Eventos climáticos extremos serão constantes no RS. Entrevista especial com Daniel Caetano 

Excesso e falta de chuvas estão previstos para o estado nos próximos anos, diz meteorologista e pesquisador da Universidade de Santa Maria (UFSM)

Foto: Gustavo Mansur | Palácio Piratini

05 Mai 2025

Se o Rio Grande do Sul fosse atingido por novos eventos climáticos da magnitude dos que aconteceram em maio de 2024, “as consequências seriam até mais graves porque ainda temos uma infraestrutura muito sobrecarregada e muitos rios continuam assoreados. Além disso, existe uma morosidade na resolução dos processos, que envolvem vários órgãos e a parte ambiental”, pontua Daniel Caetano na entrevista a seguir, concedida por WhatsApp ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. 

Segundo ele, um ano depois de ser inundado pelas enchentes, atualmente, o RS enfrenta outro evento climático extremo, a seca. “Em função da mudança climática, a infraestrutura tem que ser mais robusta porque alterações muito intensas e rápidas acabam superando a nossa velocidade de desenvolvimento. Antes, quando pensávamos em alterações de 100 anos, aos poucos íamos nos adaptando e tornando as infraestruturas mais resistentes. Agora, as alterações serão mais rápidas e, em alguns momentos, até mais intensas, e isso nos sobrecarrega. Ou seja, mal conseguimos nos recuperar de um evento e já temos que lidar com outro, como está acontecendo neste momento. Estamos nos recuperando dos efeitos dos excessos de chuva que ocorreram em abril e maio do ano passado e já estamos enfrentando um momento de falta de chuvas. Os eventos climáticos extremos vão ser muito constantes ao longo dos próximos anos no RS”.

Na avaliação do meteorologista, um ano após a catástrofe ambiental que devastou inúmeros municípios gaúchos, “o RS está se estruturando, mas ainda não tem uma estrutura robusta”. A estrutura gaúcha, afirma, “ainda é muito dependente de órgãos nacionais e internacionais”.

Ao fazer um balanço das ações preventivas implementadas no estado ao longo dos últimos doze meses na área de meteorologia, previsão e alerta de fenômenos climáticos extremos, Caetano é enfático: “A primeira coisa a ser dita é que a infraestrutura que tínhamos em abril de 2024 é praticamente a mesma que temos hoje. Não tivemos ganhos de infraestrutura para fornecimento dos alertas ao longo dos últimos doze meses. Foram contratados mais meteorologistas, com contratos temporários, para trabalhar em Porto Alegre, o que qualifica mais o sistema. Mas isso é o que tem sido feito até o momento”.

De acordo com o pesquisador, “iniciativas amplas, que façam a cobertura [meteorológica] de todo o RS de modo conjunto, fazem parte das incumbências e objetivos do Estado, cuja finalidade é proteger o cidadão. Essa iniciativa pode ter a participação da iniciativa privada, mas a responsabilidade para fazê-la acontecer é do Estado. Ele é o principal agente dentro do sistema de previsão e monitoramento do tempo e do clima”.

Daniel Caetano é doutor em Meteorologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e graduado em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde participou do GMT-Sul (Grupo de Monitoramento do Tempo), responsável por modelagens regionais (BRAMS) para a região Sul do Brasil. Atuou por dois anos no Grupo de pesquisa em Mudanças Climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (GPMC/CCST/INPE). É meteorologista da UFSM, onde realiza atividades de ensino e pesquisa.

Confira a entrevista. 

IHU – Um ano após as enchentes, a avaliação é de que a rede gaúcha de monitoramento e previsão de chuvas foi insuficiente no monitoramento e previsão das enchentes. O que foi feito ao longo dos últimos doze meses? Quais problemas, falhas e deficiências observa ainda hoje no serviço de meteorologia do estado, um ano depois da enchente?

Daniel Caetano – A primeira coisa a ser dita é que a infraestrutura que tínhamos em abril de 2024 é praticamente a mesma que temos hoje. Não tivemos ganhos de infraestrutura para fornecimento dos alertas ao longo dos últimos doze meses. Foram contratados mais meteorologistas, com contratos temporários, para trabalhar em Porto Alegre, o que qualifica mais o sistema, mas, até o momento, é isso que tem sido feito.

Ainda temos uma mão de obra muito qualificada dentro das universidades, mas somos muito dependentes de informações externas. É importante que o RS invista em infraestrutura observacional e em ferramentas para os previsores aprimorarem os serviços. Essa é uma coisa que ainda falta no estado. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs) lançou um edital sobre riscos climáticos para permitir que o estado tenha mais ferramentas regionais, com enfoques para necessidades específicas, qualificando os produtos a serem utilizados pelos meteorologistas. Isso é o que tem sido feito até agora. Trata-se de um processo muito lento. O que nos preocupa é que a velocidade desses desenvolvimentos é aquém da velocidade das mudanças do tempo e do clima. A intensidade e a ocorrência dos fenômenos climáticos não ocorrem na velocidade dos problemas estruturais do estado.

IHU – Alguma iniciativa poderia ter sido implementada de modo mais imediato ao longo dos últimos doze meses?

Daniel Caetano – Na verdade, o investimento necessário é muito grande. Precisamos, além de uma infraestrutura para os alertas, de equipes volumosas que consigam trabalhar em um estado que tem diferentes ocorrências de eventos climáticos. O RS tem, do ponto de vista meteorológico, um cenário perfeito para quem gosta de estudos de tempestades de diferentes tipos: tem eventos que ocorrem mais ao noroeste, outros, na região do extremo sul e no litoral. Todos esses fenômenos podem ocorrer simultaneamente em diferentes pontos do estado. Por isso, é preciso ter uma equipe que consiga dar conta de todos os eventos que ocorrem, por vezes, ao mesmo tempo.

Outro ponto importante é a conscientização da sociedade sobre os avisos meteorológicos. Se hoje, alguém receber um alerta de que vai chegar 200 milímetros nas próximas 24 horas, o que a pessoa vai fazer? Não sabemos o que fazer porque não temos ideia de qual é a capacidade de escoamento dessa quantidade chuva e quais são os pontos mais seguros e vulneráveis das cidades. Não sabemos o que fazer diante de um aviso. Por mais que tenhamos o aviso, temos que saber o que fazer a partir dele. Essa situação não faz parte do nosso cotidiano. É diferente da situação dos EUA.

Na região dos corredores de tornados, o meteorologista lança o alerta de possibilidade de tornado e as pessoas já sabem o que fazer, como correr para o bunker, estruturas embaixo da terra. No RS, não sabemos o que fazer. Além dos alertas, tem que se ter uma conscientização ou um processo de educação para a sociedade lidar com eventos climáticos e saber o que fazer diante dos alertas. Os órgãos de Defesa Civil têm que ser cada vez mais qualificados para receber informações e ter ideia do que possa ser feito, de quais são os pontos mais vulneráveis de uma cidade, quais são os pontos que devem ser melhor assistidos e quais são os mais seguros para recepção das pessoas de regiões vulneráveis.

É comum acontecer que o próprio ginásio em que as vítimas de um alagamento estão seja alagado também. Não se tem esse conhecimento de maneira geral. Se formos a uma prefeitura e perguntarmos quais são as zonas de risco da cidade, ninguém saberá responder de maneira clara e técnica. Isso faz toda diferença para ter um sistema eficiente. Além dos alertas meteorológicos, as equipes qualificadas têm que receber um treinamento mais direto. 

IHU – O Rio Grande do Sul continua despreparado para lidar com novos eventos extremos?

Daniel Caetano – Em função das enchentes do ano passado, há mudanças na física dos rios e, como vimos, um volume muito menor de chuvas, ao longo dos últimos meses, gerou inúmeros problemas. Ocorreram chuvas de menos volumes em algumas regiões, como na região metropolitana, que geraram percalços muito maiores do que antigamente. Se um evento daquela magnitude ocorresse hoje no RS, as consequências seriam até mais graves porque ainda temos uma infraestrutura muito sobrecarregada e muitos rios continuam assoreados. Além disso, existe uma morosidade na resolução dos processos, que envolvem vários órgãos e a parte ambiental.

IHU – Como funciona o sistema de monitoramento e previsão de chuvas do Rio Grande do Sul? Quantas estações cobrem o estado e como tem sido feito esse trabalho? 

Daniel Caetano – Dos três estados da região Sul, o RS é o único que não tem um centro de meteorologia operacional. Em Santa Catarina tem o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram) e, no Paraná, o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar). Até pouco tempo atrás, o RS não tinha nada nesse sentido de alerta meteorológico. Nos últimos anos [em 2013], foi criada a Sala de Situação da Defesa Civil do RS e, a partir de lá, são emitidos os alertas climáticos a partir dos quais a Defesa Civil se baseia para a atuação das suas operações. Nós recebemos, no celular, alertas provenientes desse centro, que está localizado em Porto Alegre. Além disso, o RS tem uma rede de observação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) de acesso livre. Ou seja, qualquer usuário pode utilizá-la. Essa rede cobre algumas cidades do estado e tem uma cobertura espacial razoável. Esses equipamentos necessitam de manutenção, mas, durante algum tempo, essas estações, por vezes, não passam por manutenção e isso faz com que se percam as informações. Essas são as estações meteorológicas. 

O RS utiliza também dois radares meteorológicos que fazem a cobertura de grande parte do estado, que são de administração da Aeronáutica. Um deles fica em Santiago e outro, em Canguçu. Essas são ferramentas que utilizamos para fazer, principalmente, previsões de curto prazo, como avanços de tempestades. Como não temos controle desses equipamentos, por vezes, eles estão desligados e acabamos não tendo acesso às informações. Ou seja, essas informações ficam perdidas e o meteorologista que está na sala de operações acaba não tendo uma visão full time da cobertura e os alertas ficam, por vezes, imprecisos. 

O governo estadual vai contratar meteorologistas para as regiões de Porto Alegre e da Campanha. O RS está se estruturando, mas ainda não tem uma estrutura robusta. A estrutura gaúcha ainda é muito dependente de órgãos nacionais e internacionais. Não temos estações brasileiras de satélites. Os satélites são da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), a agência atmosférica dos EUA. Os EUA têm o satélite que faz a visada sobre o Brasil e o RS. Nós conseguimos acompanhar os sistemas, mas precisamos deles. O RS não tem um sistema próprio nem servidores próprios. Os servidores da Sala de Situação são ou contratos temporários ou contratos através de uma empresa terceirizada. Não temos uma carreira de servidor dentro do Estado, que trabalhe sempre em função disso. O sistema pode mudar em função da empresa contratada.

IHU – Você declarou que o Rio Grande do Sul sempre esteve mais atrasado do que os outros estados da região Sul quando se trata de monitoramento, alerta e preparo frente a eventos climáticos extremos. A que atribui esse atraso? Pode dar alguns exemplos comparativos da situação do RS em relação a outros estados? 

Daniel Caetano – Vou fazer um comparativo local com nossos vizinhos. O RS, apesar de não ter a infraestrutura dos estados vizinhos, é o que mais forma profissionais da área porque tem dois cursos de meteorologia, um em Santa Maria, outro, em Pelotas. A formação dessa mão de obra acaba não sendo absorvida pela região e vai para outras regiões ou para o exterior. 

Mesmo tendo mão de obra, por que estamos nessa situação em relação aos estados vizinhos? Essa condição é decorrente da situação econômica. O principal meio econômico do RS é a agricultura, que acaba não percebendo a importância da previsão climática mais assertiva para a eficiência no campo. Como o setor econômico não tinha visão da importância da meteorologia, ela foi sendo deixada de lado no processo de desenvolvimento do RS. Sempre se pensava que a previsão do tempo era algo secundário. Como o RS chegou num potencial agrícola muito grande, sempre se imaginou que se o avô fazia de um jeito e o pai também, seria possível continuar repetindo tudo do mesmo jeito. A pressão econômica em relação à meteorologia não existia no RS. 

A situação é diferente em relação ao que aconteceu, por exemplo, em SC. A pesca é uma atividade muito forte em SC e, por causa disso, o estado precisa ter um sistema de alerta porque os barcos só saem para o mar se o mar estiver calmo. Se o mar não estiver propício para navegação, não podem sair. Então, no estado existia um interesse econômico pela meteorologia. No Paraná, o Simepar surgiu da Companhia Paranaense de Energia (Copel).

O RS acabou ficando para trás na história e isso acabou se refletindo nas enchentes de abril e maio de 2024. Além disso, vemos que os estados que utilizam as ferramentas meteorológicas acabam tendo um crescimento de produtividade muito maior do que o RS. Se formos pensar nos efeitos econômicos do La Niña nos últimos três anos, entre 2020 e 2023, as perdas econômicas desse evento, que já era previsto e foi avisado, foram gigantescas. Hoje, cada vez mais se sabe da importância da meteorologia para o RS. 

IHU – Como poderia ser feita a institucionalização das redes de monitoramento? Você mencionou a atual terceirização do sistema no RS. Seria necessário um aumento do funcionalismo, com a organização de um sistema estatal, ou seria melhor resolver essa questão pela via privada?

Daniel Caetano – Essa é uma pergunta interessante porque tudo depende dos interesses econômicos. O RS tem diferentes cenários ao longo do estado: tem regiões mais agrícolas, outras, de produção de pecuária, outras, mais urbanas, outras, menos industriais. Cada região tem uma particularidade. Então, não é possível ter uma empresa agrícola que invista em um sistema de previsão do tempo em todo o RS. Na região de Fraiburgo, produtora de maçãs em SC, tem um radar de granizo para proteção das macieiras. Mas é uma iniciativa privada e local. Iniciativas amplas, que façam a cobertura de todo o RS de modo conjunto, fazem parte das incumbências e objetivos do Estado, cuja finalidade é proteger o cidadão. Essa iniciativa pode ter a participação da iniciativa privada, mas a responsabilidade para fazê-la acontecer é do Estado. Ele é o principal agente dentro do sistema de previsão e monitoramento do tempo e do clima. 

IHU – Sua equipe venceu o edital lançado pela Fapergs e está desenvolvendo soluções para tornar a meteorologia e a Defesa Civil do Rio Grande do Sul um pouco mais autossuficientes. Em que consiste esse edital e quais soluções estão sendo propostas e desenvolvidas?

Daniel Caetano – O edital da Fapergs é um programa de pesquisa e desenvolvimento voltado a desastres climáticos. Foi um edital amplo e vários projetos foram aprovados com crédito de até um 1,5 milhão para a comunidade científica do RS fornecer soluções para as diferentes áreas do estado (hidrologia, meteorologia, econômica, social etc.). 

O nosso grupo é formado por pesquisadores de diferentes instituições (UFRGS, UFPel, UFSM) e diferentes áreas e desenvolvemos um serviço integrado de proteção para a costa do RS, que chamamos de Pró-Costa/RS. Ele tem algumas metas. A primeira delas, da qual faço parte, é a meta de meteorologia. Nela, nós vamos propor – e estamos desenvolvendo – um sistema autônomo de informações meteorológicas. Estamos desenvolvendo um sistema de ferramentas de previsão do tempo que pode ser utilizado na Sala de Situação ou em outros órgãos que venham a ser criados no RS, até mesmo órgãos municipais. Os municípios, além do Estado, podem participar desse desenvolvimento, através da contratação de empresas, e ter contato com a Defesa Civil. Ou seja, desenvolver ações mais direcionadas para o município. Temos dois anos para desenvolver as ferramentas e apresentá-las para o Estado. 

A partir do momento em que o produto for disponibilizado para o Estado, o governo vai, mediante as liberações orçamentárias, fazer o melhor uso dessas ferramentas. Elas serão tecnicamente comprovadas, mas o uso final será por parte do Estado e órgãos de Defesa Civil associados a essa área. 

IHU – Quais são as projeções dos estudos científicos em relação à ocorrência de novos eventos climáticos extremos no RS?

Daniel Caetano – O que os modelos têm apontado para os próximos meses são chuvas abaixo da média. Ou seja, saímos de uma crise de excesso de água e entramos numa crise de falta de água. As pesquisas sobre o clima e cenários futuros de precipitação e temperatura indicam que o estado será muito afetado por eventos extremos, tanto de excesso quanto de falta de chuvas. Isso faz com que o RS tenha que se preparar tanto para eventos de chuva intensa quanto momentos de chuvas abaixo do esperado. Vamos conviver com esse desafio. 

A comunidade científica já vem falando desse cenário há algumas décadas. Há 18 anos, quando me formei, participei de um grupo de pesquisa de mudanças climáticas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e, naquela época, já se falava do RS como o estado que teria a característica de eventos de precipitação. Vinte anos depois, essa situação começa a ficar cada vez mais concreta. Eventos esperados para acontecer a cada 100 ou 80 anos estão ocorrendo num prazo menor, em 40, 50 anos. 

Em função da mudança climática, a infraestrutura tem que ser mais robusta porque alterações muito intensas e rápidas acabam superando a nossa velocidade de desenvolvimento. Antes, quando pensávamos em alterações de 100 anos, aos poucos íamos nos adaptando e tornando as infraestruturas mais resistentes. Agora, as alterações serão mais rápidas e, em alguns momentos, até mais intensas, e isso nos sobrecarrega. Ou seja, mal conseguimos nos recuperar de um evento e já temos que lidar com outro, como está acontecendo neste momento. Estamos nos recuperando dos efeitos dos excessos de chuva que ocorreram em abril e maio do ano passado e já estamos enfrentando um momento de falta de chuvas. Os eventos climáticos extremos vão ser muito constantes ao longo dos próximos anos no RS.

IHU – Como a situação climática tem sido tratada do ponto de vista político no Estado após as enchentes de maio? Ela tem sido avaliada como um evento isolado e episódico ou há uma preocupação com a repetição de fenômenos desse tipo?

Daniel Caetano – A minha visão é limitada porque não participo da atuação política, mas o que vejo é que as pessoas estão tomando consciência de que esses eventos serão mais frequentes e intensos. Como as pessoas estão tendo essa percepção, a classe política responde a esse entendimento da sociedade. Vemos que há maior entendimento acerca da necessidade de sistemas mais eficientes e melhoria de infraestrutura. 

Como o Rio Grande do Sul tem pouco assessoramento em meteorologia, as ações são muito mais políticas e momentâneas do que propriamente técnicas. O lançamento de editais e a busca do Estado por pesquisa e profissionais qualificados poderá qualificar a tomada de decisão. Mas a tomada de decisão científica é diferente da tomada de decisão política. Nós, como cientistas da área, idealizamos o sistema mais robusto possível. Mas, quando entramos na questão política, outros fatores se sobressaem, como a questão econômica. 

Nas eleições municipais, alterações estruturais não são tão visíveis quanto o asfalto de uma rua e, portanto, só sentimos falta de políticas estruturais quando elas precisam ser necessariamente utilizadas. Numa situação de necessidade, vemos que faltou isso, aquilo e aquele outro, mas é porque tem uma escolha política por trás da tomada de decisão, a qual a comunidade científica não consegue gerenciar. Buscamos desenvolver a ciência de maneira mais técnica possível, com as ferramentas mais técnicas e precisas, mas a implementação delas depende da esfera política. 

IHU – Deseja acrescentar algo? 

Daniel Caetano – É importante que as pessoas tenham consciência de que a meteorologia faz parte do dia a dia da sociedade. Os avisos e alertas meteorológicos devem ser levados em consideração, mas, ao mesmo tempo, é preciso entender que eles fazem parte de uma previsão que pode não se confirmar. Em todo caso, com a ocorrência de um aviso, é preciso agir e tomar decisões e quem gerencia isso são os órgãos de Defesa Civil.

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