07 Junho 2025
O grande intelectual francês publica seu primeiro romance, que permaneceu na gaveta por muitas décadas. Uma história autobiográfica que cruza revoluções e dramas do século XX. Uma homenagem à sua Europa e à memória da mãe que perdeu na infância.
A informação é de Anais Ginori, publicada por La Repubblica, 05-06-2025.
Aos 103 anos, Edgar Morin decidiu publicar seu primeiro romance. O Ano Perdeu a Primavera, escrito em 1948, permaneceu guardado em suas gavetas por mais de setenta anos, como um segredo frágil. "Eu não sabia se tinha talento suficiente para escrever um bom romance", confidencia. Mas havia também outro sentimento de modéstia. O livro tem suas raízes em uma ferida que nunca cicatrizou: a perda de sua mãe, Luna. "Me incomodou trazer à tona, para minha família ainda viva, os trágicos mal-entendidos que se seguiram à sua morte". Agora que o tempo passou e as sombras se dissiparam, o manuscrito ressurgiu quase por acaso dos arquivos e foi finalmente publicado na Itália pela Guanda, em uma tradução de Silvia Turato.
Capa de L'année a perdu son Printemps, romance autobiográfico escrito pelo filósofo francês Edgar Morin, publicado em 05-06-2024. © captura de tela Editions Denoël.
Um evento editorial que Morin, com um sorriso irônico e grato, diz viver com "muita alegria". Ele atende a uma videochamada de Marrakesh, onde mora alguns meses por ano, terra natal de Sabah, sua última esposa. "Quanto mais velho fico, mais preciso do sol. Detesto os outonos e invernos parisienses, sempre cinzentos", diz.
Em julho, por seu centésimo quarto aniversário, ele estará na França. Em 2021, Emmanuel Macron lhe dedicou uma grande festa no Eliseu, celebrando l'homme-siècle, o homem-século. Ele relembrou sua infância em Belleville, seu compromisso com a Resistência, suas batalhas intelectuais, seus livros que marcaram épocas. Morin passou a vida tentando apreender a "complexidade do mundo", como escreveu em O método, a obra monumental publicada entre 1977 e 2006, que lhe rendeu o apelido de "Diderot do século XX". Ele viveu guerras, ideologias, catástrofes, ilusões. Ele foi tudo: sociólogo, antropólogo, ativista, combatente da resistência, europeu. Mais de quarenta universidades o nomearam doutor honoris causa. Na França, já existem escolas e centros de pesquisa que levam seu nome.
O Ano Perdeu a Primavera é um romance sobre a passagem para a maioridade e a elaboração do luto. "Era a minha Hiroshima", disse Morin diversas vezes sobre a morte repentina da mãe. Uma dor que se agravava pelo fato de estar envolto numa mentira, concebida para protegê-lo. Seu pai lhe contara que Luna havia partido para uma viagem. Morin reconstrói a vida em Paris na década de 1930, na comunidade judaica sefardita. Escola, amizades, dor silenciosa, sonhos como rotas de fuga, cinema como espaço de transfiguração. "Tudo na minha adolescência, nos meus anos de ensino médio e no meu início na Resistência é autêntico", explica, especificando, porém, que o fim trágico do protagonista marca o ponto de distanciamento da realidade.
O protagonista do romance, Albert Mercier, é um alter ego do jovem Edgar Nahoum. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escapar da Gestapo, ele muda seu sobrenome, optando por se inspirar em Magnin, um personagem de L’Espoir, o romance de André Malraux. Aos vinte anos, ele se torna um guerrilheiro, aprendendo a se mover nas sombras, a escapar da prisão, a comprar gorjetas e a pressentir armadilhas. Um dia, ele cancela um encontro em Lyon por causa de uma premonição: o amigo que o aguarda será capturado e morto. É na clandestinidade que ele conhece Violette Chapellaubeau, sua primeira esposa e mãe de suas filhas. No Dia da Libertação, ele entra em Paris agitando uma bandeira ao lado de Marguerite Duras, sua amiga de longa data. Então, ele parte para Baden-Baden e escreve Ano Zero para a Alemanha, sua primeira grande reportagem sobre um mundo em ruínas.
O luto é uma presença constante no romance, assim como em grande parte da obra do intelectual francês. Não é por acaso que seu primeiro ensaio antropológico, publicado em 1951, se intitulava L’Homme et la Mort. Já naquele texto ele falava de "resiliência", quando o termo ainda não estava em moda. Ele se lembra de ter arriscado desaparecer antes mesmo de nascer — sua mãe tentou abortar —, de ter roçado a morte durante a Resistência, de tê-la encontrado entre os escombros da Alemanha e de ter visto seus amigos mais queridos desaparecerem, um após o outro, como Marguerite Duras e seu parceiro Dionys Pascolo, com quem dançou em Saint-Germain-des-Prés. "Não é só porque tenho 103 anos. A morte sempre me acompanhou. E nunca parou de me atingir", confidencia, sem que nem uma sombra sequer apareça em seu rosto.
O título do romance é uma citação de Péricles. "O ano perdeu sua primavera, a juventude perdeu sua flor", disse o estrategista ateniense após uma derrota. Para Morin, essa primavera perdida é a dos amigos da Resistência, mas também a de toda uma geração dilacerada pela guerra. Falando de sua adolescência, ele envia uma mensagem à juventude de hoje. "Naquela época, o imperativo era resistir. Hoje, a mensagem ainda é resistir, mas a duas novas barbáries". A primeira, mais antiga, fundada na dominação e no desprezo, continua a atuar nas guerras e na repressão. A segunda, mais insidiosa, nasceu do próprio coração de nossa civilização: é a "dominação do cálculo sobre o pensamento". "O cálculo não pode compreender o sofrimento, a alegria, o êxtase, o amor". Ele cita a inteligência artificial como um emblema do progresso ambivalente. Poderia ser uma ferramenta maravilhosa, se guiada pela consciência. Mas corre o risco de nos guiar. É a encarnação perfeita das ambivalências do progresso. Criamos maravilhas, mas também a bomba atômica. O progresso técnico não implica progresso moral; pelo contrário: muitas vezes coincide com uma regressão ética.
O romance transita entre o realismo e as incursões oníricas. "Para mim, os sonhos e o imaginário são fundamentais. Não são superestruturas nebulosas: fazem parte da realidade humana. Escrevi que o imaginário é real. E os sonhos, tanto em vigília quanto durante o sono, têm um papel central na minha experiência". E, portanto, a literatura, explica Morin, também é uma chave para decifrar o mundo.
Comecei a ler romances quando era menino e continuo lendo até hoje. Acredito que o romance ilumina, mais do que a academia, o que somos: indivíduos, sociedade, humanidade. Entre suas leituras recentes, ele cita Pierre Boulle e Mario Vargas Llosa.
Morin observa com preocupação o retorno do extremismo, do populismo e das derivas identitárias na Europa. Fenômenos que ele não considera temporários. "Duas forças se impuseram desde o início do século: a hegemonia do lucro sobre qualquer outra lógica — social, ambiental, humana — e a tragédia daqueles que sofrem os golpes da história: guerras, migrações, desastres". Para ele, estas não são crises isoladas. "Vivemos numa era perigosa. Pela primeira vez, a história tornou-se global. E, no entanto, a consciência da nossa interdependência é mais frágil do que nunca". A ideia de uma "comunidade de destino", teorizada em Terra-Pátria, continua esmagada por uma multiplicação de medos. "As pessoas refugiam-se em filiações particulares e perdem a visão do todo", alerta. É um reflexo de defesa que ele chama de "reação imunitária do mundo" e que corre o risco de alimentar as próprias patologias que procura rejeitar.
Sua esposa Sabah, quase quarenta anos mais nova que ele, o convida para uma pausa, temendo que ele se canse. Ele continua a falar. "Só um humanismo regenerado pode nos salvar. Um pensamento capaz de unir em vez de dividir, de acolher a complexidade em vez de negá-la". Ele lê a imprensa todos os dias, escreve, responde mensagens. Abriu uma conta no X, onde publica reflexões aforísticas. "Caos: decomposição ou gênese. Ou ambos, inseparavelmente", escreveu recentemente. Como se, mesmo na desordem do presente, ainda fosse possível vislumbrar uma forma nascente, uma semente de metamorfose.
É dessa urgência que surge também seu olhar preocupado com a evolução política do Ocidente. Questionado sobre Donald Trump, Morin não se esquiva. O presidente americano é, segundo ele, o símbolo da desintegração geopolítica e da crise das alianças nascidas em 1945. Para Morin, a verdadeira ameaça à Europa não vem tanto da Rússia — "que fracassou na conquista da Ucrânia" — mas da deriva interna: a erosão lenta, mas constante, das instituições democráticas sob a pressão de líderes autoritários com uma "fachada democrática".
É a crise da democracia. Regenerá-la é difícil: exigiria uma vitalidade que os partidos já não têm. E não se trata de ressuscitar a velha esquerda, mas de construir uma nova forma de pensamento político, capaz de superar tanto a social-democracia quanto o comunismo. O ser humano não é apenas racional: é também delirante, simbólico, lúdico. Todo projeto político deve partir dessa complexidade.
Ele acreditava no Sol do Futuro e não se arrepende. "Fui comunista em tempos de guerra, pois priorizei a luta contra o nazismo, negligenciando assim os defeitos do stalinismo. Mas em tempos de paz, assim que começaram os julgamentos e os expurgos, rasguei meu cartão de membro".
Em 1951, foi definitivamente expulso da direção do PCF por ter criticado o Grande Timoneiro Mao Tsé-Tung em um artigo. O partido era como uma igreja, ele lembrou. Morin escreveu Autocrítica, memórias de um ex-comunista. Em seu álbum pessoal, guardava fotos com muitos líderes da esquerda francesa, de Maurice Thorez a François Mitterrand, com quem frequentemente discutia.
Nos últimos anos, Morin mudou de casa com frequência: Rue Saint-Claude no Marais, depois Rue Vavin em Montparnasse, finalmente Montpellier, sempre em busca do sol. "Ainda há caixas", desculpou-se, como se cada mudança fosse o reflexo de uma mente em movimento. Às vezes, recebia visitas em seus escritórios no CNRS, diante de um burro de papel machê trazido de suas viagens pela América Latina, onde vivera na década de 1970 com a modelo canadense Johanne Harelle. "Gosto muito deste burro sarnento", sorriu. Outro burro, de verdade, lhe foi dado em Marrocos. Ele o batizou de Platão.
Gosta de falar sobre a Itália, editoras e amigos de longa data. Expressa-se num "fritagnol" descontraído, uma mistura afetuosa de francês, italiano e espanhol. Não oferece receitas milagrosas a quem lhe pergunta o segredo da sua longevidade. "É o amor da minha mulher", diz com um sorriso. Amigos que o frequentam, como Régis Debray, olham com curiosidade para o coquetel de vitaminas e ervas enviado da América Latina que toma todos os dias. Se há um segredo, é talvez o da sua curiosidade inesgotável, sempre com um livro em curso, uma análise para compartilhar. Publicou recentemente Y a-t-il des leçons de l’Histoire?, uma reflexão sobre as lições — frequentemente ignoradas — das grandes convulsões do passado.
As tragédias se sucedem com diferenças e traços comuns. O que se repete é a inconsciência e o sonambulismo de governantes e povos quando vivem e sofrem a corrida rumo aos desastres. Em seguida, ele acrescenta uma nota de otimismo: um acontecimento inesperado pode ocorrer e nos salvar. Em dezembro de [1941], o exército nazista estava às portas de Moscou e parecia não haver mais esperança para a URSS. No entanto, tudo mudou com a primeira ofensiva russa vitoriosa, que libertou Moscou, e com a entrada dos Estados Unidos na guerra. A Alemanha, que parecia destinada a dominar a Europa, começou a ser ameaçada pela derrota. Nunca se deve ceder ao desespero. A esperança não é uma probabilidade, é uma possibilidade.
Morin continua olhando para o futuro. “Estou preparando uma reflexão sobre a situação mundial atual, sobre os processos que nos arrastam para possíveis catástrofes. Ainda não sei se será um pequeno ensaio ou um livro, mas vejo-o como meu último trabalho sobre o mundo contemporâneo”. Na festa do Eliseu, em seu centenário, concluiu seu discurso com ironia e desencanto: “Passei a vida sendo um estudante, refletindo sobre o que significa estar vivo”.
O Ano Perdeu a Primavera é o romance que Edgar Morin escreveu em [1946], mas que só está sendo publicado hoje, depois de quase oitenta anos, na Itália, pela Guanda (tradução de Silvia Turato, 320 páginas). A história do protagonista Albert Mercier, que começa em uma tarde de junho de 1931, em Paris, também é, em parte, a do autor. E se cruza com os dramas da Europa, do nazismo à Resistência, à qual o personagem se junta quando tem apenas vinte anos.