30 Julho 2025
"Não se trata aqui de responsabilizar exclusivamente as famílias ou a escola. O problema é estrutural e multifatorial, exigindo uma nova pactuação social sobre os papéis de cada agente na formação dos sujeitos".
O artigo é de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves, teólogo, filósofo e professor. É formado em História, Filosofia e Teologia, áreas nas quais trabalha como professor em Juiz de Fora (MG).
Durante o século XIX e parte do século XX, a relação entre família e escola era pautada por um laço de confiança mútua. A escola era vista como uma parceira indispensável no processo formativo das crianças, e os pais – mesmo que terceirizassem parte da educação formal – reconheciam e sustentavam a autoridade do professor. Essa confiança gerava um círculo virtuoso: a escola educava com respaldo familiar, e a família reforçava o trabalho pedagógico em casa.
No entanto, a partir das transformações sociais do século XX, com a inserção massiva das mulheres no mercado de trabalho e a intensificação da vida urbana, houve uma crescente terceirização da educação, não apenas da instrução escolar, mas também de valores, normas e limites. Os pais, sobrecarregados pelas exigências profissionais e sociais, transferiram à escola não só a tarefa de ensinar conteúdos, mas também de formar o caráter, disciplinar e mediar os conflitos dos filhos.
Chegando ao século XXI, observamos um novo fenômeno: uma geração de pais marcada por certa imaturidade emocional e afetiva. Muitos desses adultos foram educados majoritariamente por instituições (escolas, creches, cursos) e não pela presença direta e ativa dos próprios pais. Isso resultou, como aponta o vídeo analisado, em uma geração com dificuldades de exercer autoridade – porque não vivenciou referências claras de autoridade saudável e estruturante.
A consequência direta disso é a dificuldade de colaboração entre família e escola. Em vez da confiança e do apoio mútuo, professores enfrentam hoje uma crescente desconfiança por parte das famílias, e muitas vezes são culpabilizados por questões que extrapolam o espaço escolar. A autoridade docente é constantemente questionada, e o diálogo entre escola e família é fragilizado ou até inexistente.
Essa crise de autoridade gera um impacto profundo no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Sem limites claros, sem a mediação ética dos adultos, os jovens crescem desamparados em termos de orientação e estrutura, o que afeta seu desempenho escolar, sua saúde emocional e sua capacidade de lidar com frustrações e responsabilidades.
Não se trata aqui de responsabilizar exclusivamente as famílias ou a escola. O problema é estrutural e multifatorial, exigindo uma nova pactuação social sobre os papéis de cada agente na formação dos sujeitos. É preciso resgatar o sentido de corresponsabilidade na educação, reconhecendo que a formação humana plena não pode ser alcançada sem a cooperação entre família, escola e sociedade.
A autoridade, neste contexto, não deve ser confundida com autoritarismo, mas entendida como a capacidade de orientar, oferecer limites e construir vínculos de confiança. Quando há autoridade legítima e bem partilhada, há também uma base sólida para o crescimento das crianças e adolescentes em todas as suas dimensões: cognitiva, emocional, ética e social.