02 Agosto 2025
A Itália concordou na quinta-feira com um plano do Vaticano para transformar um campo de 430 hectares (1 mil acres) ao norte de Roma, que já foi fonte de uma polêmica entre os dois países, em uma vasta fazenda solar que a Santa Sé espera que gere eletricidade suficiente para atender às suas necessidades e transformar a Cidade do Vaticano no primeiro estado neutro em carbono do mundo.
A reportagem é de Nicole Winfield, publicada por Crux Now, 01-08-2025.
O acordo estipula que o desenvolvimento do local da Santa Maria Galeria preservará o uso agrícola da terra e minimizará o impacto ambiental no território, de acordo com uma declaração do Vaticano.
Os detalhes não foram divulgados, mas o Vaticano estará isento do pagamento de impostos italianos para importar os painéis solares, mas não se beneficiará dos incentivos financeiros que os italianos desfrutam ao adotar a energia solar. A Itália, por sua vez, pode usar o campo em sua contabilidade para atingir as metas de energia limpa da União Europeia. Qualquer excesso de eletricidade gerado pelo parque, além das necessidades do Vaticano, seria doado à comunidade local, disseram autoridades, falando sob condição de anonimato porque o acordo não era público.
Autoridades do Vaticano estimaram que o custo para desenvolver o parque solar será inferior a 100 milhões de euros (US$ 114 milhões) e que, assim que for aprovado pelo parlamento italiano, os contratos para a execução do trabalho poderão ser abertos para licitação.
O ministro das Relações Exteriores do Vaticano, Dom Paul Gallagher, assinou o acordo com o embaixador da Itália junto à Santa Sé, Francesco Di Nitto. O parlamento italiano precisa aprovar o acordo, pois ele tem implicações financeiras para o território, que detém status extraterritorial na Itália.
O sítio da Galeria Santa Maria tem sido fonte de controvérsia por muito tempo devido às ondas eletromagnéticas emitidas pelas torres da Rádio Vaticano localizadas lá desde a década de 1950. O local, antes rural, a cerca de 35 quilômetros (20 milhas) ao norte de Roma, é dominado por duas dúzias de antenas de rádio de ondas curtas e médias que transmitem notícias da Igreja Católica em dezenas de idiomas ao redor do mundo.
Com o passar dos anos, à medida que a área se desenvolvia, os moradores começaram a reclamar de problemas de saúde, incluindo casos de leucemia infantil, que atribuíam às ondas eletromagnéticas geradas pelas torres. O Vaticano negou qualquer relação causal, mas cortou as transmissões.
No ano passado, o Papa Francisco pediu ao Vaticano que estudasse o desenvolvimento da área para uma grande fazenda solar, na esperança de colocar em prática sua pregação sobre a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis e encontrar fontes de energia limpas e neutras em carbono.
O Papa Leão XIV visitou o local em junho e afirmou que pretendia concretizar a visão de Francisco. Leão assumiu firmemente o manto ecológico de Francisco, utilizando recentemente um novo conjunto de orações e leituras inspiradas no legado ambiental do Papa Francisco.
Na década de 1990, no auge da controvérsia sobre as torres de rádio, moradores processaram funcionários da Rádio Vaticano, alegando que as emissões excediam o limite legal italiano, mas o tribunal liberou o transmissor. Em 2012, o Vaticano anunciou que cortaria pela metade o horário de transmissão do local, não por questões de saúde, mas por conta dos avanços tecnológicos na transmissão pela internet, que reduziriam os custos.