03 Julho 2025
Segundo o hospital Nasser em Khan Younis, há demasiados cadáveres na Faixa: agora as famílias estão a fazer o que podem.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 03-07-2025.
Não há descanso em Gaza, nem mesmo eterno. Tantas pessoas estão morrendo que não sabem mais onde enterrá-las. Os cemitérios estão acabados. Acima está tudo destruído, abaixo os lugares disponíveis estão esgotados, devastados por bombas israelenses ou inacessíveis. Eles se contentam com valas comuns, cavando buracos no chão onde podem, na rua, ao lado dos escombros, nos pátios do que antes eram escolas. Jogando os corpos em lixeiras. O alarme, entre mil outros alarmes vindos da Faixa de Gaza atormentada em meio a uma catástrofe humanitária, é dado pelo hospital Nasser em Khan Younis, uma das poucas unidades de saúde ainda em operação. No portão do necrotério, os funcionários do serviço penduraram um lençol, branco como uma rendição: nele escreveram uma mensagem alertando a população sobre a impossibilidade de enterrar os mortos em sua área de competência porque os nichos de sepultamento estão cheios.
Aqui estão algumas notícias para os céticos dos números, aqueles que dizem "não é verdade que há 57 mil vítimas palestinas, há muito menos, é o Hamas que está inflando os números propositalmente". Médicos e moradores de Gaza dizem ver corpos em decomposição enterrados na areia e, quando não os veem, sentem o cheiro. Após cada ataque do Estado judaico, o número de mortos é atualizado pelos hospitais que recebem os mortos e feridos e pelo Ministério da Saúde que, como todo aparato administrativo na Faixa de Gaza, estava, e provavelmente ainda está, sob o controle do Hamas. Esses números também foram considerados plausíveis por observadores independentes, mas o número é certamente impreciso, pois as vítimas podem ser mais numerosas. Até o dobro: o jornal progressista Haaretz, com base em fontes internacionais, estima que possam chegar a 100 mil.
A certeza será alcançada quando o conflito terminar, com o tempo, mas mesmo que tenham sido menos do que os 57 mil declarados, ainda assim é um massacre. As imagens dizem isso, a História diz isso e os cemitérios dizem isso.
Na Faixa de Gaza, havia 60 antes da guerra, dos quais 22 foram destruídos por mísseis e 18 estão seriamente danificados. Cerca de vinte permanecem, lotados. O Ministério local do Waqf (Assuntos Religiosos) fornece detalhes da situação e fala de uma "grave crise de sepultamento". Em Khan Younis, não se sabe onde enterrar os mortos com dignidade; em Rafah, simplesmente não se consegue: o toque de recolher é quase total, a província está parcialmente vazia devido às ordens de evacuação emitidas pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) e os combates com as brigadas Qassam raramente deixam espaço para funerais e enterros.
“Moradores são forçados a depositar seus mortos em valas comuns, hospitais, escolas, parques públicos e nas ruas”, relata o Ministério do Waqf. “A proibição da entrada de materiais de construção para as sepulturas levou os cidadãos a recorrerem a caçambas de lixo. Estamos buscando terrenos alternativos que permitam enterros temporários e seguros”.
Parece ter surgido uma espécie de negócio de entes queridos falecidos: para juntar alguns shekels para gastar em comida no mercado clandestino, há quem venda covas pré-cavadas por 700 shekels (cerca de 176 euros), aproveitando-se das circunstâncias e da falta de cimento, pedras para as lápides e mortalhas para os cadáveres. É uma quantia altíssima para os bolsos dos moradores de Gaza sitiados. A alternativa é ver os cadáveres de seus parentes apodrecendo sob o sol do segundo verão de guerra, ou ter que enterrá-los na rua.