17 Julho 2025
- O Departamento de Justiça iniciou um processo criminal contra os ex-provinciais da Companhia de Jesus na Bolívia pelo suposto acobertamento em um dos casos de abuso infantil contra o falecido jesuíta Pedrajas.
- O Ministério Público acusou formalmente Recolons e Alaix de suposto acobertamento nas investigações do caso Pedrajas, falecido em 2009.
A reportagem é publicado por Religion Digital, 17-07-2025.
Na última quarta-feira, a justiça iniciou um processo criminal contra os ex-provinciais espanhóis da Companhia de Jesus na Bolívia, Marcos Recolons e Ramón Alaix, por supostamente encobrirem um dos casos de abuso infantil contra o falecido jesuíta Alfonso Pedrajas, também espanhol.
O julgamento começou quarta-feira no Quarto Juizado Penal Anticorrupção e Violência contra a Mulher da cidade central de Cochabamba, após ter sido suspenso pelo menos duas vezes, a primeira em janeiro porque as ex-provinciais não puderam comparecer à audiência devido a problemas de saúde, por serem maiores de 80 anos.
O ex-jesuíta Pedro Lima, porta-voz da Comunidade Boliviana de Sobreviventes (CBS), disse à imprensa em Cochabamba que "hoje é um dia histórico porque os dois principais acobertamentos foram levados a julgamento" neste caso, no qual 18 vítimas apresentaram queixas.
“Esperamos que a Justiça abra um precedente e, como o Ministério Público solicitou na denúncia, que a culpa deles seja apurada no fim do processo e que sejam condenados pelo crime de ocultação de cadáver”, afirmou Lima.
Um comunicado de imprensa emitido pela CBS, que representa as vítimas desses eventos, afirma que "50 peças diferentes de provas documentais" foram apresentadas, e há também "18 relatórios psicológicos", "mais de 50 peças de depoimentos de testemunhas" e "25 peças de múltiplas evidências materiais", entre outros elementos.
Em março do ano passado, o Ministério Público acusou formalmente Recolons e Alaix de suposto acobertamento nas investigações do caso Pedrajas, apelido do jesuíta falecido em 2009.
Alegações de abuso infantil na Bolívia passaram a ser investigadas depois que o veículo de comunicação espanhol El País publicou uma investigação em 2023 sobre um diário pertencente a Pedrajas, no qual ele fazia alusão aos supostos abusos que cometeu contra dezenas de crianças enquanto era diretor da Escola Juan XXIII no país sul-americano desde 1971.
Após este caso, outras acusações de abuso sexual infantil contra outros padres, alguns dos quais já falecidos, começaram a vir à tona. Como resultado, o Ministério Público boliviano iniciou investigações em vários departamentos do país sobre alegações de abuso sexual infantil, principalmente envolvendo padres católicos.
Após essas denúncias, o governo boliviano enviou um projeto de lei ao parlamento nacional em maio de 2023 para proibir a prescrição de crimes sexuais cometidos contra menores. Esse projeto não foi aprovado na época, mas o poder executivo o restabeleceu em 2024 e ainda não foi analisado.
Bolivia: se reinicia el juicio contra los ex provinciales de la Compañía de Jesús.
— Red de Sobrevivientes (@sobrevive_chile) July 16, 2025
“Esperamos que la justicia boliviana emita señales claras para el país y el mundo pues, aunque las instituciones eclesiales involucradas en estos delitos sean multinacionales,
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