15 Mai 2025
Massimo Faggioli, professor de Teologia e Estudos Religiosos na Universidade Villanova, na Filadélfia: “O trumpismo tornou a hipótese de um pontífice estadunidense menos impossível”.
A entrevista é de Angela Napoletano, publicada por Avvenire, 13-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Massimo Faggioli, italiano radicado nos Estados Unidos, é professor de Teologia e Estudos Religiosos na Universidade Villanova, na Filadélfia, a mesma universidade onde se formou o Papa Leão. Autor de “Da Dio a Trump. Crisi cattolica e politica americana” (Morcelliana, 2025), conversa com o Avvenire sobre o que a eleição de Prevost representa para o mundo e, em particular, para os Estados Unidos.
O senhor esperava que um estadunidense subisse ao trono papal?
Antes da fumaça branca, eu já havia explicado publicamente que, na minha opinião, o caos do trumpismo teria, paradoxalmente, tornado a hipótese de um papa estadunidense menos impossível. E assim foi. Durante anos, pensou-se que os Estados Unidos, como símbolo do mundo ocidental, coração de alianças muito específicas, não poderiam ter também um Papa no Vaticano. Então chegou Trump e revirou todos os esquemas a tal ponto que, hoje, não se sabe mais para onde os Estados Unidos estão indo. Não se sabe, por exemplo, se são aliados da Europa ou não. O trumpismo tirou os Estados Unidos da caixa separada em que a ideia de um Papa estadunidense estava confinada, uma espécie de tabu, tornando-os um país como os outros que, portanto, poderiam esperar ter um Papa em Roma.
Como acha que as relações entre a Casa Branca e o Vaticano mudarão?
É difícil dizer agora se e como mudarão. A diferença entre Leão e Francisco, esse é um dado certo, é que o primeiro poderá falar diretamente com os Estados Unidos sem a necessidade de mediadores culturais ou diplomáticos. Ele conhece muito bem a Igreja estadunidense e também a política daquele país. Ele poderia ter comunicações mais diretas com a direita, isto é, com o trumpismo, mas também com a esquerda.
Antes de se tornar Papa, Prevost usou tons bastante duros contra Trump e J.D. Vance. Acha que ele os manterá?
Eu certamente não acho que ele os suavizará. Há uma posição clara de Leão contra o trumpismo, que está tentando dobrar a cultura social do catolicismo, e sua mensagem não mudará.
Pode nos explicar por que os partidários do "Make America Great Again" realmente não gostam de Leão? Steve Bannon o definiu como "a pior escolha"...
Porque para eles tudo o que não é Maga é heresia. Eles se tornaram uma ideologia político-religiosa que nada tem a ver com o catolicismo. Um extremismo a serviço de um projeto político. Agora será muito mais difícil para eles dizerem "o Vaticano não entende os EUA, não os conhece". Embora alguns já o estejam fazendo.
A formação teológica agostiniana poderia tranquilizar a ala dos católicos conservadores?
Apenas em teoria. O Santo Agostinho do vice-presidente J.D. Vance e o de Prevost são diferentes. O primeiro é um agostinismo que olha para a Idade Média, para a pré-modernidade, para um sistema político-religioso de um certo tipo que, na minha opinião, não é o de Leão, que acredito não ter intenção de dar passos atrás, por exemplo, no Estado de Direito. Mas o Conclave, de fato, repropôs o agostinismo como referência teológica para compreender e enfrentar a crise política global.
Santo Agostinho era o pensador do Império Romano que estava prestes a desmoronar. É como se os cardeais tivessem dito: "Precisamos de um novo Agostinho que nos ajude a entender como o nosso mundo ocidental está desmoronando". Além disso, mesmo durante o pontificado de Francisco, aqui nos EUA, o pensamento de Agostinho continuou sendo absolutamente central dentro da reflexão política tanto de direita quanto de esquerda.
Acredita que Leão possa curar as profundas fraturas na Igreja estadunidense?
Esse é um problema muito difícil. Mas Prevost tem um conhecimento da Igreja Católica estadunidense que o ajudará. Ele não precisa que lhe expliquem as notícias que chegam de Washington nem de pessoas que explicitem seu pensamento aos estadunidenses. A cisão entre conservadores e progressistas católicos se transformou em uma espécie de "cisma líquido", altamente intratável, que penetrou e revirou as relações não apenas no topo da Igreja, mas também entre os próprios fiéis. Bem, acredito que há uma chance de que Leão possa ser mais ouvido por todos os católicos estadunidenses.
Qual é o clima na Universidade Villanova, onde o Papa se formou?
Os agostinianos estão comemorando, todos aqui o conhecem. Mas já se pensa nos efeitos que esse evento terá em termos de aumento das matrículas e de vocações para os agostinianos. A eleição de Prevost é a maior oportunidade de relançamento que se poderia imaginar. É uma enorme oportunidade para a universidade, para os Estados Unidos, para Chicago e para a Filadélfia. Um momento particular, eu diria único, que todos aqui, estamos tentando entender como gerir.
Em resumo, para concluir, o que a eleição de Prevost representa para os EUA?
A esperança de que, além do trumpismo, para os Estados Unidos exista uma outra maneira ser "Grande Novamente".