24 Setembro 2025
O presidente norte-americano repete mentiras e distorções para atacar a ciência do clima e as fontes renováveis de energia em discurso na ONU.
A reportagem é publicada por Climainfo, 24-09-2025.
Uma sessão de tortura no plenário da Assembleia Geral da ONU. Por quase uma hora, líderes internacionais, diplomatas e jornalistas tiveram que ouvir as lamúrias do presidente dos EUA, Donald Trump, em um discurso recheado de absurdos, exageros, mentiras e desinformações. Claro que, na longa lista de tópicos, Trump gastou alguns minutos espalhando distorções e falsidades contra a ciência do clima e a transição energética para fontes renováveis – segundo ele, preocupações “estúpidas”.
Para Trump, a ciência das mudanças climáticas se trata da “maior fraude já perpetrada no mundo” e ainda brincou, em tom jocoso, que os Estados Unidos são o país “mais quente do mundo” pelo fato de sua economia experimentar uma suposta “era de ouro”.
O site POLITICO destacou os ataques de Trump aos esforços da ONU na agenda climática. Em sua fala, incentivou outros países a comprar energia dos EUA, ao mesmo tempo que alegou que o país não faria “sacrifícios” para afastar o mundo da energia fóssil. Ele chegou a criticar a União Europeia pelos esforços na redução de sua pegada de carbono, alegando que isto afetou a economia da região.
“Temos a maior quantidade de petróleo do mundo, petróleo e gás, e se você adicionar o carvão, temos a maior quantidade [de carvão] do mundo”, disse Trump, em tom celebratório, citado pela Reuters. O presidente dos EUA criticou a preocupação dos países com a transição energética, afirmando que esse esforço seria um “sofrimento” autoinfligido. “[Exigir que] as nações industrializadas bem-sucedidas inflijam sofrimento a si mesmas e perturbem radicalmente suas sociedades deve ser rejeitado completa e totalmente”.
O discurso foi, unanimemente, visto como “um show de horrores”. Além de atacar a ciência climática, Trump também desferiu golpes ao funcionamento da ONU, destacando que a escada rolante e o teleprompter não estavam funcionando. Como esperado, também falou mal da imigração, concluindo, ao final: “Vocês precisam de fronteiras fortes e fontes de energia tradicionais se quiserem ser grandes novamente”.
“Com tanta ciência mostrando que as mudanças climáticas e o aquecimento global são reais, já faz muito tempo que não vemos um líder subir em um palco como aquele e contestar essas coisas”, comentou Caitriona Perry, apresentadora-chefe da BBC News.
O discurso negacionista de Trump também foi notícia no Wall Street Journal, Barron’s e NBC News.
Em tempo 1
Enquanto Trump usa a Assembleia Geral da ONU para espalhar mentiras, o governo dos EUA está próximo a definir qual será seu caminho em relação à Convenção da ONU sobre o Clima (UNFCCC). Segundo o POLITICO, aliados do presidente esperam que ele cumpra sua promessa de campanha e abandone definitivamente as negociações climáticas. Isso pode prejudicar o multilateralismo climático para além do governo Trump, já que a participação dos EUA na UNFCCC foi referendada pelo Senado norte-americano. Se os EUA deixarem a Convenção, um possível sucessor de Trump precisaria ratificar novamente o tratado junto ao Senado, com o apoio de 2/3 da Casa - o que é pouco provável.
Em tempo 2
Segundo um alto funcionário da Casa Branca, seu governo está priorizando a assinatura de acordos de petróleo e gás durante a Semana do Clima de Nova York. A administração Trump vê essa janela de oportunidade com países buscando se desfazer da dependência do petróleo russo, conta o Axios. Neil Chatterjee, ex-presidente da Comissão Federal de Regulamentação de Energia, chegou a afirmar que a "IA vai nos 'tirar' do debate de décadas entre combustíveis fósseis e energia limpa", pois a esquerda política admitirá que não é possível utilizar a tecnologia sem os combustíveis fósseis.
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