09 Mai 2025
"O novo Papa terá, portanto, que defender as Igrejas daqueles que as dividem, unificar os pedaços removendo as liberdades “relativistas” e impondo “valores” que deveriam fazem o bem", escreve Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por Corriere della Sera, de 08-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos nós não, todos eles sim, agora sabem. Todos os cardeais eleitores sabem, desde a noite passada, quantos consensos prometidos ou farejados ao longo dos dias se tornaram votos e quantos evaporaram à simples vista da urna para as cédulas. É uma experiência que muitas vezes serviu para confirmar as candidaturas, porque o primeiro requisito do novo Papa é ser capaz de distinguir os cardeais sinceros dos mentirosos (Scola começou com 25 e não saiu disso).
Não todos, mas alguns, desde a noite passada, se perguntam se a soma dos votos obtidos pelos grupos maiores e pelos menores pode, nesta manhã, fazer um nome voar tão alto a ponto de convencer os outros a torná-lo Papa já hoje. Às vezes, esse crescimento se refere a um nome que estava na frente ontem (Ratzinger estava na frente e sempre permaneceu lá). Às vezes, é um crescimento que diz respeito ao nome da “carta escondida”: em 2013, era Bergoglio que teve 12 votos na primeira votação e depois os dobrou duas vezes. Esse movimento poderia se desenvolver em um ritmo que impressionaria os outros.
Ninguém, no entanto, pode ter certeza de que não há pelo menos 45 cardeais determinados a permanecer firmes em suas posições: não dispostos a se render não por teimosia, mas por lealdade ao juramento que pede a eles, e não a Deus, que assumam a responsabilidade pela escolha. Para convencê-los no primeiro dia, seria necessário explicar-lhes que, em 1978, foi um erro não dar os votos a Siri e eleger Wojtyła, ou que, em 1958, foi um erro realizar 14 escrutínios para eleger Roncalli. E como isso não pode ser feito, se usará o argumento de que é preciso “ser rápidos”, para não dar à mídia a impressão de que a Igreja “está dividida”. Um argumento poderoso. Pois essa é, efetivamente, a manchete que a CNN preparou caso haja duas fumaças negras hoje.
O texto da notícia é eficaz, mas errado em sua raiz. Porque a Igreja está dividida. É sempre dividida, é desde sempre dividida. É exatamente porque está dividida que há bispos nas dioceses “nas quais e a partir das quais existe uma única Igreja” (é a Lumen Gentium) e é eleito um bispo em Roma para garantir a unidade da Igreja Católica em torno do essencial da fé. É um dever que torna crível o empenho ecumênico do catolicismo romano e que hoje deve se medir com um concorrente insidioso e sombrio. Um ecumenismo escuro, estimulado por uma política que perpassa as Igrejas (Romênia, EUA, Rússia, Hungria, etc.) pedindo a adesão a uma ideologia política que se apodera das aporias da moral cristã, as mistura com os medos, acrescenta um fio de ódio e com elas cola pedaços de Igrejas diferentes. Isso faz com que hoje um evangélico homofóbico e um católico homofóbico estejam mais próximos do que dois católicos que deveriam ter a mesma fé.
O novo Papa terá, portanto, que defender as Igrejas daqueles que as dividem, unificar os pedaços removendo as liberdades “relativistas” e impondo “valores” que deveriam fazem o bem. O catolicismo, de Pio XI em diante, sabe que ninguém se torna bom dessa forma, todos perdem a liberdade e a dignidade da criatura humana é pisoteada. E a isso um Papa diz não.