12 Mai 2025
Enfraquecimento de agências científicas e demissão de pesquisadores dificultam o acompanhamento das tempestades.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 12-05-2025.
Os cortes orçamentários implementados pela administração de Donald Trump estão comprometendo significativamente a capacidade de resposta dos EUA a eventos climáticos extremos. A última cartada, anunciada na última 5a feira (08/5) foi a desativação do banco de dados histórico de desastres climáticos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), como noticiado por Associated Press, CNN, CS Monitor e NY Times, entre outros.
A decisão, decorrente do corte orçamentário de 30% na agência, elimina uma ferramenta crucial usada por 18 agências federais e 70% das cidades americanas para planejamento de emergências e atualização de códigos de construção, sem apresentar sistema substituto, levantando alertas entre cientistas que dependiam desses dados para estudos sobre padrões climáticos e intensificação de furacões.
Como informado pela CBS News, os cinco ex-diretores vivos do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) dos EUA já haviam divulgado no início da semana uma carta aberta alertando que os cortes orçamentários para a NOAA (que inclui o NWS) e a saída de mais de 550 funcionários (10% da força de trabalho) podem levar a “perda desnecessária de vidas”, especialmente durante a temporada de furacões.
Eles destacam que escritórios como o de Houston já perderam todos os seus meteorologistas sêniores e muitos estão operando em horário reduzido, comprometendo previsões críticas para aviação, navegação e agricultura. O orçamento presidencial para 2026, que cortaria US$ 1,5 bilhão da NOAA (principalmente em pesquisa climática e satélites), afetaria também a coleta de dados meteorológicos essenciais.
O enfraquecimento do Serviço Nacional de Meteorologia, responsável por 85% dos alertas precoces de furacões, já resultou em diminuição da precisão das previsões e aumento de 15% no tempo de emissão de alertas durante a temporada de furacões de 2025. “Sem dados precisos, os gestores operam às cegas, como no passado, quando as taxas de mortalidade eram muito mais altas”, esclarece Samantha Montano, professora de gestão de emergências e autora do Disasterology ao Guardian.
Embora oficialmente a temporada de furacões no Atlântico se inicie em 1º de junho, em 7 dos últimos 10 anos (2015-2024) formaram-se ciclones tropicais antes dessa data, um aumento de 133% em relação à década anterior (2005-2014). Essa antecipação está diretamente ligada ao aquecimento oceânico, já que as temperaturas superficiais de Caribe e Golfo do México em maio de 2025 já equivalem às médias históricas de junho-julho, com anomalias de +1,5°C a +2°C , de acordo com informações da NOAA, alertaram CNN, Fox Weather e USA Today.
Em tempo: Fontes revelaram à Reuters que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA prepara o desmonte do Energy Star, programa responsável pelo selo que certifica a eficiência de eletrodomésticos desde 1992, como parte de uma reestruturação que inclui o fechamento de dois escritórios técnicos. A decisão, criticada por 34 indústrias (incluindo Bosch e Carrier) em carta ao administrador da EPA em março, ameaça um sistema que evitou 4 bilhões de toneladas de emissões e economizou US$ 450 bilhões em custos energéticos, segundo dados oficiais. A senadora democrata Jeanne Shaheen alertou que o fim do programa, que hoje orienta 90% dos consumidores americanos segundo pesquisa do Conselho Americano de Economia de Energia, beneficiará empresas de energia em detrimento das famílias, enquanto a EPA limita-se a afirmar que as mudanças “beneficiarão o povo americano”, sem detalhes sobre substituição do sistema. NY Times e Washington Post também repercutiram os planos de Trump para a EPA.