27 Agosto 2025
- O pontífice reafirmou sua proximidade com a Igreja que peregrina na Nicarágua e que sofre perseguição sustentada e progressiva sob o regime de Ortega Murillo.
- Os bispos expulsos do país continuam pastores da Igreja da Nicarágua e mantêm as responsabilidades assumidas pela Conferência Episcopal da Nicarágua.
- Isto foi confirmado por Leão XIV quando se encontrou com Dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez, dom Dom Isidoro del Carmen Mora Ortega e com Dom Silvio José Báez.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 26-08-2025.
Os bispos expulsos do país pelo regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo por meio de exílio forçado e banimento continuam pastores da Igreja da Nicarágua e mantêm as responsabilidades que assumiram na Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN).
Isto foi confirmado pelo Papa Leão XIV quando se encontrou em 23 de agosto com Dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez, presidente do CEN e bispo de Jinotega; com Dom Isidoro del Carmen Mora Ortega, bispo de Siuna; e com Dom Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua, confidenciou fonte eclesiástica.
O Santo Padre ouviu em primeira mão o testemunho dos prelados, que relataram a realidade de perseguição que a Igreja na Nicarágua está vivendo. Leão XIV, que conhece este drama pelo seu serviço anterior no Dicastério para os Bispos, confirmou a legitimidade do seu ministério e a validade dos cargos que assumiu em 2021, quando o CEN realizou a sua última eleição.
O CEN deveria realizar eleições em novembro de 2024. No entanto, Dom Carlos Herrera permanece como presidente. Dom Rolando José Álvarez Lagos, bispo de Matagalpa e administrador apostólico de Estelí, permanece responsável pelas áreas de Comunicação e Laicato. Dom Isidoro Mora continua à frente da área de Ecumenismo e Fé. Apesar do exílio e da violência estatal que os separou de suas comunidades, os três permanecem em comunhão com o povo de Deus na Nicarágua.
Báez, forçado ao exílio em 2019 devido a ameaças diretas contra sua vida, não participou das eleições episcopais de 2021 e, por esse motivo, não assumiu responsabilidades dentro do CEN durante o atual mandato. Sua figura, no entanto, continua sendo uma das mais visíveis e proféticas do episcopado nicaraguense no exterior, e sua participação no encontro com o Papa Leão XIV reforçou a unidade da liderança católica expulsa do país.
A advogada Martha Patricia Molina, autora do estudo Nicarágua, uma Igreja Perseguida, elogiou o encontro dos bispos exilados com o Papa como um sinal de continuidade institucional para a Igreja nicaraguense.
"Esta reunião exige a reunião de vozes de autoridade. E quem melhor do que o presidente da Conferência Episcopal e os bispos exilados? Presumo que a reunião tenha se concentrado na perseguição religiosa que ocorre na Nicarágua e também em quaisquer orientações que o Papa possa ter emitido", disse Molina.
Molina também explicou a situação de Álvarez, que passou mais de 500 dias na prisão antes de seu exílio.
"O caso de Álvarez é diferente porque, além de exilado e desnacionalizado, sofreu tortura e isolamento. Ele é próximo do Papa, e imagino que já tenha tido seu encontro privado e direto com ele", comentou o advogado.
O padre Erick Díaz, exilado em 2022 e destituído de sua nacionalidade, concordou que a proximidade física de Álvarez com o pontífice permitiu encontros mais pessoais; e considerou o encontro do Papa com os outros três bispos "marcado pela fé, marcado pela esperança e marcado pela comunhão. O Papa ouviu os bispos em primeira mão e quis enviar uma mensagem de que a Igreja na Nicarágua não está sozinha", observou.
Padre Erick lembrou que o Papa Leão XIV estava ciente da situação desde que chefiou o Dicastério para os Bispos, mas enfatizou que agora, como Pontífice, a comunhão com os exilados assume um significado diferente.
"Vejo isso como um gesto de proximidade e apoio. O Papa é um homem prudente e equilibrado; certamente usará os canais diplomáticos, mas também quis deixar claro que a Igreja da Nicarágua não ficou sem pastores", acrescentou.
Em um país onde mais de 200 padres e freiras foram expulsos nos últimos cinco anos e onde igrejas e escolas foram confiscadas, a ratificação papal confirma que os bispos nicaraguenses mantêm sua missão pastoral intacta e preservam seu lugar na estrutura eclesiástica do país, mesmo quando o regime tenta apagá-los da vida pública.
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