15 Mai 2025
No quinto ataque ao território nos últimos seis meses, uma das vítimas foi atingida de raspão na perna por bala de chumbo enquanto a outra ficou desaparecida por horas. Indígenas Parakanã denunciam falta de segurança desde operação de desintrusão da TI Apyterewa, realizada pelo governo federal em 2023
A reportagem é de Beatriz Vitória, publicada por Repórter Brasil, 14-05-2025.
Dois indígenas Parakanã foram surpreendidos por pistoleiros nesta terça-feira (13) na Terra Indígena (TI) Apyterewa, no sul do Pará. Um deles levou um tiro de chumbo de raspão na perna, mas conseguiu chegar à base da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). O outro ficou desaparecido após o ataque. Ele foi encontrado horas depois, buscando abrigo na casa de um morador da região.
Esse foi o quinto ataque a tiros registrado nos últimos seis meses na terra indígena, considerada a mais desmatada da Amazônia. Desde a operação de desintrusão realizada em outubro de 2023 pelo governo federal, que retirou centenas de invasores, o território vive sob tensão constante.
Em entrevista à Repórter Brasil, liderança Parakanã comenta o descaso do Estado com a segurança dos indígenas que vivem na TI. “Não sei quantas vezes nós já denunciamos. Cadê as autoridades para tomar providências?”, questiona.
“O governo federal fez o serviço dele e tirou todos eles da nossa terra. Mas, cadê a segurança? Cadê a atuação do governo federal também?”, complementa.
Para proteger o território, o povo Parakanã passou a construir novas aldeias no interior da terra indígena, numa tentativa de impedir o retorno de fazendeiros ilegais. No entanto, os ataques persistiram, inclusive nas aldeias recém-formadas.
Em uma denúncia feita em julho de 2024, poucos meses após o fim da operação de desintrusão, em fevereiro, a Associação Indígena Tato’a, que representa os Parakanã, afirmou que o território vinha sendo invadido com frequência para a colheita do cacau.
A Repórter Brasil procurou a PF (Polícia Federal) e a Funai para questionar quais medidas estão sendo adotadas para proteger o território após a desintrusão e diante dos ataques recentes, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
Em outubro de 2023, o governo federal realizou uma megaoperação para retirar os invasores da TI Apyterewa. A ação contou com apoio do Exército, da PF, da Força Nacional, além de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Funai.
Localizada no sul do Pará, a TI tem 773 mil hectares – uma área equivalente a cinco municípios de São Paulo. Na época, cerca de 700 indígenas viviam na porção norte, próximas ao rio Xingu. Havia também registros da presença de indígenas isolados e de recente contato, segundo o comando da operação.
Dos 773 mil hectares do território, já foram desmatados mais de 55 mil hectares (cerca de 14% do total). Mais da metade da destruição ocorreu durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022.
Durante o processo de demarcação da terra indígena, ao longo dos anos 2000, a Funai identificou 1.175 posseiros na área, conforme dados obtidos pela Repórter Brasil via Lei de Acesso à Informação. Desse total, o órgão reconheceu 292 como ocupantes de boa-fé, com direito a compensações por benfeitorias. Já os 883 restantes foram considerados de má-fé, sem qualquer direito às terras onde estavam instalados.