22 Julho 2025
O artigo é de Llucià Pou Sabaté, professor de Teologia Moral, publicado por Religión Digital, 22-07-2025.
No dia 22 de julho, a Igreja celebra com especial devoção Santa Maria Madalena, figura tantas vezes incompreendida, mas de imensa profundidade espiritual. Sua história é de amor transformado, de busca incansável e de fidelidade que não teme a morte. Foi ela quem, na escuridão da aurora, foi ao sepulcro. E foi também a primeira a ver o Senhor Ressuscitado. Por isso, a tradição a chamou de " a apóstola dos apóstolos ".
Maria Madalena personifica a paixão da alma que busca a Deus , como no Cântico dos Cânticos : "Procurei aquele a quem amava... e o encontrei". Essa busca não é romântica, mas mística; não se detém na ausência, nem na pedra que cobre o túmulo. Ela vai, corre, pede, chora. Ela persevera. E porque ama, vê o que os outros não viram.
O seu amor não é possessivo, mas sacrificial. Ela queria reter Jesus, mas ele lhe disse: "Deixa-me ir". Não porque se distanciasse, mas porque a missão que lhe confiou implicava um passo mais: anunciar aos seus irmãos e irmãs que a morte foi vencida. Maria Madalena torna-se assim a primeira testemunha da aurora pascal , do novo dia da criação. Uma mulher, não um homem. Uma mulher a quem Jesus chama pelo nome e a quem confia o anúncio mais importante da história: que Ele está vivo.
E, no entanto, a Igreja patriarcal logo começou a silenciá-la, a diluir sua figura, a confundi-la com uma prostituta arrependida , a relegá-la às margens da narrativa eclesial. Seu papel apostólico foi eclipsado por uma hierarquia masculina que, ao longo dos séculos, esqueceu que a primeira evangelizadora do Ressuscitado foi uma mulher livre, apaixonada, contemplativa e corajosa. Ela foi aquela que chorou, aquela que esperou, aquela que buscou... e, portanto, também aquela que foi enviada.
Hoje, de uma perspectiva espiritual e feminista, Maria Madalena surge como símbolo de uma Igreja alternativa e possível , uma Igreja onde as mulheres não apenas têm voz, mas são portadoras da mensagem central do Evangelho. Sua figura desafia estruturas, denuncia a negligência e exige restituição. Sua vida nos desafia: como conseguimos esconder tanto amor, tanta força, tanta presença feminina no coração do cristianismo?
Maria Madalena representa todas as mulheres que continuam a buscar o Senhor em meio à dor e à escuridão, todas aquelas que foram excluídas e, ainda assim, permaneceram fiéis, todas aquelas que anseiam por tocar Cristo, mas têm o acesso a certos espaços negado. Ela é a voz silenciada que ressoa com força : "Eu vi o Senhor". Não como uma nostalgia do passado, mas como um chamado profético para o presente e o futuro da Igreja.
Sua história pessoal também é de transformação radical. Libertada dos "sete demônios", ela deixou de viver para si mesma e passou a viver para o Mestre. Seu insaciável amor humano se transforma em um amor espiritual fecundo que a leva aos pés da cruz e além, ao sepulcro vazio e à missão missionária. Nela, o feminino é redimido, afirmado e enviado.
Como ela, aprendamos a buscar o Senhor com todo o coração, a deixar-nos transformar pela sua misericórdia e a proclamar com alegria:
Eu vi o Senhor, e ele me enviou para anunciar sua ressurreição!