, de forma a abrir caminho para uma terceira voz capaz de se fazer ouvir em questões como direitos humanos e política. Mas Israel não quer isso, então está entregando o controle da região à máfias locais. Seu maior receio é que possa surgir um movimento pacífico, como o de Martin Luther King.
Qual é o objetivo de Israel?
"O governo israelense quer a expulsão do povo palestino e o 7 de outubro dá a eles o pretexto para finalizar esse projeto em Gaza e na Cisjordânia, onde continuam com a ocupação. Para a direita israelense, é, portanto, uma oportunidade de ouro para finalmente resolver a questão como um todo, livrando-se do povo palestino. Por isso não têm nenhuma intenção de negociar."