16 Julho 2025
É um segredo horrível que permaneceu enterrado por décadas: mas, hoje, começarão as operações de escavação para desenterrar os restos mortais de quase 800 crianças. E a verdade, talvez, sobre uma das páginas mais sombrias da história irlandesa.
A informação é de Luigi Ippolito, publicado por Corriere della Sera, 14-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O terreno onde antes ficava uma instituição religiosa para mães solteiras e seus filhos esconde uma vala comum que se acredita conter os ossos de 796 crianças, que morreram em tenra idade e foram enterradas sem nome. Uma história horrenda foi revelada no vilarejo de Tuam há mais de uma década, graças à tenacidade de uma historiadora amadora, Catherine Corless, que começou a investigar aquela casa de acolhimento, administrado pelas Irmãs do Bom Socorro, após descobrir que sua mãe também havia nascido fora do casamento e sido entregue àquele lugar.
796 babies buried in a mass grave in County Galway, Ireland are being exhumed. The site in Tuam was once a home for unmarried women and their children. pic.twitter.com/m8QdiL8Jj5
— Channel 4 News (@Channel4News) July 13, 2025
Um inquérito nacional subsequente apurou que, em toda a Irlanda, ao longo do último século, pelo menos 9 mil crianças morreram em circunstâncias semelhantes às do instituto de Tuam. Na época, a pequena ilha era um país sombriamente católico, onde uma garota engravidar fora do casamento significava o ostracismo total: frequentemente, essas jovens "perdidas" eram acolhidas em instituições religiosas, onde davam à luz filhos, dos quais eram depois separadas. Foi o que aconteceu na casa de acolhimento de Tuam de 1925 até seu fechamento em 1961 (o prédio foi demolido em 1972).
O que aconteceu com aquelas crianças é difícil de imaginar, em parte porque tudo era encoberto pelo silêncio conivente da Igreja Católica: é também por isso que Catherine Corless se recusou a encontrar o Papa durante sua visita à Irlanda em 2018. O primeiro-ministro de Dublin, Michael Martin, pediu desculpas, dizendo que "o mais chocante é a vergonha sentida pelas mulheres que engravidaram fora do casamento e o estigma tão cruelmente associado aos seus filhos. Peço perdão pelo profundo dano geracional infligido às mulheres irlandesas e aos seus filhos que acabavam em lares para mães e bebês. Não deveriam acabar lá."
A vala comum de Tuam foi descoberta por acaso: em 1975, duas crianças que brincavam no terreno onde antes ficava o instituto religioso acabaram em uma fossa séptica subterrânea, onde viram ossos empilhados. Mas, na época, pensou-se que poderiam ser vítimas da grande carestia que devastou a Irlanda em meados do século XIX. Somente muitos anos depois, Catherine Corless encontrou a lista de 796 crianças mortas sem qualquer indicação de seu local de sepultamento: e quando ouviu a história do fosso com os ossos humanos, não demorou muito para chegar à conclusão óbvia. Todos aqueles pequenos tinham ido parar lá.
Foi estabelecido que, entre 1922 e 1998, aproximadamente 56 mil mães solteiras e 57 mil crianças passaram pelas casas de acolhimento religiosas na Irlanda: e chocantes 15% dessas crianças morreram dentro dos muros de tais institutos. A razão para isso pode ser adivinhada pela história de Anna Corrigan, hoje com 68 anos, que descobriu ter dois meios-irmãos nascidos e mortos no instituto de Tuam. Um deles havia sido registrado como saudável ao nascer, apenas para morrer com 14 meses; a certidão de óbito indica o sarampo como causa, mas também descreve a criança como "emaciada".
Segundo Anna, isso é prova dos maus-tratos sofridos pelas crianças naquelas casas religiosas.
A pesquisa de Catherine Corless mostrou que uma criança morria a cada duas semanas em Tuam: elas eram enterradas sem caixão, envoltas em trapos e empilhadas umas sobre as outras. As escavações que começam hoje durarão dois anos, mas nem todas as perguntas encontrarão respostas. Só resta o horror.