02 Julho 2025
Em debates recentes sobre tendências conservadoras ou extremistas de direita na Igreja e na política, o neointegralismo católico tem sido mencionado com mais frequência como um movimento importante nesse cenário. Mas o que exatamente é o neointegralismo? Quais são as raízes históricas e ideológicas do movimento? Quais objetivos políticos ele persegue? E quem são seus principais representantes e modelos políticos? O cientista político americano James M. Patterson, da Universidade do Tennessee, explica isso em uma entrevista ao katholisch.de.
A entrevista é de Steffen Zimmermann, publicada por Katholisch, 01-07-2025.
Professor Patterson, ao discutir tendências conservadoras de direita ou mesmo extremistas de direita na Igreja Católica, o termo "neointegralismo" tem sido mencionado com mais frequência ultimamente. O que esse termo significa?
O termo se refere a uma teologia política radical que visa restabelecer a Igreja Católica como autoridade suprema sobre a ordem secular. Os neointegralistas exigem que a Igreja seja responsável não apenas pela salvação das almas, mas também pelo bem comum dos Estados — e disso derivam o direito de impor deveres aos governos seculares. Seu objetivo é uma sociedade predominantemente católica, na qual o Estado promova ativamente a "fé correta". Para os neointegralistas, a paz civil só é possível se todos os cidadãos forem católicos.
Isso parece bastante teórico...
É verdade. No entanto, os principais representantes do neointegralismo há muito formularam programas políticos concretos. Em seu livro "Integralismo: Um Manual de Filosofia Política", Alan Fimister e Thomas Crean, por exemplo, escrevem que uma comunidade cristã deve excluir pessoas não batizadas de todas as áreas da vida pública. Somente pessoas batizadas que professam a fé católica poderiam ser cidadãos com plenos direitos. Para aqueles de outras religiões, isso significaria, entre outras coisas, nenhuma participação política e nenhuma liberdade de movimento. Essencialmente, significaria um retorno aos guetos religiosos da Idade Média. Mesmo cristãos batizados, como protestantes e ortodoxos, seriam afetados por não estarem em comunhão com a Igreja Católica.
Isso é difícil de conciliar com os valores fundamentais das democracias modernas...
Exatamente. E isso não é coincidência. Os neointegralistas se opõem deliberadamente aos princípios das democracias liberais. Representantes como Patrick Deneen e Chad Pecknold argumentam que o liberalismo quebrou suas promessas porque afastou as pessoas da religião, da família e da comunidade. Liberdade sem compromisso com a verdade leva a uma sociedade de isolamento, solidão e desorientação. Embora Dennen e Pecknold — ao contrário de Fimister e Crean — não defendam publicamente a discriminação contra pessoas de outras religiões, eles nunca rejeitaram categoricamente suas posições.
Onde estão as raízes intelectuais do neointegralismo?
O neointegralismo se insere em uma longa tradição de ideias católicas de governo. Mesmo na Idade Média, os legalistas papais afirmavam que o papa estava acima dos governantes seculares, especialmente no que se referia à nomeação de bispos. No século XIX, os ultramontanistas reivindicavam uma espécie de monopólio papal nos estados católicos — particularmente no que diz respeito à educação, ao bem-estar social e à vida pública. O neointegralismo está ainda mais diretamente ligado aos reacionários católicos do século XIX e início do século XX: Joseph de Maistre, Juan Donoso Cortés e Charles Maurras ainda são citados hoje. Muitos desses autores eram antissemitas declarados, teóricos da conspiração e inimigos ferrenhos dos movimentos democráticos. Os neointegralistas podem evitar esses capítulos sombrios de sua história intelectual, mas os paralelos são óbvios.
A quais modelos históricos os neointegralistas se orientam especificamente?
Há duas correntes dentro do movimento. Uma que eu chamo de "Antiquários". Esse grupo está localizado principalmente nos Estados Unidos, talvez em torno da pequena Universidade Católica Franciscana em Steubenville. Seu modelo é a França medieval sob São Luís IX — uma época em que Igreja e Estado estavam intimamente interligados. Para esse grupo, a burocracia moderna é a raiz do mal. Seu sonho é um retorno a modelos pessoais e hierárquicos de governo — uma espécie de feudalismo católico.
A segunda corrente é politicamente muito mais significativa: o que eu chamo de "fascismo clerical". Seus representantes admiram abertamente as ditaduras de influência católica do século XX, por exemplo, o austrofascismo de Engelbert Dollfuss, a Espanha de Franco ou o Portugal de Salazar. Autores como Adrian Vermeule, Gladden Pappin e Nathan Pinkoski argumentam que a democracia liberal fracassou e que o Ocidente precisa de uma reorganização pós-liberal. Sua solução: um Estado forte, pouco controlado, que governe em nome da fé católica.
Quais políticos atuais servem de modelo para os neointegralistas?
O herói indiscutível de muitos neointegralistas é Viktor Orbán. O fato de ser protestante dificilmente os incomoda – o que importa são suas políticas: expansão do poder executivo, promoção de famílias tradicionais e restrição da liberdade de imprensa e oposição. Autores como Pappin, Pecknold e Sohrab Ahmari o elogiam regularmente. Políticos populistas de direita como Matteo Salvini na Itália ou Marion Maréchal na França também ressoam para eles.
Particularmente reveladora é a atitude de alguns neointegralistas em relação à República Popular da China. Por exemplo, Adrian Vermeule admira o governo chinês por seu uso eficaz do poder estatal. Ahmari escreveu certa vez no X que havia "encontrado a paz" com a China se tornando a principal potência mundial – porque, segundo ele, a lealdade familiar ainda existe lá.
O aliado político mais importante dos neointegralistas, no entanto, é o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance. Ele transita nos círculos próximos de pensadores como Deneen, Vermeule e Pecknold. Vance chama a atenção repetidamente com declarações que revelam um autoritarismo de influência católica. Ele representa uma nova direita nos EUA que não pensa mais de forma classicamente conservadora, mas sim de forma radicalmente pós-liberal.
Como os neointegralistas avaliam o estado das democracias ocidentais?
Para eles, o liberalismo está morto. Argumentam que as democracias liberais só foram possíveis graças a famílias fortes, comunidades locais e igrejas vibrantes. Mas o próprio liberalismo destruiu esses fundamentos. O que resta é uma sociedade individualista, pobre em crianças e sem coesão. Portanto, uma nova ordem é necessária — uma sociedade dominada pelo catolicismo, com princípios religiosos claros e organizada de forma autoritária.
Quão grande é o perigo representado pelo neointegralismo?
Em termos numéricos, o movimento é pequeno, mas estrategicamente é altamente perigoso. Seu objetivo não é conquistar maiorias em eleições. Seu objetivo é ocupar cargos-chave na política, na administração, nas universidades e na Igreja – de forma insidiosa, a longo prazo e sistemática. Vermeule, por exemplo, é professor na Faculdade de Direito de Harvard e Deneen na renomada Universidade de Notre Dame. Muitos outros atores atuam em universidades católicas. Vermeule gosta de falar de um "novo ralliement" – em referência ao Papa Leão XIII, que no século XIX convocou os católicos na França a participarem ativamente da política. Hoje, Vermeule significa a entrada direcionada em administrações, ministérios e think tanks para reestruturar os Estados de dentro para fora. É um plano de longo prazo – e justamente por isso tão perigoso.
Um nome frequentemente mencionado em relação ao neointegralismo é Edmund Waldstein. Qual o papel do padre cisterciense do mosteiro austríaco de Heiligenkreuz no movimento?
Waldstein foi a figura central no surgimento do movimento. Sem ele, o neointegralismo em sua forma atual não existiria. Com seu projeto online "Os Josias" e suas contribuições para a mídia católica conservadora, tornou-se um líder intelectual. Foi ele quem primeiro apresentou as ideias do neointegralismo a teólogos como Vermeule e a publicistas como Ahmari. Hoje, Waldstein aparece menos publicamente, mas sua influência continua perceptível. Especialmente nos EUA, seus textos influenciaram muitos jovens conservadores. Seus livros ainda são lidos nesses círculos.
Segundo relatos da mídia, Waldstein também foi uma fonte de inspiração para J.D. Vance. O que você sabe sobre isso?
Vance frequentava os mesmos espaços de debate online que Waldstein e seus associados, e entrou em contato com as ideias do neointegralismo por meio de pessoas como Vermeule e Pecknold. É um segredo aberto nos círculos conservadores que a equipe de Vance teria estudado intensamente os escritos de Waldstein. Isso cria uma rede de influência indireta, mas clara. Em suma, Waldstein é muito importante para a compreensão de Vance, especialmente em sua transformação política de conservador moderado para pós-liberal pró-Trump.
Devido às reportagens da mídia sobre o Padre Waldstein, a Universidade de Innsbruck recomendou recentemente que ele não submetesse sua tese de habilitação à universidade. Como o senhor avalia esse processo?
Na minha opinião, é bom que as instituições estabeleçam limites claros desde o início. Quanto mais tempo permitirmos que movimentos como o neointegralismo operem livremente, mais difícil se torna conter suas ideias. Pessoalmente, sinto pena de Waldstein por as coisas terem chegado a esse ponto. Ao mesmo tempo, esta é uma oportunidade para ele se distanciar dessas ideologias. Resta saber se ele dará esse passo.
Como a Igreja Católica deve responder ao neointegralismo?
A Igreja deve nomear e condenar claramente o neointegralismo. O Papa Francisco já o fez em 2019, quando o chamou de "praga". Os Estados democráticos também devem estar vigilantes. No entanto, proibir esses grupos pode ser contraproducente, pois os torna mais atraentes. É muito mais importante expor as promessas manipuladoras dessa ideologia: não se trata de proteger a fé, mas de uma política de poder brutal sob o disfarce da religião.