06 Setembro 2025
"Não fomos ao Afeganistão para construir uma nação", disse Joe Biden ao anunciar que a missão militar estadunidense no Afeganistão terminaria em 31 de agosto, antes da data estabelecida de 11 de setembro. O acordo assinado em 2020 entre o governo Trump e os talibãs tinha lhes conferido legitimidade política, abrindo caminho para seu retorno ao poder.
A reportagem é de Mosè Vernetti, publicada por La Stampa, 01-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há quatro anos, o último soldado estadunidense deixava o território afegão. Imortalizado em uma foto fluorescente de visão noturna, o general Chris Donahue – comandante da 82ª Divisão Aerotransportada – é agora um dos ícones de uma guerra que durou vinte anos. Ele caminha pela pista do Aeroporto Hamid Karza, de onde, até poucas horas antes, aviões decolavam, perseguidos por multidões de civis que tentavam uma última e desesperada fuga. Com essa imagem, cai a cortina sobre a guerra no Afeganistão, a mais longa da história estadunidense.
A campanha lançada por Bush termina com um país de joelhos. A ocupação estadunidense custou centenas de bilhões de dólares, dezenas de milhares de vítimas civis e inúmeras acusações de crimes de guerra que ficaram impunes — dos bombardeios de civis em Farah, em 2009, ao ataque aéreo a um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras, em Kunduz, em 2015. Duas décadas de sofrimentos para a população afegã, por fim abandonada e devolvida às mãos dos talibãs, que hoje subjugam o gênero feminino, privando-o da educação básica.
O governo talibã comemorou o aniversário da fuga dos EUA e da OTAN com grande ênfase. Em um comunicado divulgado pelo vice-porta-voz do governo, Hamdullah Fitrat, o grupo classificou a partida do último soldado estadunidense como um triunfo. "O 31 de agosto é um dia de orgulho e grande importância na história do Afeganistão e a coroação de 20 anos de jihad e sacrifícios da nação mujahideen afegã contra a invasão estrangeira."
A tragédia do Afeganistão é dupla: a traição à força ocupante que tinha usado o país para seu próprio ganho geopolítico, de um lado, e um regime que considera a liberdade como uma ameaça a ser eliminada, do outro.
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