04 Julho 2025
Com a realização de parada militar em 14 de junho que custou 40 milhões de dólares aos cofres públicos para marcar o dia do natalício do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump se inscreve a um eventual próximo livro do jornalista Ariel Palacios, autor de “América Latina lado B – O cringe, o bizarro e o esdrúxulo de presidentes, ditadores e monarcas e vizinhos do Brasil”.
O artigo é de Edelberto Behs, jornalista.
Oficialmente, a parada militar festejava os 250 anos do exército, mas no fim da fala de Trump o palanque das autoridades entoou um “Parabéns pra você”, o que deixou marcado nas entrelinhas as reais prioridades do evento.
O livro, explica Ariel no prólogo, “é uma antologia de excentricidades, loucuras, comportamentos corruptos, frivolidades, exorbitâncias financeiras a uma dolce vita pessoal – mas como o dinheiro público – recheadas de crueldades, perversões, ambições e passionalismos, além de egocentrismos turbinados praticados por presidentes (civis e militares, ditadores e eleitos) dos países da América Hispânica e do Caribe.
Escolha em quais excentricidades caberia colocar Donald Trump. Palacios não olhará para ele porque o livro se limita, como deixa manifesto, dos mandatários da América Hispânica e do Caribe. Ele também explica por que o Brasil ficou fora. “Talvez nosso (re)conhecimento se dê de forma mais clara quando olharmos para os outros, para que, a partir de comparações, diferenças e semelhanças saltem aos olhos”.
Vejam que exemplos nacionais não faltariam. Basta olhar para um passado nem tão distante e encontrar na presidência da República figuras como Jânio Quadros, o homem da vassourinha que limparia o país, Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás, e Jair Messias Bolsonaro com seus arroubos de machismo. Ariel terá, se assim o desejar, farto material para um livro com material exclusivo da gente de casa.
Uma das estórias mais fantásticas no Lado B da América Latina vem do México. Em 1838, mexicanos e franceses se enfrentaram em Veracruz e o general Antonio de Padua María Severino López de Santa Anna y Pérez de Lebrón, mais conhecido como Antonio López de Santa Anna, foi atingido pelos estilhaços de tiro de canhão e os médicos tiveram que amputar uma perna, que acabou enterrada, com honras, no jardim de fazenda de sua propriedade.
Mas o general galgou a presidência da República e, com o status presidencial, decidiu, em 1842, fazer um funeral para sua perna. Organizou, portanto, um desfile militar, com a participação de sete bandas que interpretaram marchas fúnebres. O cortejo contou com a presença de representantes da Igreja Católica mexicana, embaixadores, parlamentares. O próprio Santa Anna presidiu o funeral de Estado, que teve até missa na igreja de Zempoala. “A perna do ‘Salvador da Pátria’ foi colocada dentro de um caixão de madeira de lei e coberto com a bandeira mexicana”, relata Ariel.
O livro vem repleto de fatos que cabem num anedotário. Ariel lembra a fuga do presidente do Peru, Alberto Fujimori, ao Japão, que de lá enviou pedido de renúncia por fax “(o primeiro e até agora único caso mundial de renúncia registrado nessa modalidade)”. O autor também traz estatísticas: 14 presidente e ex-presidentes da Bolívia, desde sua independência em 1825, partiram desta para outra dimensão de forma não natural.