Afirmando a acolhida pastoral, o Papa Leão está cético quanto à mudança dos ensinamentos LGBTQ+ da Igreja

Em trechos recém-publicados de uma entrevista em formato de livro, o Papa Leão XIV aborda explicitamente as questões LGBTQ+ na Igreja Católica, reiterando a acolhida pastoral do Papa Francisco, mas também expressando ceticismo quanto à perspectiva de qualquer mudança doutrinária em um futuro próximo. O pontífice também criticou a prática de alguns bispos do norte da Europa de ritualizar bênçãos entre pessoas do mesmo sexo, afirmando que esse método de bênção contradiz as disposições do Vaticano de 2023.

A reportagem é de Jeromiah Taylor, publicada por New Ways Ministry, 19-09-2025.

A entrevista foi conduzida pela correspondente sênior do Crux, Elise Anne Allen, e trechos sobre diversos assuntos foram publicados inicialmente no site do veículo de notícias. As entrevistas fazem parte da biografia de Leão escrita por Allen, intitulada Leão XIV: Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI, publicada pela Penguin Random House e lançada nos países de língua espanhola em 18 de setembro. Cópias em inglês estarão disponíveis no início de 2026. [Para a resposta do New Ways Ministry aos comentários do papa sobre temas LGBTQ+, veja o final desta publicação.]

Os comentários de Leão sobre questões LGBTQ+ ocorrem ao lado de observações sobre mulheres na igreja e na Missa Tridentina. Allen perguntou explicitamente a ele sobre as questões "polêmicas" que surgiram no Sínodo sobre Sinodalidade — no qual Leão foi um participante crucial como então Cardeal Robert Prevost, Prefeito do Dicastério para os Bispos — incluindo "a abordagem da igreja para a comunidade LBGTQ+".

Quando questionado novamente sobre questões LGBTQ+ especificamente, Leão começou dizendo: "Bem, não tenho um plano no momento". O papa fez referência a uma conversa que teve com um cardeal do "oriente global" que observou que o mundo ocidental estava "obcecado com a sexualidade". Leão disse que essa conversa ficou com ele enquanto pondera a polarização da Igreja:

Confesso que isso está na minha cabeça, porque, como vimos no sínodo, qualquer questão que envolva questões LGBTQIA+ é altamente polarizadora dentro da Igreja. Por enquanto, em razão do que já tentei demonstrar e viver em termos da minha compreensão de ser papa neste momento da história, estou tentando não continuar a polarizar ou promover a polarização na Igreja.

Leão, cujo uso da sigla LGBTQ recebeu elogios, enfatizou que os indivíduos são bem-vindos na Igreja, independentemente de suas identidades, invocando o famoso slogan de Francisco: "todos, todos, todos" . No entanto, o papa enfatizou que acolhida pastoral não é o mesmo que afirmação doutrinária:

Todos estão convidados a entrar, mas eu não convido ninguém a entrar porque eles têm ou não uma identidade específica. Convido alguém a entrar porque são filhos ou filhas de Deus. Vocês são todos bem-vindos, e vamos nos conhecer e respeitar uns aos outros. Em algum momento, quando questões específicas surgirem... As pessoas querem que a doutrina da Igreja mude, querem que as atitudes mudem. Acho que precisamos mudar as atitudes antes mesmo de pensarmos em mudar o que a Igreja diz sobre qualquer questão. Acho altamente improvável, certamente num futuro próximo, que a doutrina da Igreja em termos do que a Igreja ensina sobre sexualidade, o que a Igreja ensina sobre casamento, [mude].”

Mais adiante, no mesmo trecho da entrevista, Leão reafirma sua posição, reconhecendo o desejo de alguns por um reconhecimento mais formal dos católicos LGBTQ+. Ele enfatizou novamente a aceitação incondicional que espera da Igreja, expressando confiança na capacidade dos pastores de acolher indivíduos diversos:

Eu entendo que este é um tema muito polêmico e que algumas pessoas farão exigências como, por exemplo, "queremos o reconhecimento do casamento gay", ou "queremos o reconhecimento de pessoas trans", para dizer que isso é oficialmente reconhecido e aprovado pela Igreja. As pessoas serão aceitas e acolhidas. Qualquer padre que já tenha ouvido confissões terá ouvido confissões de todos os tipos de pessoas, com todos os tipos de problemas, todos os tipos de estados de vida e escolhas feitas. Acredito que o ensinamento da Igreja continuará como está, e é isso que tenho a dizer sobre isso por enquanto. Acho muito importante.

Parte do motivo pelo qual Leão acha que o ensinamento da Igreja sobre sexualidade é "muito importante" é sua ênfase na família como "um homem e uma mulher em compromisso solene, abençoados no sacramento do matrimônio".

Leão desaprovou os desenvolvimentos no que ele chamou de "Europa do Norte" em relação às bênçãos de casais do mesmo sexo. Bispos das áreas de língua flamenga da Bélgica instituíram bênçãos para casais do mesmo sexo no início de 2023, antes que o Vaticano aprovasse tal prática. E mais recentemente, conforme abordado em profundidade pelo Bondings 2.0, a igreja alemã propôs e adotou amplamente diretrizes rituais para tais bênçãos, até agora sem qualquer reação de Roma. No entanto, Leão deixou claro que tais disposições não estão alinhadas com os parâmetros de Francisco, conforme estabelecido no documento Fiducia Supplicans de 2023:

“No norte da Europa, eles já estão publicando rituais de bênção 'para pessoas que se amam', é a maneira como eles expressam isso, o que vai especificamente contra o documento que o Papa Francisco aprovou, Fiducia Supplicans, que basicamente diz: é claro que podemos abençoar todas as pessoas, mas não busca uma maneira de ritualizar algum tipo de bênção porque não é isso que a Igreja ensina.”

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, comentou sobre o conteúdo LGBTQ+ na entrevista:

Embora seja bom ter uma ideia melhor da posição do Papa Leão XIV em relação às questões LGBTQ+, é decepcionante saber que ele não acredita que a doutrina da Igreja nessa área mude tão cedo. O Papa Leão XIV se revela pragmático nessa questão: ele reconhece que toda a Igreja global não está preparada para tal mudança de doutrina, o que é verdade. Mesmo sem mudar a doutrina da Igreja, porém, Leão XIV, como pontífice, poderia tomar medidas para ajudar a promover uma abordagem mais acolhedora às questões LGBTQ+.

Com base em inúmeras declarações de alguns bispos em países onde a comunidade LGBTQ+ não pode ser visível, é óbvio que esses prelados precisam de maior educação sobre a realidade da vida LGBTQ+. É evidente para muitos que muitos bispos tiveram pouca educação sobre gênero e sexualidade, e ainda assim essas áreas continuam a dominar as divisões na Igreja. Como servo de seus irmãos bispos, Leão poderia instituir uma educação melhor a esse respeito. A educação não leva à polarização. Ela ajuda a reduzir essa divisão.

É positivo saber que ele dará continuidade às boas-vindas inauguradas pelo Papa Francisco. Fazer alguns gestos públicos com pessoas LGBTQ+ contribuiria muito para dar continuidade à mensagem positiva que Francisco exemplificou.

Embora a posição do Papa Leão sobre não mudar a doutrina seja, na verdade, muito semelhante à posição que o Papa Francisco manteve por inação, se não em palavras, não há como negar que Francisco teve um impacto positivo nas questões LGBTQ+. Por meio de suas interações pessoais, por telefone e por correio, ele visivelmente acolheu as pessoas LGBTQ+ e, ao mesmo tempo, esses gestos encorajaram os líderes da Igreja a fazerem o mesmo.

“O Papa Leão está no início de seu pontificado. Esperamos que em breve ele comece a colocar em prática suas palavras de que todos são filhos de Deus.”

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