05 Julho 2025
O ex-presidente não tem mais chances de ser candidato, tendo passado o prazo legal para um líder deixar o cargo.
A reportagem é de Fernando Molina, publicada por El País, 04-07-2025.
Em 3 de julho, expirou na Bolívia o prazo para que os candidatos presidenciais que assim o desejassem renunciassem e fossem substituídos por outros. Todos os olhares estavam voltados para Evo Morales, que tinha a chance de se registrar caso um líder deixasse seu lugar vago na cédula. Isso não aconteceu. Evo Morales, a principal figura política do país andino, não tem mais chance de concorrer. O presidente Luis Arce também não, que não buscará a reeleição por falta de apoio.
Os dois principais protagonistas da luta interna que dispersou as forças da esquerda boliviana, uma das mais fortes da América Latina, foram eliminados da disputa. Cada um reivindica a responsabilidade pela queda do outro.
Com base no Tribunal Constitucional, Arce conseguiu cassar seu ex-chefe o direito de usar as iniciais do Movimento ao Socialismo (MAS), fundado por Morales na década de 1990. Os apoiadores do Evo também denunciaram a decisão do presidente de desqualificar duas outras organizações que o ex-presidente queria "emprestar" para participar.
A candidatura de Morales também enfrentou desafios legais: a Constituição estipula que uma pessoa só pode exercer dois mandatos, sejam eles contínuos ou descontínuos. Morales foi presidente de 2006 a 2019.
O ministro da Justiça de Arce na época dessas decisões judiciais, Iván Lima, as apresentou em uma entrevista como "conquistas" do governo. Por sua vez, Arce afirmou que "não repetirá" o erro de permitir que "o capricho de Evo Morales" de buscar a reeleição "traga novamente o luto ao povo boliviano". Ele se referiu à brutal derrubada do líder indígena em 2019, após eleições consideradas fraudulentas pela oposição.
Morales zombou repetidamente dos baixos resultados de Arce nas pesquisas antes de se retirar de sua candidatura. Ele também zombou dos atuais resultados de Eduardo del Castillo, ex-ministro e substituto do presidente no Movimento ao Socialismo, que, se repetidos em 17 de agosto, condenariam este partido, que já foi o maior da história da Bolívia, à extinção legal.
Morales publicou um vídeo nas redes sociais há alguns dias, no qual parecia aceitar seu afastamento temporário do centro da política nacional. "Este é apenas um momento em nossa longa história. Nos reuniremos novamente, nos organizaremos e lutaremos juntos. Com o coração nas conquistas do passado, mas a mente voltada para o futuro", dizia a mensagem. Mas, pouco depois, o ex-presidente voltou a exigir que o Tribunal Eleitoral o registrasse como candidato.
Essa insistência em "estar na cédula" impediu que os principais líderes de seu movimento se juntassem a outros partidos ditos "populares" para tentar formar uma facção "Evo" na próxima sessão legislativa. Segundo fontes internas, há tensão entre aqueles que desejam participar e o círculo mais próximo de Morales, que impõe a já impossível candidatura de seu líder como condição para isso.
Esse atraso é o mesmo que levou o sucessor político de Morales, Andrónico Rodríguez, a romper com o comitê central do Chapare, reduto do ex-presidente, e concorrer de forma independente nas eleições com o apoio de algumas organizações sociais, mais mineiras do que camponesas.
Rodríguez até agora não conseguiu articular um discurso claro, mas as pesquisas o colocam em terceiro lugar, com cerca de 15% das intenções de voto. As pesquisas também mostram que um quarto do eleitorado permanece indeciso. Uma parte dessa porcentagem é considerada Evote. A decisão de Morales sobre como seus apoiadores votarão ou não terá grande importância para o resultado final, embora seja improvável que ele apoie Rodríguez, a quem no Chapare chamam de "traidor supremo".
A luta fratricida entre Morales e Arce foi descrita por jornalistas bolivianos e internacionais como "imolação", "autodestruição", "implosão" e "canibalismo". Juntamente com a crise econômica, parece representar o fim de um longo ciclo político dominado pela esquerda e pelo estatismo. O que nos espera na Bolívia ainda é uma incógnita, embora tudo indique que terá um desfecho diferente.