25 Setembro 2025
Organizações católicas e outras organizações religiosas enviaram quase 10.000 comentários se opondo à tentativa do governo Trump de revogar a política ambiental fundamental que sustenta as regulamentações federais sobre emissões poluentes que impulsionam as mudanças climáticas e prejudicam a saúde humana.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 23-09-2025.
Os comentários são uma resposta aos esforços da Agência de Proteção Ambiental dos EUA para revogar sua "descoberta de perigo" de 2009, na qual a agência determinou, por meio de revisão científica, que as emissões de gases de efeito estufa que retêm o calor — liberadas principalmente pela queima de carvão, petróleo e gás — representam um perigo para a saúde e o bem-estar públicos.
A descoberta de risco é vista como o eixo legal da capacidade do governo federal de regular as emissões de fontes como veículos e usinas de energia, que estão impulsionando as mudanças climáticas. O administrador da EPA, Lee Zeldin, contestou a descoberta e classificou sua tentativa de reversão como parte do maior esforço de desregulamentação da história dos EUA.
No total, nove organizações religiosas coletaram mais de 9.400 comentários até 19 de setembro em apoio à manutenção da conclusão sobre o risco. Membros da equipe entregaram as caixas de comentários na sede da EPA em Washington, DC, em 17 de setembro. Os católicos foram responsáveis por cerca de 4.400 desses comentários, com um quarto deles enviados por religiosas.
A EPA emitiu a constatação de perigo depois que a Suprema Corte dos EUA, no caso histórico de 2007, Massachusetts v. EPA, decidiu que as emissões de gases de efeito estufa, incluindo dióxido de carbono e metano, são consideradas poluentes atmosféricos pela Lei do Ar Limpo.
A determinação da EPA de que os gases de efeito estufa colocam em risco a saúde pública foi vista como um grande avanço na forma como os EUA — a maior fonte cumulativa de emissões e líder mundial no uso e produção de petróleo e gás — poderiam lidar com as mudanças climáticas em nível federal.
Uma crise de saúde pública e moral
Em 1º de agosto, a EPA, sob o comando do presidente Donald Trump, iniciou o processo de revogação da decisão de risco. Como parte da proposta de regulamentação, também buscava reverter os padrões de poluição para carros e caminhões.
Qualquer nova regra proposta ou revisão regulatória exige um período de comentários públicos como parte do processo. Os comentários públicos sobre a constatação de risco foram encerrados em 22 de setembro.
Os quase 10.000 comentários foram coletados pelo Pacto Católico pelo Clima, Movimento Laudato Si', Rede de Ação Franciscana, Rede de Solidariedade Inaciana, Irmãs da Misericórdia, Maryknoll, o grupo católico de justiça social NETWORK, fundado por irmãs, o grupo climático judaico Dayenu e a Parceria Religiosa Nacional para o Meio Ambiente. Os comentários incluíram quase 4.400 de líderes religiosos negros, que também emitiram uma declaração conjunta se opondo à ação da EPA.
Em uma audiência pública virtual em 22 de agosto, o Arcebispo Thomas Zinkula de Dubuque, Iowa, disse que a proposta de revogação da conclusão sobre o perigo coloca em risco a responsabilidade moral que os humanos têm de proteger a vida, cuidar da criação e defender os mais vulneráveis.
"Padrões rígidos [de poluição] salvam vidas", disse o arcebispo de Iowa. "Eles evitam bilhões de toneladas de poluição climática, reduzem a poluição atmosférica e a fuligem e resultam em menos casos de asma e morte prematura. As famílias economizam milhares de dólares em combustível e custos de saúde. Essas proteções são boas para as pessoas e para a criação de Deus."
"Revogar a descoberta [de perigo] é como descartar os Dez Mandamentos", disse a rabina Jennie Rosenn, fundadora e CEO da Dayenu, em um comunicado. "[Zeldin] não está apenas negando algo que é fundamentalmente verdadeiro sobre o mundo, mas também eliminando o que permite ao nosso governo viver e agir em consonância com nossos valores fundamentais."
Em seu próprio comentário de 15 páginas, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA instou a EPA a abandonar seus planos de revogar a descoberta de perigo, que, segundo ela, "retrocederia qualquer progresso que a nação tenha feito no combate aos efeitos perigosos das mudanças climáticas". A carta, escrita pelo consultor jurídico da conferência, incluindo o conselheiro geral William Quinn, disse que a EPA estava tentando manipular a Lei do Ar Limpo e ignorando evidências científicas sobre os impactos das mudanças climáticas na saúde das pessoas e do planeta.
"Nossas preocupações com a Reconsideração são fundamentadas no compromisso da Igreja Católica com a justiça ambiental e o cuidado com a criação, pois é um componente integral da fé católica", diz a carta dos bispos.
Em sua declaração, os líderes da igreja negra chamaram a mudança climática e a poluição causada pelas emissões de "uma das maiores crises morais e de saúde pública enfrentadas não apenas por nossas comunidades, mas por nosso país".
"O custo desta decisão da EPA será pago em vidas humanas — e os corpos negros arcarão com o peso do fardo", disseram eles, citando dados que mostram que os negros americanos têm maior probabilidade de viver perto de áreas altamente poluídas, como rodovias e instalações industriais.
Evidências além da disputa científica
A descoberta de risco ambiental tem sido alvo de legisladores conservadores e empresas de combustíveis fósseis há muito tempo. Ela sustenta muitos dos outros limites de emissões e poluição que o governo Trump tem buscado eliminar.
Zeldin questionou as mudanças climáticas e a confiabilidade da revisão científica de 2009 da EPA que levou à descoberta do perigo, e sugeriu que novas evidências lançam dúvidas sobre suas conclusões.
Em resposta, as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, que fornecem análises independentes ao governo e aos formuladores de políticas, encomendaram uma nova revisão da ciência e das evidências sobre as mudanças climáticas. O relatório de 137 páginas, divulgado em 17 de setembro, concluiu que a descoberta da EPA de 2009 era precisa e tem sido reforçada desde então.
"As evidências de danos atuais e futuros à saúde e ao bem-estar humanos causados por GEEs causados pelo homem estão além da disputa científica", escreveram os principais órgãos científicos do país no relatório.
"Os Estados Unidos enfrentam um futuro em que os danos induzidos pelo clima continuam a piorar e os extremos de hoje se tornam as normas de amanhã", disseram eles.
Os últimos 10 anos foram os mais quentes já registrados. Eventos climáticos extremos causaram quase US$ 183 bilhões em danos somente em 2024, enquanto as mortes relacionadas ao calor nos EUA dobraram desde 1999.
Nos comentários, muitos católicos enfatizaram as maneiras pelas quais a saúde humana — especialmente entre populações já vulneráveis, como crianças, famílias de baixa renda e idosos — é colocada em risco pelos impactos das mudanças climáticas, como a intensificação do calor extremo e das tempestades e o aumento da exposição a poluentes de incêndios florestais e plantas industriais que queimam combustíveis fósseis.
"Revogar a descoberta de perigo corroeria as proteções de saúde pública que salvam vidas e prepararia o cenário para danos irreversíveis à criação de Deus", disse o irmão franciscano Jacek Orzechowski, diretor associado do Centro Laudato Si' de Ecologia Integral da Universidade de Siena, em Nova York.
"Todas as pessoas que vivem nos EUA são prejudicadas pela poluição do ar e da água. Você pode pensar que revogar a Decisão de Perigo melhorará nossa economia ou nossa sociedade. Mas não vai. … Minha fé católica me obriga a insistir para que você mantenha a Decisão de Perigo em vigor", escreveu Patricia Sills-Trausch, funcionária do Franciscan Renewal Center em Scottsdale, Arizona.
"Faça a coisa certa, Sr. Zeldin. Proteja o ar que todos respiramos. Pense em suas filhas, nos filhos de suas filhas e nos filhos de seus filhos", escreveu Lindsay Nugent, paroquiana da Igreja de São Francisco Xavier em Missoula, Montana.
Uma ameaça atual e contínua
Durante uma das três audiências públicas em agosto, Dan Misleh, diretor executivo da Catholic Climate Covenant, chamou a descoberta de perigo de uma questão moral para a comunidade católica e a base das regulamentações de qualidade do ar que protegem a saúde humana e o planeta.
"O despejo de excesso de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa em nossa atmosfera é, apesar de alguns negarem, uma ameaça atual e contínua ao nosso modo de vida e sujeitará as gerações futuras a um sofrimento incalculável", disse ele em seu depoimento de 21 de agosto.
Em abril, Misleh testemunhou em primeira mão como as emissões de instalações petroquímicas prejudicam as comunidades locais durante uma conferência católica de saúde no "Cancer Alley", no sul da Louisiana, que tem registrado taxas inflacionadas de câncer e complicações congênitas.
"Está claro que se os estados e o governo federal não regulamentarem essas indústrias adequadamente, principalmente no que diz respeito aos impactos à saúde, elas continuarão operando normalmente, o que significa que continuarão poluindo as comunidades vizinhas", disse Misleh em uma entrevista.
"O fato de os EUA recuarem na descoberta desse problema [de perigo] basicamente permite que os poluidores simplesmente se descontrolem", disse ele.
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