10 Junho 2025
Nos últimos 20 anos, houve uma redução na confiança em partidos políticos e no governo federal.
A informação é publicada Jornal da Universidade e reproduzida por Sul21, 07-06-2025.
Nos últimos 9 anos, houve uma queda no número de menores de idade registrados como eleitores, opção em que o voto é facultativo. Enquanto em 2016 havia 2,3 milhões de eleitores com 16 ou 17 anos, em 2024 esse número caiu para 1,8 milhões, segundo as últimas estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Essa tendência está relacionada ao que os acadêmicos descrevem como um crescente desinteresse em política pelos jovens. Na tentativa de compreender os caminhos que nos levaram ao cenário atual, há cada vez mais estudos tratando de valores e atitudes dessa faixa etária.
Uma pesquisa recente do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFRGS analisou a concepção que os jovens de Porto Alegre têm sobre o assunto. Ela revelou que, nos últimos 20 anos, houve uma redução na confiança em partidos políticos e no Governo Federal, níveis cada vez menores de preferência partidária e uma queda na participação política.
Os entrevistados foram questionados sobre ideologia, interesse, preferência partidária, confiança e participação política. As enquetes foram realizadas pelo Núcleo de Pesquisas sobre América Latina (Nupesal) da UFRGS, que entrevistou jovens de 13 a 24 anos em 2005, 2015 e 2019 na capital gaúcha.
A autora do estudo, Patrícia Rocha, defende que o clima de desconfiança e desinteresse se acentuou desde a Operação Lava Jato. A maior investigação sobre esquema de corrupção no Brasil começou em 2014, e a segunda pesquisa do Nupesal conseguiu captar essa diferença no comportamento em 2015.
“Os jovens têm pouquíssimo interesse pelos assuntos políticos. Eles são, em geral, apáticos, não participam, não se interessam pela política”, explica. Para ela, a não participação e o desinteresse são atitudes da população brasileira no geral, e que os jovens reproduzem.
Gráfico da ideologia política dos jovens em Porto Alegre (Fonte: Patrícia Rocha).
Na pesquisa, a maioria dos entrevistados respondeu que se identificava com o centro, posicionamento que dá igual importância a pautas como o combate à desigualdade social e a intervenção mínima do Estado. Nos três anos de pesquisa, essa foi a resposta mais frequente, atingindo o nível máximo de 38,9% em 2015.
Centro-esquerda e centro-direita são, respectivamente, a segunda e a terceira resposta com maior número de adeptos. Em contraste, a extrema-direita têm se tornado ligeiramente mais impopular e a extrema-esquerda praticamente estagnou desde o início das pesquisas. Nenhum dos dois últimos ultrapassa os 7% nas pesquisas.
Rodrigo González, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política, alerta: “Essa tendência centrista é menos um indicativo de moderação e mais um indicativo frequente de alienação. É uma forma de não se comprometer com uma posição específica”.
Ele acrescenta que a polarização ainda está presente, mas acontece entre aqueles que têm uma posição clara. Esses grupos são ativos, porém são a minoria nessa faixa etária.
Desde 2002, os jovens de Porto Alegre têm se distanciado cada vez mais da preferência por algum partido. No primeiro ano, 48,6% responderam afirmativamente à preferência partidária, enquanto em 2019 esse número caiu para 15,3%.
Rodrigo relaciona esse resultado à menor dedicação dos partidos políticos ao movimento estudantil, que antes fazia a juventude se identificar com eles. A diminuição do “favoritismo” na sociedade brasileira, no geral, é também um reflexo do discurso antipolítico: “Há uma ideia de que todo político é ruim, e tudo é corrupção”.
Os jovens que participam de partidos políticos são o menor grupo, atingindo a menor porcentagem em 2019, quando 4,4% dos entrevistados atuavam nessa área. Houve uma queda de 14,4 pontos percentuais desde 2002, ano em que 18,8% dos jovens participavam de partidos.
“Muitos jovens do ensino médio dizem valorizar as organizações estudantis. Mas quando se pergunta individualmente se ele participa, diz que não. É muito mais uma percepção abstrata de que a participação é mais importante que um vínculo real”, exemplifica o professor.
Por outro lado, a participação ligada às instituições religiosas teve um aumento significativo: cresceu 12,8% em 4 anos. Em 2002, 40% dos porto-alegrenses entrevistados participavam nesse meio, número que caiu para 34,1% em 2015. E só em 2019 chega a 46,9%, mas, em todos os anos, essa é a forma de participação mais comum.
A pesquisa do Nupesal avaliou também o nível de confiança dos porto-alegrenses na escola, no Governo Federal, nos partidos políticos, nas Forças Armadas, na polícia e na internet.
Houve um aumento na confiança nas Forças Armadas e na polícia, embora pequeno. A primeira instituição conquistou o maior público (74,1%) em 2019. No mesmo ano, 71,1% dos jovens disseram confiar na polícia.
Gráfico de confiança dos jovens de Porto Alegre em instituições (Fonte: Nupesal).
Em todos os anos estudados, a escola é a instituição mais confiável, aprovada por 89,5% dos jovens em 2015. Os partidos políticos e o Governo Federal, no entanto, são cada vez mais impopulares.
A dissertação completa está disponível no Lume, o Repositório Digital da UFRGS.