22 Agosto 2025
O caos reina supremo entre os moradores da capital em meio a ordens de evacuação em andamento e informações conflitantes.
A reportagem é de Gabriella Colarusso, publicada por la Reppublica, 22-08-2025.
Imad Hammad Dardas vive em uma tenda com outros 20 deslocados, todos amontoados no que antes era o porto de Gaza. Eles comem uma vez por dia, nenhum deles tem remédios. Mas ele se diz sortudo: não precisa escolher entre ir para o sul, fugir sem refúgio ou ficar. "Tenho 60 anos, sou velho, fora de Gaza não teria chance. E aqui não tenho muito mais tempo de vida. Mesmo que me matem, não tenho medo da morte. Então, não me mexo", diz ele, sentado em uma tenda sufocante. Bombas podem ser ouvidas de lá à noite, e também durante o dia. Cada vez mais intensas, mais próximas. No início de agosto, Netanyahu anunciou a grande invasão da Cidade de Gaza, uma cidade de escombros onde alguns prédios ainda estão de pé e uma extensão de tendas brancas abriga pelo menos 800.000 pessoas. Muitos deles já foram expulsos para Rafah, depois para Mawasi, e deslocados até seis ou sete vezes.
A grande invasão ainda não começou, mas se aproxima. O exército israelense intensificou seus ataques para aumentar a pressão sobre o Hamas. Em meio a isso, os moradores de Gaza estão atordoados, fracos demais até para fugir. Eles fogem, mas de um bairro para outro: "O exército bombardeia al-Zaytoun, e as pessoas se mudam para Rimal, atacam Jabalia al-Balad e vão para al-Shati", diz o fotógrafo Ahmed Abu Ajwa, em uma espécie de partida de pingue-pongue de sobrevivência. "A situação é extremamente tensa, especialmente à noite. Poucas pessoas vão para o sul, porque lá é superlotado, não há serviços ou ajuda, e é perigoso."
A escolha também é uma questão de idade e perspectiva. Suleiman Amer Suleiman Helles, por exemplo, tem 28 anos, é pobre, magro e desempregado, mas ainda quer uma chance de viver. Ele está acampado na Praça Haidar, na parte oeste da Cidade de Gaza, e agora pensa em se mudar para o sul "para proteger minha família; somos sete". Se pudesse, deixaria Gaza imediatamente. "Não há mais esperança aqui." Yusra Tayeh, por outro lado, tem 63 anos e também mora no porto: "Eu nunca pensaria em me mudar para o sul, a menos que fosse forçada, porque é difícil e caro." Um litro de gasolina chegou a US$ 25, para quem tem a sorte de ter dinheiro. Carros são poucos, assim como burros. Tayeh está exausta, como todos os outros: "Não temos mais forças, não aguentamos mais." E então ela para, querendo dizer algo mais: "Esta é minha terra natal. Talvez depois de toda essa dor, encontremos uma solução."
As notícias de Israel são confusas e contraditórias. Será que eles realmente invadirão? E quando e como? "É difícil entender o que está acontecendo, mas não temos tempo nem luxo para descobrir. A verdade seja dita, eles estão constantemente nos bombardeando", explica Ahmed. O exército emitiu ordens de evacuação para algumas áreas da cidade. No limbo, Marwan Hamed Khalid se prepara. Ele tem 45 anos e é ex-programador de computadores. Ele está convencido de que haverá uma ocupação total. "Netanyahu pode fazer isso porque tem apoio internacional, e não podemos fazer nada contra esse gigante armado. Se nos empurrarem para o sul, eu vou embora com minha família."
O Hamas agora oferece um acordo, e Netanyahu quer ambos: um acordo sem o fim da guerra, para trazer os reféns de volta e, ao mesmo tempo, pressionar os islamitas a se renderem, com Gaza tão destruída a ponto de incentivar a "migração voluntária". Hiba Salim Hassan Abu al-Atta , 44, dona de casa, nem sequer considera a possibilidade. Ela mora em uma barraca na região de Rimal e está exausta, "mas não vou embora", diz ela. "A resistência? Não acho que seja capaz de uma luta de verdade. Se realmente tivesse tido força para enfrentar a situação, não teríamos chegado a este ponto." Nesse ponto, só resta Deus. "Se Ele quiser, faremos uma trégua."