26º domingo do tempo comum – Ano C – Um convite: superar a indiferença com a solidariedade concreta

26 Setembro 2025

A parábola do “Rico e do Pobre Lázaro” é um convite forte à solidariedade concreta, pois o julgamento não será sobre o quanto acumulamos, mas sobre o quanto fomos capazes de amar e partilhar. Portanto, Jesus ao contar essa parábola está se preocupando com a salvação do rico, pois ela estimula nossa conversão.

A reflexão é de Sonia Cosentino, teóloga leiga. Ela possui graduação em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio (2005) e mestrado tem teologia pela mesma instituição (2008).

Leituras do dia

1ª leitura: Am 6,1a.4-7
Salmo: Sl 145 (146), 7.8-9a.9bc-10 (R.1)
2ª leitura: 1Tm 6,11-16
Evangelho: Lc 16,19-31

Eis a reflexão.

Celebramos hoje o 26º Domingo do Tempo Comum, no qual nos encontramos com a famosa parábola do “Rico e do Pobre Lázaro” (Lc 16,19-31). Nela nos deparamos com um trágico contraste entre seus personagens. O rico, não tem nome, pois não tem identidade. Ele vive na abundância, no luxo, na ostentação. Sua vida é uma festa contínua. Ele tem tudo, não precisa de nenhuma ajuda de Deus. Sente-se seguro, porque a riqueza, pode levar a uma falsa segurança, e com muita constância isto acontece. Por isso, ele vive na inconsciência, não sendo capaz de ver o pobre indigente que está à sua porta. Esse personagem se parece com muitas pessoas privilegiadas de nossa sociedade que vivem num eterno banquete, e totalmente incapazes de ter empatia com o pobre. Entretanto, o pobre Lázaro é um mendigo, coberto de chagas repugnantes e faminto. Busca saciar-se com o que cai da mesa dos ricos. Não possui nada a não ser um nome, “Lázaro”, que significa “Meu Deus é ajuda”. Vive na pobreza total e sua única esperança é Deus. Esse personagem, também, se parece com muitas pessoas de nossa sociedade que vivem mergulhados na total miséria, e cercado por ricos que são insensíveis a seu sofrimento.

Encontramos na primeira leitura de hoje, retirada do profeta Amós (6, 1a.4-7), a mesma realidade entre os ricos e os pobres. Os oráculos de Amós sobre a classe dominante da Samaria do século VIII a.C pertencem a mais violeta crítica social do mundo antigo. No texto que nos é proposto hoje, vemos a mesma barreira erguida pelos ricos, que vivem cercados de luxo e desperdício. Amós alerta seus ouvintes sobre a falsa segurança dos ricos que não se preocupam com a ruína dos pobres.

A segunda leitura deste domingo é retirada da Primeira Carta de Paulo a Timóteo (6,11-16). Para entendermos sua real mensagem precisamos contextualizar este pequeno trecho da carta. No versículo que o antecede, Paulo diz para Timóteo: “Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desejo alguns se afastam da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos tormentos”. Somente depois destas palavras é que Paulo exorta Timóteo dizendo “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas”. Portanto, Paulo está aconselhando Timóteo a fugir das paixões e tentações, especialmente o amor ao dinheiro.

Como podemos perceber, a realidade dos ricos que colocam sua segurança na riqueza que possuem e se fecham ao sofrimento do pobre perpassa a realidade humana desde tempos remotos. É por isso que Jesus desmascara essa realidade. As classes mais poderosas e os estratos mais miseráveis pertencem à mesma sociedade, entretanto encontram-se separados por uma barreira invisível. Esta barreira é a porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se do pobre.

É importante fazer aqui uma ressalva, para que nós, que ouvimos esta parábola hoje, não caiamos numa armadilha, que é a de acreditar que não somos o rico da parábola, visto que não possuímos seus bens materiais e nem vivemos na fartura desenfreada deste personagem. Todavia, o termo “rico” pode, e na maioria das vezes, se aplica a quase todos nós. Isto porque não existem só as riquezas materiais, há as riquezas emocionais, as intelectuais, as espirituais, as relacionais, as físicas, as habilidades manuais e artísticas, e tantas outras. Com certeza temos muitas destas riquezas.

Outro ponto importante que devemos estar atentos ao refletirmos sobre esta parábola, é o perigo que caímos quando acreditamos que a riqueza que possuímos, a temos por puro mérito nosso. Desta forma passamos a ser o juiz de nosso irmão pobre. Achamos que se ele está naquela situação é porque não foi capaz de lutar para vencer os obstáculos que a vida lhe deu. A partir daí nos tornamos indiferente diante do sofrimento deste.

Portanto, ouçamos essa parábola como se fosse dirigida a cada um de nós, porque na realidade é exatamente este o fascínio da Palavra de Deus.

Continuemos nossa reflexão seguindo o rico e Lázaro, quando os dois morrem. A sorte do dois muda radicalmente. O rico é levado ao Hades ou “reino dos mortos”, e Lázaro é levado ao seio de Abraão. Com imagens populares próprias de seu tempo Jesus nos lembra que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres e sua justiça não segue a lógica humana.

O rico, considerado bem-sucedido, é condenado não porque era rico, mas porque foi indiferente ao sofrimento dos pobres. É interessante percebermos que nunca se menciona que o rico foi julgado como explorador, não se diz que ele é ímpio, ou que oprime sem escrúpulos seus servos. Simplesmente desfrutou da riqueza ignorando o pobre. O fechamento do seu coração foi sua condenação. Entretanto, o pobre, considerado repugnante e desprezado por todos, é salvo, não porque era pobre, mas porque soube esperar em Deus.

A parábola do “Rico e do Pobre Lázaro” é um convite forte à solidariedade concreta, pois o julgamento não será sobre o quanto acumulamos, mas sobre o quanto fomos capazes de amar e partilhar. Portanto, Jesus ao contar essa parábola está se preocupando com a salvação do rico, pois ela estimula nossa conversão.

Inspiradas e inspirados pela parábola do “Rico e do pobre Lázaro”, nós que possuímos muitos tipos de riqueza, possamos nos abrir ao Amor Misericordioso de Deus que nos habita. Que sejamos capazes de acolher esta Graça que nos humaniza, para que nos tornemos sensíveis ao pobre que está sofrendo à nossa porta.

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