31 Julho 2025
O artigo é de María Noel Firpo, psicóloga, publicado por Religión Digital, 30-07-2025.
A maioria das pessoas que inicia uma jornada na vida consagrada o faz com o desejo sincero de seguir Jesus, de se dedicar ao serviço ao próximo e de viver o Evangelho radicalmente. Chegam com um coração disposto, ideais elevados e uma profunda sede de Deus. Mas todos nós carregamos uma história, uma personalidade, feridas que nem sempre estão conscientemente presentes e maneiras de nos relacionarmos que foram formadas muito antes de fazermos nossos votos.
Com o tempo, a vida em comunidade, o reconhecimento, os cargos e as responsabilidades podem desencadear dinâmicas complexas, nas quais nossas personalidades entram em jogo. Alguns começam a se sentir importantes, necessários e indispensáveis ao ocupar um cargo. Outros se fecham internamente, tornam-se submissos ou se adaptam excessivamente para evitar perder a posição que conquistaram.
O problema começa a emergir quando a fragilidade pessoal se combina com formas rígidas de exercer autoridade, e o que começou como uma vocação acaba sendo palco de relacionamentos abusivos, silenciosos e difíceis de nomear. Portanto, em vez de julgar, é preciso compreender. E, acima de tudo, discernir, porque nem sempre percebemos que, por trás de certas formas de exercício de autoridade, podem se esconder dinâmicas relacionais prejudiciais. Não estamos falando de abusos visivelmente escandalosos, mas sim de formas mais sutis de abuso emocional, onde o medo, a necessidade de reconhecimento e o desejo de agradar acabam anulando a liberdade interior.
Há pessoas que, movidas pela admiração ou pela influência de uma autoridade religiosa (um superior, um mentor, um diretor espiritual), começam a inibir seu pensamento crítico. Guardam seus pensamentos para si mesmas por medo de decepcionar os outros. A ansiedade de encarar o olhar alheio torna-se sua bússola. Vivem na dependência de saber se o outro está contente, feliz ou distante. E, a partir daí, muitas vezes se desenvolve uma identidade que não brota da verdade do próprio ser, mas da necessidade de agradar.
Esses tipos de relacionamento são marcados por uma forma de dependência emocional: o outro, que exerce autoridade sobre mim, pode me encher de alegria ou me paralisar. Quando essa conexão genuína é interrompida, a pessoa se sente desregulada, até mesmo existencialmente. E, muitas vezes, submeter-se ao outro é mais tolerável do que enfrentar a angústia do abandono ou da rejeição.
Em psicologia, existe um termo que esclarece esses funcionamentos: "colonização emocional" (H. Bleichmar). Refere-se a um processo no qual alguém age, sente e pensa de acordo com os desejos e critérios de outro, sem perceber que se perdeu. Não se trata de manipulação consciente. É uma estrutura sutil e poderosa, onde a subjetividade é subsumida pela do outro. Isso acontece quando se promovem posições hierárquicas rígidas, nas quais o "colonizador" precisa de admiração para sustentar sua autoestima, enquanto o "colonizado" precisa de aprovação para se sentir digno de pertencimento.
O problema surge quando o vínculo se torna assimétrico, rígido e não deixa espaço para a diferença. Quando só há espaço para quem pensa igual ou não questiona, porque um pensa por todos. Quando se perde a possibilidade de discordar sem ser excluído. E quando a dor que isso causa se espiritualiza, tornando-se invisível até mesmo para quem a sofre.
É importante abrir caminhos, criando espaços de diálogo onde as conexões possam ser consideradas, onde a obediência não seja cega e onde o pertencimento não exija silêncio. Não basta dizer a alguém para parar de se submeter: é preciso explorar as ansiedades que sustentam essa submissão, quais feridas elas reativam, quais medos reforçam, quais possibilidades abrem. Não se trata de condenar pessoas, mas de compreender processos.
Desfazer-se de um vínculo colonizador implica tocar em fibras muito profundas da própria história: o apego, o medo da rejeição, o desejo de ser amado, a necessidade de se sentir parte de uma comunidade e, no caso das pessoas de fé, tocar na própria relação com Deus.
A vida consagrada pode ser um caminho fecundo de encontro com Deus e com os outros. Mas esse caminho só é autêntico se promover a liberdade interior, se reconhecer a dignidade do outro, se permitir a dissidência sem punição e se cuidar de cada pessoa em sua singularidade. Porque não há verdadeira comunhão onde há colonização. Precisamos de comunidades onde a escuta seja mais importante do que o controle, onde a autoridade seja exercida como cuidado e não como dominação, onde possamos discordar sem sentir que isso nos separa do amor de Deus.
Deus não usa laços opressivos, nem fala através de vozes paralisantes; ele não subjuga, não silencia, não exige uniformidade. Deus nos chama pelo nome, acolhe a diferença, se comove com a fragilidade e cura por dentro.
E neste tempo, mais do que nunca, somos chamados a ser testemunhas de uma espiritualidade que acolhe a verdade e transforma o conflito em um caminho de transformação. Somos chamados a construir uma Igreja que não se apegue ao poder, mas que coloque o cuidado com os outros acima do controle, e a comunhão acima da uniformidade.
Ser testemunha hoje é ousar viver relações mais humanas e livres. Não deixemos de acreditar que outro caminho é possível. E assim seremos reconhecidos: não pelas nossas palavras, mas pelo nosso amor uns pelos outros.