02 Julho 2025
Após mais de um ano fechado devido à enchente de maio de 2024, o Teatro Renascença reabre ao público com a estreia de A Mulher que Virou Bode: A História Perdida de Jurema Finamour. Com sessões de 27 de junho a 6 de julho – sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h –, a montagem conta a história da jornalista e escritora que foi a primeira mulher presa política no Rio Grande do Sul durante a ditadura militar.
A reportagem é de Ricardo Romanoff, publicada por Matinal, 25-06-2025.
Marcelo Bulgarelli dirige o elenco formado pelas atrizes e cantoras Deliane Souza, Eulália Figueiredo, Iandra Cattani, Luiza Waichel (que assina a dramaturgia da peça com Bulgarelli) e Sofhia Lovison. O espetáculo mescla teatro, música e elementos documentais – incluindo uma exposição, no saguão do Renascença, que reúne materiais coletados durante a pesquisa de quatro anos da jornalista e escritora Christa Berger para a biografia Jurema Finamour: A Jornalista Silenciada (Libretos, 2022), livro que orientou a concepção do espetáculo.
“A Christa resgatou a memória de infância de quando leu Vais Bem, Fidel (1962), escrito pela Jurema, e foi atrás de outros materiais. Acabou descobrindo que a Jurema foi uma grande escritora e jornalista brasileira, uma mulher que conviveu com a elite intelectual da sua época, com nomes como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Vinícius de Moraes e Pablo Neruda”, conta Bulgarelli.
“Nos interessamos pela história e propusemos ampliar a voz da jornalista silenciada por meio das artes da cena”, completa o diretor. A pesquisa para a montagem começou em 2023, e os ensaios, em 2024. O nome remete à obra autobiográfica A Mulher que Virou Bode, lançado por Jurema em 1994.
“A escrita dela é poética, profunda, humana, provocadora, com uma dose sutil de humor. No livro A Mulher que Virou Bode, ela compartilha as memórias do golpe de 1964 e matérias de jornal falando que ela era a segunda mulher mais procurada do Brasil, subversiva e perigosa, secretária de Brizola – o que ela nunca foi – e comunista chinesa”, diz Bulgarelli.
O cenário tem predominância do azul em alusão a pinturas de Candido Portinari, um dos tantos interlocutores ilustres da jornalista. As 12 canções da trilha original da peça, cantadas ao vivo, foram compostas por Antônio Villeroy, com preparação musical de Simone Rasslan e assistência coreográfica de Carlota Albuquerque. A montagem, além de contar com cinco atrizes, também utiliza máscaras humanas e não humanas para retratar as fases da vida de Jurema Finamour.
“Ela tem um boom nos anos 1950 e 1960, é silenciada na ditadura e morre com oito pessoas em seu velório. Quis potencializar esses diferentes momentos e faces da Jurema”, explica o diretor da peça, viabilizada com recursos do Fumproarte e da Lei Paulo Gustavo.
Nascida em 1919, em São Paulo, Jurema Finamour mudou-se para o Rio de Janeiro em 1937. No ano seguinte, publicou Madrugada Boêmia, livro de poesia. Começou a trabalhar no gabinete do então presidente Getúlio Vargas em 1943 – no mesmo ano, entrevistou Pablo Neruda, de quem se tornaria amiga e sobre o qual, décadas mais tarde, escreveria Pablo e Dom Pablo (1975), relatando as diferenças entre as personas pública e privada do escritor – que admitiu ter estuprado uma empregada doméstica –, “o poeta humanista e o homem mesquinho”, nas palavras de Berger.
Em 1947, ela lança e dirige a revista Mulher Magazine. A partir de 1951, realiza viagens a países do bloco comunista e publica livros como Quatro Semanas na URSS: Reportagens (1953), China sem Muralhas (1956), Coreia sem Paz (1968) e Vais Bem, Fidel (1962) – trajetória que levou a sua perseguição pela ditadura militar instaurada no Brasil em 1964.
No ano do golpe, ela foge do Rio de Janeiro para Porto Alegre e, da capital gaúcha, parte para o Uruguai, onde convive com Leonel Brizola. Segue para o Chile e trabalha de secretária de Pablo Neruda. Do país latino-americano, viaja para a Alemanha e Paris. Em 1965, volta clandestina para o Brasil e é presa na fronteira do Uruguai com o Rio Grande do Sul. “A vida dela é marcada pelo golpe de 1964, que a atinge muito fortemente. Mesmo não sendo filiada a nenhuma organização política, é considerada uma subversiva”, conta Berger.
“A Jurema esteve detida no DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social), em Porto Alegre, por 50 dias, após ser presa em Rosário do Sul e passar por Santana do Livramento. Ela sai do DOPS no dia 25 de julho de 1965. Faz a conta de quando ela começou o período de prisioneira. E é em Porto Alegre, onde ela esteve presa, no mês de junho, há 60 anos, que ela vai para o palco. É emocionante pensar nessa coincidência”, completa a biógrafa de Jurema.
Às sextas-feiras, as sessões do espetáculo terão interpretação em Libras. Na sessão de 20 de junho, também haverá o recurso de audiodescrição. Em todas as sextas-feiras da temporada, após o espetáculo, Christa Berger conversa com o público (com interpretação em Libras).
Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro, com abertura uma hora antes do início das apresentações. A produção informa que quem já havia adquirido ingressos nas datas adiadas devido à prorrogação das obras no Teatro Renascença pode solicitar reembolso total ou trocar por outra sessão.
Temporada de 27 de junho a 6 de julho de 2025
Sextas e sábados, às 20h, domingos, às 18h
Local: Teatro Renascença (av. Érico Veríssimo, 307, Porto Alegre)
Ingressos: R$ 50
Meia-entrada: para estudantes, idosos, jovens pertencentes a famílias de baixa renda (de 15 a 29 anos), pessoas com deficiência e profissionais da classe artística
Ingressos à venda pela plataforma Sympla e direto na bilheteria do teatro, uma hora antes das apresentações
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 14 anos
"Jurema Finamour: a Jornalista Silenciada", de Christa Berger (Editora Libretos, 2022)