13 Junho 2025
Xan López é engenheiro de computação, mas sua preocupação com a crise climática o levou a realizar reflexões interessantes sobre a situação que vivemos. Em El fin de la paciência: Un ensayo sobre política climática (Anagrama, 2025), aborda as duas crises que, segundo ele, enfrentamos como espécie humana e alerta que se não agirmos agora, o tempo, assim como a paciência, irá se esgotar. Por isso, após tanta insistência em ferramentas do passado, propõe explorar outros caminhos como solução urgente para garantir que a espécie humana siga habitando nosso planeta, nos próximos séculos.
A entrevista é de Pedro Silverio, publicada por Ethic, 10-11-2025. A tradução é do Cepat.
Quinze anos após o movimento 15M apontar que os partidos políticos eram um problema para a nossa democracia, você inicia o livro afirmando que chegou o momento de esquecermos do partido como ferramenta para canalizar as aspirações políticas. Qual é a solução, então?
Penso que há duas questões aí. Por um lado, movimentos como o 15M demonstram claramente a crise organizacional dos partidos de massa e a falta de representação política de uma parcela muito significativa da população. Em situações difíceis como a crise econômica e financeira que então vivenciamos, surgem viradas, novas organizações e partidos, novas formas de intervir na política.
Mas, em retrospectiva, vemos que não conseguem reverter a tendência de fundo: o declínio da política de massas, dos partidos amplos, estáveis e com militâncias densas que resistem a ciclos eleitorais. Essa tendência é dura e não pode ser facilmente revertida porque corresponde a realidades econômicas e sociais profundas, a transformações no trabalho e na estrutura internacional, e a dinâmicas de longo prazo.
Por outro lado, a crise climática nos impõe prazos de intervenção muito curtos para a realização de transformações profundas. Isto obriga a nos reconciliar com a ideia de que teremos de intervir nessa crise sem esses partidos de massas e sem essas estruturas organizacionais fortes e duradouras, que existiram durante boa parte do século XX. Por isso, no livro proponho uma política mais experimental, pragmática, aberta a diferentes tipos de alianças e formas de intervenção política entre diferentes grupos, que precisarão se entender de uma forma ou de outra.
Nessa proposta de se abrir a novas alianças e estratégias para garantir a viabilidade ecológica da espécie, você fala de uma aliança transversal, não apenas de esquerda?
Sim, sem dúvida. Considero que precisamos de uma força suficientemente ampla e transversal para incorporar diferentes interesses e grupos sociais. Essa força tem de ser capaz de ganhar poder para promover políticas climáticas ambiciosas, como também para alcançar consensos duradouros que sobrevivam a mudanças de governo.
Um exemplo seria o contrato social após a Segunda Guerra Mundial, que sobreviveu à alternância política entre esquerda, direita, social-democratas e democratas-cristãos. Com diferenças, sim, mas sem que o conjunto do sistema estivesse em perigo.
Precisamos estabelecer um sentido comum civilizatório e social, suficientemente duradouro para entender que a viabilidade ecológica da espécie humana não pode depender da alternância política. Isto implica se abrir a alianças e entendimentos muito mais amplos do que o simples eixo esquerda-direita, embora eu entenda que este seja um segundo passo, mais ambicioso e difícil, posterior a uma vitória inicial que permita colocar em marcha essas políticas com a força necessária.
Como conseguir esse consenso, quando há forças abertamente negacionistas e reacionárias? Ou países que consideram que a crise climática é como uma oportunidade que vão aproveitar, como a exploração da Groenlândia e do Ártico, quando se tornar navegável o ano todo...
Penso que essas ideias são em parte delírios, porque a mudança climática gera instabilidade radical e é impossível prever quais regiões serão seguras ou habitáveis. Pode haver incêndios devastadores na Sibéria e ondas de calor extremas no norte. A ideia de que existem refúgios climáticos ou países “seguros” é cada vez menos sustentável. Diante de forças reacionárias, neofascistas e de niilistas climáticos, a transversalidade tem um limite. É necessário estabelecer uma aliança o mais forte possível para enfrentá-las e derrotá-las.
Parte da luta climática nesta década e neste século será justamente impedir que essas forças cheguem ou se mantenham no poder e, caso o alcancem, que o percam o quanto antes. Não devemos nos conformar com uma política de sobrevivência mínima, mas, sim, almejar consensos estáveis e duradouros em torno da viabilidade ecológica da espécie.
Você considera que o ecologismo perdeu credibilidade por causa de suas previsões fracassadas e dos discursos alarmistas?
Aqui, eu faria uma distinção clara entre o trabalho científico e o discurso político ecologista. Os cientistas do clima têm sido surpreendentemente precisos em suas previsões, por exemplo, em relação ao aumento das temperaturas medido por satélites e outros sistemas. O IPCC apresenta diferentes cenários possíveis, porque modelar um sistema tão complexo como o clima, que inclui a atividade humana, requer considerar várias possibilidades. Mas, dentro dessa variabilidade, a ciência tem sido muito robusta e confiável, e as previsões para o resto do século são bastante alarmantes.
Outra coisa é o discurso ecologista, que às vezes caiu no alarmismo a curto prazo, com afirmações que depois não se cumpriram. Isto pode minar a credibilidade em alguns momentos. Eu sempre me prendo ao consenso científico, que já é suficientemente grave e alarmante. Existe uma certa escola ecologista que peca por catastrofismo e por propor cenários apocalípticos a curto prazo que depois não acontecem, e isso também não ajuda. Contudo, não acredito que isso possa ser completamente evitado. O importante é apresentar outras propostas e formas de entender a crise, e combater o alarmismo com rigor.
Em relação ao discurso decrescentista, como evitar que a classe média perceba o ecologismo como uma bronca constante?
Aqui, há uma contradição real e não pode ser superada apenas com artifícios discursivos. É verdade que a classe média global, hoje mais dispersa geograficamente, é a responsável por uma parte muito significativa das emissões de gases do efeito estufa. Entre 800 e 1,6 bilhão de pessoas, 10-20% da população mundial, geram a maior parte das emissões. Antes, essa classe média estava concentrada nos países ricos; agora, expandiu-se pelo mundo.
Não se trata de culpar o cidadão comum, mas, sim, de apontar que existe uma elite que impõe um modelo de consumo predatório. O desafio é construir um discurso mais proativo e justo, que não recaia apenas nas renúncias individuais, mas que também aponte para mudanças estruturais e para a responsabilidade daqueles que mais contribuem para o problema.
Se o discurso ecologista é percebido como uma bronca constante, como uma repreensão ao cidadão comum por suas férias ou seu consumo, ao final, gera rejeição e desmobilização. É necessário mudar o enfoque e propor alternativas coletivas, justas e estruturais.
E como você observa o papel dos cidadãos neste contexto de crise e transição política?
Os cidadãos têm um papel fundamental, mas não podemos esperar que toda a transformação recaia nas decisões individuais. Necessita-se uma ação coletiva, alianças amplas e uma pressão social que obriguem os poderes públicos e econômicos a agir. A transição ecológica só será possível se se tornar um projeto compartilhado, transversal e duradouro, que supere a alternância política e os interesses de curto prazo. A chave está em estabelecer um novo sentido comum civilizatório, que entenda a viabilidade ecológica como um princípio irrenunciável.