11 Junho 2025
Milhares de pessoas foram às ruas de Nova York na terça-feira em solidariedade às manifestações contra as operações de imigração do governo Trump, que começaram em Los Angeles na semana passada. Gritando "ICE, saia!" e agitando bandeiras mexicanas, porto-riquenhas, peruanas, colombianas, cubanas e palestinas, os nova-iorquinos se juntaram a um movimento de protesto que, após eclodir na Califórnia neste fim de semana, se espalhou para o resto do país. Manifestações foram realizadas em quase todas as grandes cidades ao longo da semana.
A reportagem é de Paola Nagovitch e Jesús Jank Curbelo, publicada por El País, 11-06-2025.
O protesto na Big Apple na terça-feira começou na Federal Plaza, em Lower Manhattan, onde estão localizados os escritórios de várias agências federais de imigração, incluindo o ICE, e o principal tribunal de imigração da cidade, e onde outras manifestações ocorreram nos últimos dias. Os gritos e aplausos de milhares de manifestantes ecoaram nas fachadas dos prédios onde dezenas de imigrantes foram detidos nas últimas semanas para audiências judiciais, enquanto o governo Trump intensifica sua campanha de detenção e deportação.
Os manifestantes foram recebidos com forte presença policial e barricadas. Enquanto a maioria marchou para o norte pelas ruas de Manhattan após as 18h, um pequeno grupo permaneceu na área da Federal Plaza, onde posteriormente ocorreram alguns confrontos entre manifestantes e autoridades. Várias prisões foram feitas — pelo menos 20, segundo os organizadores do protesto.
Centenas de pessoas foram presas em protestos por todo o país — cerca de 200 só em Los Angeles — enquanto agentes federais usaram gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha contra manifestantes. Em Los Angeles, quase 5.000 soldados se juntaram à repressão policial aos protestos, que entraram em seu quinto dia na terça-feira, após terem começado na sexta-feira passada em resposta a batidas policiais de imigração realizadas em várias partes da cidade californiana.
Em Nova York, os protestos começaram no sábado, horas depois de terem começado na metrópole californiana. Naquele dia, cerca de 100 pessoas também se reuniram na Federal Plaza. Os manifestantes acabaram entrando em confronto com as autoridades após bloquearem uma van branca que saía de um prédio próximo, que, segundo espectadores, pertencia à polícia de imigração. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram manifestantes formando uma corrente humana para parar o veículo. Outras imagens mostram o acidente que se seguiu, no qual as autoridades prenderam 22 pessoas e usaram spray de pimenta para dispersar a multidão. Vários manifestantes ficaram feridos na altercação e tiveram que ser levados a hospitais próximos.
O prefeito de Nova York, Eric Adams, democrata e aliado de Trump, já alertou que não tolerará o tipo de confronto que eclodiu em Los Angeles, que ele chamou de "inaceitável". "Entendo que alguns nova-iorquinos possam estar com raiva, assustados e prontos para expressar isso. A cidade de Nova York sempre será um lugar para protestos pacíficos, mas não permitiremos violência ou ilegalidade", disse Adams na noite de segunda-feira.
Horas antes, um grupo de manifestantes realizou um protesto pacífico dentro do saguão da Trump Tower, na Quinta Avenida, em Manhattan. A ação resultou em 24 prisões, segundo a polícia local. Outros também se reuniram novamente perto da Federal Plaza, onde pelo menos oito pessoas foram presas.
Além de Nova York e Califórnia, houve manifestações em estados como Illinois, Novo México, Pensilvânia, Nevada, Flórida, Massachusetts, Geórgia, Minnesota, Kentucky e Washington. No total, manifestações foram registradas em mais de duas dezenas de cidades, e é possível que se sobreponham aos milhares de protestos anti-Trump já planejados em todo o país para o próximo sábado, aniversário do presidente. A maioria foi pacífica e controlada, em frente aos escritórios locais do ICE ou em frente às prefeituras. O tamanho das ações variou: algumas tiveram algumas dezenas de participantes, enquanto outras atraíram milhares de pessoas.
Além de exigir o fim das batidas policiais, os manifestantes também foram às ruas para demonstrar apoio a David Huerta, um proeminente líder sindical e defensor dos direitos civis que foi preso na sexta-feira em Los Angeles enquanto protestava contra uma batida policial contra imigrantes. Huerta foi libertado sob fiança na segunda-feira, mas enfrenta uma acusação de conspiração para obstruir um agente federal. Sua prisão, registrada em vídeos e imagens compartilhados nas redes sociais, o tornou um símbolo dos protestos.
O Texas também tem sido palco de confrontos entre manifestantes e autoridades. Em Austin, capital do estado, confrontos tensos com as autoridades eclodiram na noite de segunda-feira. A marcha começou no Capitólio e continuou até o prédio federal JJ Pickle, que o ICE usa como centro de detenção. Lá, alguns atiraram tinta e pedras contra os policiais e arranharam as janelas do prédio. Imagens nas redes sociais e na imprensa local mostram um grande número de pessoas correndo para escapar do spray de pimenta usado pelos guardas. A chefe de polícia local, Lisa Davis, disse que as autoridades usaram gás lacrimogêneo, embora ela tenha se recusado a chamá-lo de gás lacrimogêneo. Pelo menos duas prisões foram relatadas durante o dia.
Por sua vez, o governador do estado, Greg Abbott, republicano e aliado ferrenho do presidente Trump, especialmente em questões de imigração, escreveu em sua conta no X na segunda-feira: "Protestos pacíficos são legais. Mas, uma vez que você cruze a linha, será preso. FAFO", usando a sigla para "foda-se e descubra".
Em Dallas, cerca de 400 pessoas se reuniram na segunda-feira na Ponte Margaret Hunt Hill, perto do centro da cidade. Segundo a mídia local, a manifestação começou com cartazes, bandeiras e slogans em apoio aos direitos dos imigrantes. No entanto, por volta das 22h, a polícia ameaçou os manifestantes com prisão caso não saíssem. Por volta das 23h, policiais cercaram um grupo e prenderam pelo menos uma pessoa. O pastor de uma igreja local relatou ter sido atingido por spray de pimenta por um policial, enquanto, com as mãos levantadas, dizia ao policial: "Eu não sou uma ameaça". Foi confirmado que os policiais usaram o spray contra outros manifestantes.
“Enquanto agentes do ICE, policiais e a Guarda Nacional lotam as ruas de Los Angeles para brutalizar aqueles que exercem seu direito de protestar, lembramos que toda mudança só foi conquistada pela luta. Para vencer, precisamos continuar lutando”, afirmou em um comunicado a seção de Houston do Partido pelo Socialismo e Libertação, uma das organizadoras dos protestos naquela cidade no fim de semana. Marchas pacíficas também foram realizadas na cidade texana de San Antonio, onde centenas de pessoas marcharam durante o fim de semana sob o lema “Dinheiro para empregos e educação, não deportações racistas”.
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