29 Mai 2025
Franco Cardini, historiador italiano, compartilha suas reflexões sobre a atual crise em Gaza e o papel do governo de Israel sob a liderança de Netanyahu. Em entrevista, ele critica as ações do primeiro-ministro israelense, questionando a natureza da resposta a um conflito que ele define como um "massacre" e analisando as implicações políticas e sociais para a região e o mundo.
A entrevista é de Concetto Vecchio, publicada por la Repubblica, 28-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Franco Cardini, historiador, também os expoentes da centro-direita deveriam participar da manifestação por Gaza em 7 de junho em Roma?
E por que não deveriam? É verdade que eles são pró-Israel, mas não é uma manifestação contra o país, mas para dizer ao seu governo que deve parar imediatamente: Netanyahu está causando danos incalculáveis, até mesmo aos seus próprios cidadãos.
O senhor irá?
Se eu puder, sim. Todos devem assumir suas responsabilidades neste momento. De acordo com nossas respectivas possibilidades, devemos exercer um dever cívico. Eu posso escrever, dar entrevistas, me manifestar.
Como definiria o que está acontecendo em Gaza?
Um massacre.
Até mesmo a Alemanha, que sempre foi próxima de Israel, se voltou contra Netanyahu.
Netanyahu corre o risco de entregar seu país ao antissemitismo. Está indo contra o papel histórico desempenhado por Israel. E, dessa forma, empurrará a população palestina ainda mais para o Hamas. Espero, no entanto, que não seja exatamente isso que ele quer: semear ainda mais o Hamas e colher ainda mais massacres.
Na qualidade de historiador, como define o que está acontecendo?
É uma resposta terrorista. Não quiseram fazer uma operação direcionada. Atiraram contra a multidão. Como se pode aceitar a morte de todas aquelas crianças?
Não foram ultrapassados todos os limites da desumanidade?
Israel controla tudo, até mesmo a fome dos habitantes. É uma reação anormal, para a qual o direito à guerra nem sequer se aplica.
O que Netanyahu quer exatamente?
Transformar os palestinos em partidários do Hamas e, portanto, condenáveis à morte. Não será mais possível prefigurar dois povos e dois Estados, porque um dos dois povos está correndo o risco de desaparecer.
Discute-se se seria um genocídio.
É o assassinato em série dos habitantes de uma grande cidade, atingida diariamente.
Isso não é uma forma de limpeza étnica?
Mas para dizer que é, do ponto de vista jurídico, não basta o efetivo empenho pela destruição, é preciso também uma intenção precisa de planejamento.
Nos últimos meses, as críticas políticas a Israel são frequentemente confundidas com antissemitismo.
Mas isso só pode ser alegado por quem estiver de má fé. Israel é uma democracia, orgulha-se de ser a única no Oriente Médio, portanto, também deve ser capaz de aceitar as críticas. E aqueles que não discordam são moralmente corresponsáveis.
Por quê?
Porque seu governo está manchando a honra e a dignidade do país.
O que pode dizer àqueles que acham que podem ir às ruas para elogiar o Hamas?
Não posso dizer muito a essas pessoas.
Existe o risco de que essas franjas estraguem a manifestação?
Eu não gostaria de ver uma única bandeira queimada, um único fantoche de Netanyahu pisoteado, tudo isso nos afastaria de nossa essência, que é sermos cidadãos democráticos.
Qual é o perigo?
Estaríamos fazendo o jogo de Netanyahu. E daqueles que o sustentam. Não devemos dar o mínimo motivo. Mas eu tenho 84 anos, já vi de tudo e temo que algo no fim acabe acontecendo.
Muitos chamam Netanyahu de fascista.
O epíteto fascista é usado em excesso. Vamos chamar as coisas pelo seu nome.
Como você o chamaria então?
Ele é um violento, um assassino. Também sabe que seu papel como estadista está marcado, será amaldiçoado por seus próprios compatriotas. A pior coisa que pode acontecer a um político.