04 Junho 2025
Depoimento de Assaad al-Nassasra sobre o massacre dos 15 paramédicos (Rafah, 23 de março) coletado pelo Crescente Vermelho. O exército israelense: "Sem execução, é uma acusação difamatória". A ONG: "Nosso colega foi levado para a prisão e torturado com música em alto volume".
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 04-06-2025.
Faltava uma última voz na história do massacre de 15 paramédicos palestinos mortos pelo exército israelense em Rafah, em 23 de março. A do sobrevivente Assaad al-Nassasra, preso, detido por 37 dias e libertado em 29 de abril. A voz chegou. E o que ele descreve é algo mais do que um "trágico erro operacional", como afirma a versão oficial das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Segundo o Crescente Vermelho Palestino, Assaad al-Nassasra , de 47 anos, afirma que soldados da Brigada Golani, após crivar as cinco ambulâncias de balas, emergiram da escuridão, se aproximaram e atiraram nos feridos, mas ainda vivos. O depoimento de Assaad al-Nassasra foi coletado por funcionários do Crescente Vermelho na presença do escritório jurídico da organização humanitária e gravado em vídeo.
Al-Nassasra disse que, em 23 de março, após o ataque, não teve visão direta dos soldados israelenses porque, tendo escapado de alguma forma do veículo em que viajava, se jogou no chão e se fingiu de morto. Ele tem certeza, no entanto, de que ouviu os gemidos de seus colegas feridos e que falou com eles até que os soldados se aproximaram e abriram fogo.
"Ele estava encolhido ao lado do corpo do nosso colega ferido, Mohammad al-Hileh, a quem abraçou até ouvi-lo dar seu último suspiro", disse o Crescente Vermelho Palestino. Al-Nassasra nunca falou com a imprensa sobre o ocorrido. "Ele ainda está em choque devido à tortura que sofreu durante sua detenção, quando o mantiveram por um dia inteiro em uma sala chamada discoteca."
Assaad al-Nassasra (Foto: PRSC/PalestineRCS).
Foi depois de ouvir atentamente seu relato que o presidente do Crescente Vermelho Palestino, Younis Al Kathib, declarou que tinha provas definitivas de que se tratava de um crime de guerra.
O Crescente Vermelho também afirma: “Assaad estava na ambulância com Rifaat Radwan, nosso jovem colega que filmou o vídeo que todos viram e que refutou a versão inicial das Forças de Defesa de Israel (IDF). Assaad lembra que o tiroteio continuou além do tempo documentado no vídeo. Ele estava escondido atrás do veículo, tentou se refugiar em um pequeno buraco no chão e fingiu estar morto.” Não demorou muito para que os soldados o encontrassem.Ele estava em pânico. Disse em hebraico ao soldado que apontou o rifle para ele que sua mãe era israelense porque achava que era a única maneira de não morrer. Funcionou. Eles o pegaram e o prenderam. Na verdade, a mãe de al-Nassasra é palestina, mas tem passaporte israelense.
Dois sobreviventes do massacre de 23 de outubro, ocorrido na região de Hashashin, nos arredores de Rafah: os voluntários do Crescente Vermelho Munther Abed, de 27 anos, e Assaad al-Nassasra. O primeiro ficou detido por apenas um dia, o segundo por mais de um mês.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) inicialmente afirmaram ter atirado nos veículos de resgate porque eles estavam "dirigindo de forma suspeita, sem placas e sem luzes piscantes", versão que foi contrariada pelo vídeo gravado por Rifaat com seu celular. Em seguida, alegaram que as vítimas eram do Hamas, mas essa falsidade também não durou muito. Por fim, as Forças Armadas, que conduziram uma investigação interna sobre a unidade Golani que operava em Rafah, admitiram que o massacre foi causado por "vários erros e ordens não cumpridas". Sobre a detenção de Assaad al-Nassasra, explicaram: "Ele foi preso e detido temporariamente com base em informações de inteligência que indicavam seu envolvimento em atividades terroristas. Após interrogatório e investigação, decidimos libertá-lo."
O Crescente Vermelho Palestino respondeu: “Ele foi espancado, agredido física e psicologicamente, recebeu pouquíssima comida, foi mantido amarrado e com os olhos vendados. Por três dias, o colocaram em confinamento solitário. Ele também foi mantido em uma sala que chamam de 'discoteca', onde tocavam música em volume altíssimo o dia todo. Assaad nos disse que estava ficando louco, o som era tão alto que ele conseguia sentir sangue saindo do nariz e das orelhas.”
La Repubblica solicitou às Forças de Defesa de Israel (FDI) que comentassem o que Assaad al-Nassasra disse ao Crescente Vermelho Palestino, em particular a acusação feita aos soldados de que eles mataram os feridos. As FDI responderam enviando o relatório de sua investigação interna, que afirma que o incidente foi resultado de "mal-entendidos operacionais das tropas, que acreditavam estar enfrentando uma ameaça concreta de forças inimigas". E que "não há evidências de que tenha sido uma execução; essas declarações são difamatórias e constituem falsas acusações contra os soldados das FDI".