05 Setembro 2025
Eleito em 8 de maio de 2025, Robert Francis Prevost está à frente da Igreja Católica há quatro meses. Até então, o primeiro papa americano da história mantinha um perfil relativamente discreto, entretanto, o pontífice começa a se pronunciar mais firmemente nos últimos dias. Nesta quarta-feira (3), o papa Leão XIV falou da “catástrofe humanitária” em curso no Sudão. Esta semana, ele chegou a pedir acolhimento às pessoas LGBTQIA+, além de ter tocado em temas sensíveis dos Estados Unidos.
A reportagem é de Eric Senanque, publicada por RFI, 03-09-2025.
O papa Leão XIV não hesita em se expressar em sua língua materna. Isso facilita a comunicação com os Estados Unidos, como aconteceu no domingo (31), quando ele pediu o fim da “pandemia das armas de fogo”, ao comentar um massacre em uma escola católica em Minneapolis, onde duas crianças foram mortas a tiros e 18 pessoas ficaram feridas, incluindo 15 crianças.
Palavras que chamaram especialmente a atenção de Colleen Dulle, correspondente no Vaticano da revista católica America: “Ele não disse, como se costuma dizer nos Estados Unidos, que a violência armada ou a saúde mental são problemas. Ele disse que as armas de fogo são o problema. Ele quebrou uma espécie de tabu, e isso é uma mensagem política que eu não esperava dele. Foi realmente um sinal forte direcionado ao seu próprio país”.
Pró-LGBTQIA+ e “anti-Trump”?
No dia 1º de setembro, Leão XIV também recebeu um jesuíta americano engajado há muito tempo no acolhimento de pessoas LGBTQ+ na Igreja: o padre James Martin, amigo do papa Francisco e rejeitado pelos setores mais conservadores.
A audiência privada com o padre James Martin aconteceu na biblioteca papal, no Palácio Apostólico, local onde normalmente são recebidos chefes de Estado ou autoridades religiosas importantes. Este é um sinal claro da importância que Leão XIV quis dar ao encontro.
James Martin destaca que Leão XIV demonstra a mesma abertura que seu antecessor em relação à inclusão de pessoas LGBTQIA+ na Igreja – um tema conhecido por ser especialmente divisivo tanto dentro da instituição quanto no catolicismo americano.
“A mensagem que ouvi do papa Leão é que ele vai continuar o legado do papa Francisco em sua abertura e acolhimento às pessoas LGBTQIA+. A ideia é dar continuidade ao legado de Francisco, tornar a Igreja mais atenta, acolhedora e inclusiva. O que ouvi foi uma mensagem de continuidade”, afirmou James Martin após o encontro com o bispo de Roma.
Leão XIV é visto ainda como “anti-Trump” por suas posições contrárias às do presidente americano. Ainda assim, como confidenciou o padre James Martin, o papa provavelmente não se vê como um opositor direto ao presidente dos Estados Unidos, mas sim como alguém que oferece outro modelo: o de um líder capaz de construir pontes e tratar as pessoas com respeito e dignidade.
Sem medo de tocar em temas sensíveis
O pontífice fez um apelo nesta quarta-feira por uma “resposta coordenada” diante da “catástrofe humanitária” em curso no Sudão, país devastado por uma sangrenta guerra civil e atingido por um deslizamento de terra “devastador” ocorrido no domingo em Darfur. A tragédia, causada por chuvas torrenciais, provocou centenas de mortes, segundo a ONU.
Desde 2023, o Sudão está devastado por uma guerra mortal entre o Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), provocando o que a ONU considera a “pior crise humanitária” contemporânea, com estado de fome declarado em várias regiões. A cidade sitiada de El-Fasher, no oeste do país, sofreu no fim de agosto a pior ofensiva até agora das forças paramilitares, que tentam tomá-la bombardeando uma população já faminta. O líder da Igreja Católica pediu que “os responsáveis e a comunidade internacional garantam o acesso aos corredores humanitários e implementem uma resposta coordenada para pôr fim a essa catástrofe humanitária”.
“Notícias trágicas chegam da região de Darfur (oeste do Sudão). Em El-Fasher, muitos civis estão presos na cidade, vítimas da fome e da violência”, declarou o papa americano ao final de sua audiência geral semanal no Vaticano.
“É hora de iniciar um diálogo sério, sincero e inclusivo entre as partes, para acabar com o conflito e devolver esperança, dignidade e paz ao povo sudanês”, declarou o pontífice diante dos fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano. “E como se isso não bastasse, a propagação da cólera ameaça centenas de milhares de pessoas já exaustas”, acrescentou o papa, dizendo-se “mais próximo do que nunca do povo sudanês”.
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