28 Junho 2025
Quase um terço dos habitantes de Tuvalu, arquipélago do sudoeste do Pacífico ameaçado pela elevação do nível dos oceanos, busca obter visto para viver na Austrália, segundo dados oficiais obtidos pela AFP. Mais de 3 mil tuvaluanos se registraram para o primeiro sorteio que concederá 280 vistos, de acordo com números fornecidos pelo programa australiano — o que representa quase um terço dos cerca de 10 mil habitantes do arquipélago.
A informação é publicada por RFI, 26-06-2025.
A Austrália prevê conceder, anualmente, 280 vistos a cidadãos de Tuvalu ameaçados pela elevação do nível do mar, como parte de um tratado bilateral assinado em 2024, chamado “União Falepili”.
Um porta-voz do ministério australiano das Relações Exteriores e Comércio classificou o tratado como “o primeiro acordo desse tipo no mundo”, permitindo aos tuvaluanos uma “mobilidade com dignidade diante do agravamento das mudanças climáticas”. Como parte do tratado, a Austrália criou uma nova categoria de visto exclusivamente para cidadãos adultos de Tuvalu.
“A Austrália reconhece o impacto devastador das mudanças climáticas sobre os meios de subsistência, a segurança e o bem-estar de países e populações vulneráveis ao clima, especialmente na região do Pacífico”, afirmou o porta-voz.
Dados oficiais do programa mostram que 3.125 tuvaluanos se inscreveram no sorteio nos quatro dias após sua abertura, na semana passada.
Tuvalu tem 10.643 habitantes, segundo o censo de 2022. A inscrição custa 25 dólares australianos (cerca de R$ 90), e o sorteio será encerrado em 18 de julho.
Cientistas temem que o arquipélago de Tuvalu — um dos territórios mais ameaçados pelas mudanças climáticas — se torne inabitável dentro de 80 anos. Dois de seus nove atóis de corais já desapareceram quase completamente sob as águas.
Para o geógrafo da Universidade de Sydney, John Connell, os candidatos à emigração esperam encontrar na Austrália melhores oportunidades de emprego, educação e saúde. No entanto, ele alerta que o êxodo de trabalhadores qualificados pode ameaçar o futuro de Tuvalu.“Os atóis não oferecem muitas perspectivas: a agricultura é difícil, a pesca tem grande potencial, mas não gera empregos”, explica.
A União Falepili compromete a Austrália a defender Tuvalu em caso de desastres naturais, pandemias ou até uma eventual “agressão militar”. “Pela primeira vez, um país se comprometeu legalmente a ajudar Tuvalu, mediante solicitação”, agradeceu na época o primeiro-ministro de Tuvalu, Feleti Teo.
Em contrapartida, o acordo concede à Austrália o direito de opinar sobre quaisquer pactos de defesa que Tuvalu venha a firmar com outros países — o que gerou preocupações.
O objetivo do tratado, para Camberra, também é conter a influência da China na região. Tuvalu está entre os 12 países no mundo que reconhecem oficialmente Taiwan.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, declarou no ano passado que seu país compartilha a visão de uma “região pacífica, estável, próspera e unida”.