08 Agosto 2025
Marine Rosset, que vive com uma companheira com quem educa um filho, defensora do direito ao aborto e eleita municipal nas listas do Partido Socialista Francês, anunciou em entrevista a La Croix de 6 de agosto a sua demissão de presidente dos Escoteiros e guias da França, cargo para que fora eleita a 14 de junho deste ano. “A situação tornou-se insustentável” por causa “da campanha de ódio que pretendeu confundir algumas das minhas posições públicas com as posições do movimento”, afirmou Rosset.
A reportagem é de Jorge Wemans, publicada por 7Margens, 06-08-2025.
“Estou furiosa porque, por vezes, puseram em causa a minha fé por eu ser homossexual”, sublinhou na entrevista, confirmando que continuará a ser um dos 24 membros do conselho de administração (a mais alta instância dirigente) do movimento em que, segundo ela, “jovens de todos os horizontes têm lugar” por ser “um lugar no qual é possível coexistirem serenamente identidades variadas, dialogando uns com os outros sem que tenham de estar sempre de acordo sobre tudo”.
A eleição de Rosset, de 39 anos, como presidente dos Escoteiros e Guias da França, ainda que tendo resultado de uma esmagadora votação (22 contra 2) no órgão máximo da associação, foi, ainda antes de ter lugar, desaconselhada pelo padre assistente do movimento. Depois de conhecida a eleição, vários outros assistentes tomaram posição, sublinhando que “quando se aspira a exerce responsabilidades numa associação católica parece essencial que não se defenda publicamente posições contrárias ao ensinamento da Igreja”.
O debate público ultrapassou as fronteiras do escutismo e da Igreja Católica e não se focou penas nas questões da homossexualidade, prolongando-se ao campo político. Um antigo responsável nacional dos escuteiros e guias, François Mandil, disse a La Croix de 15 de julho que “o movimento não tem nada contra o fato de ela ser casada com uma mulher e condena os ataques homofóbicos de que a presidente está a ser vítima”, mas, “ao contrário, vê com maus olhos que a sua presidente seja militante de um partido político e possa envolver-se pessoalmente como candidata nas próximas eleições autárquicas”.
A questão dos compromissos partidários de Marine Rosset conheceu no final de julho uma alteração sensível, dado que nessa altura foi anunciada a abertura do processo eleitoral na circunscrição em que ela já fora candidata em 2022 e 2024. Embora, segundo refere na entrevista a La Croix, tenha “assumido o compromisso de não se candidatar em nenhuma eleição de nível nacional”, todas as suas “palavras passaram a ser escrutinadas”, como se fosse candidata.
A pressão veio, diz Rosset, do exterior, pois “do interior do movimento mais do que críticas” recebeu a expressão “de alguns receios e medos, mas nada de insuperável, tanto mais que o movimente defende o envolvimento e o compromisso com a vida da cidade”.
Ao La Croix, a ex-presidente coloca a pergunta: “É possível ser-se homossexual e presidente de um movimento católico?” E ela própria responde: “Creio que sim. Como um sinal dos tempos, coube-me ser eleita pouco depois da morte do Papa Francisco. Podíamos imaginar que depois de tudo quanto disse, haveria uma possibilidade de abertura sem que os católicos se sentissem postos em causa na sua fé. Eu nunca quis ser um símbolo, ou mudar os dogmas da Igreja”.
Os Escoteiros e Guias da França são um dos movimentos católicos juvenis mais fortes (em 2023 tinham cerca de 99 mil inscritos) e mais abertos do ponto de vista pedagógico, educativo e cultural, pelo que o seu crescimento contínuo não é bem visto pelos sectores eclesiais mais tradicionais.
Apesar dos seus dirigentes afirmarem que o seu sucesso é a “prova de que nem todos os jovens católicos franceses o que querem é fazer a peregrinação a Chartres” (alusão aos movimentos espiritualistas mais tradicionais) e que graças ao movimento “muitos jovens têm um primeiro contato com a Igreja, que de outro modo nunca teriam”, vários observadores apontam o outono, momento das reinscrições, como o verdadeiro teste quanto ao impacte da presente controvérsia. Será que as famílias mais católicas-praticantes vão escolher inscrever os seus filhos e filhas noutros movimentos escotistas?…