15 Julho 2025
"No entanto, há um tênue fio condutor que liga os eventos de Srebrenica às operações realizadas pelas forças militares israelenses em Gaza, cujo objetivo, reivindicado por muitas vozes presentes no governo israelense, é livrar o enclave da população palestina e recuperar o território da Faixa".
O artigo é de Domenico Gallo, juiz italiano e ex-presidente da Suprema Corte da Itália, publicado por il Fatto Quotidiano, 10-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O dia 11 de julho marca um triste aniversário: 30 anos da queda de Srebrenica, da deportação de todos os seus habitantes (40/50 mil pessoas) e os horríveis massacres que se seguiram. Tropas sérvias-bósnias, comandadas pelo General Ratko Mladic, assumiram o controle da multidão reunida perto da base da ONU em Potocari e separaram mulheres, crianças e idosos dos homens em idade militar.
O primeiro grupo foi embarcado em ônibus e expulso do enclave; o segundo grupo foi concentrado em um local conhecido como “a Casa Branca”, onde foi exterminado. No mesmo contexto, uma coluna de soldados e civis em fuga pelos bosques foi atacada e forçada a se render. De acordo com as conclusões do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, nos dias que se seguiram à queda de Srebrenica, entre sete e oito mil homens foram mortos e seus corpos foram enterrados em valas comuns. Diante desses eventos explodiram gritos de horror. As chancelarias de todo o mundo, lideradas pelos Estados Unidos, não fingiram não ver. Fotografias aéreas das valas comuns foram divulgadas, e um clamor de indignação, apoiado pela grande mídia, varreu a opinião pública internacional.
O enclave muçulmano-bósnio de Srebrenica sofreu uma limpeza étnica radical, por meio da deportação de parte da população e do extermínio da outra. O sonho de Israel de se livrar da população "estrangeira" que ocupa abusivamente o enclave de Gaza, no território que a Bíblia atribuiu ao povo judeu, já foi realizado, em pequena escala, pelos sérvios bósnios em 1995, com a "libertação" do enclave de Srebrenica. Na realidade, o sonho de se apropriar de um território "libertando-o" de seus habitantes indesejados rapidamente se transformou em um pesadelo para Karadzic e seus associados. Tanto Karadzic (em 2016) quanto Mladic (em 2017) foram condenados à prisão perpétua pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, juntamente com alguns generais e outros oficiais. Em 2 de agosto de 2001, no julgamento do General Radislav Krstic, foi proferida a primeira condenação por genocídio na Europa desde o Holocausto. O Tribunal Penal Internacional classificou os eventos em Srebrenica como "genocídio". Constatou que o crime de genocídio incluía tanto o elemento objetivo da conduta, actus reus, quanto o elemento subjetivo, o dolo específico, mens rea. O Tribunal observou que a população muçulmana de Srebrenica constituía uma fração de um grupo étnico-religioso (os muçulmanos bósnios) e que os massacres haviam sido motivados pelo desejo de destruir em parte esse grupo étnico.
É curioso que os arautos da “Esquerda para Israel” ou da direita não se tenham rebelado contra a utilização da definição de genocídio para qualificar os fatos de Srebrenica, nem que a tenham considerado “uma blasfémia” evocar o genocídio depois do Holocausto.
No entanto, há um tênue fio condutor que liga os eventos de Srebrenica às operações realizadas pelas forças militares israelenses em Gaza, cujo objetivo, reivindicado por muitas vozes presentes no governo israelense, é livrar o enclave da população palestina e recuperar o território da Faixa. No entanto, os métodos são diferentes: em apenas uma semana, os sérvios-bósnios libertaram o enclave de toda a sua população "estrangeira" e exterminaram oito mil "terroristas", isto é, jovens em idade militar. Os israelenses são muito mais pacientes; não matam mais de cem a duzentas pessoas por dia (levaram 20 meses para eliminar 50 mil) e o fazem de forma igualitária, sem discriminação entre homens e mulheres, crianças e idosos, milicianos e civis, médicos ou enfermeiros. Eles não deportaram a população para fora do território com os ônibus, como os sérvios fizeram, mas aguardam pacientemente a transferência "voluntária" da população. Para incentivar isso, eles se limitam a arrasar todas as casas, a evacuar todos os habitantes das zonas de risco devido aos combates, concentrando-os em "áreas seguras", onde o risco de morrer queimados nas em tendas é puramente acidental.
A paciência de Israel também é demonstrada pelo bloqueio do fornecimento de alimentos, água, remédios e combustível. Enquanto as bombas incineram você instantaneamente, mas atingem apenas alguns, deixando todos os outros sobreviver, a fome atinge todos os dois milhões de habitantes da Faixa. Um pouco de violência, no entanto, é necessária e é exercida por razões de ordem pública quando os alimentos são distribuídos pelos voluntários da Fundação Humanitária de Gaza para evitar empurrões ou brigas. Em apenas um mês, 549 palestinos foram mortos e 4.066 ficaram feridos. O tiro ao faminto se tornou um jogo popular entre os soldados israelenses, chamado Operação Peixe Salgado.