07 Mai 2025
Na Bélgica, a associação de jovens da Igreja Católica Flamenga, Kamino, escreveu uma carta aberta aos cardeais antes do Conclave. Os jovens pedem para continuar o caminho da reforma iniciada por Francisco para uma Igreja na qual eles não sejam apenas acolhidos, mas corresponsáveis.
A carta é de Kamino, publicada por Settimana News, 07-05-2025.
Sofi Van Ussel, diretora do Kamino, que apoiou esta iniciativa para garantir que as vozes dos jovens sejam ouvidas neste momento crucial na vida da Igreja.
Irmã Xiskya Valladares, que foi Madre Sinodal no Sínodo sobre Sinodalidade e, como missionária digital, apoia esta iniciativa.
Caros servos do Senhor,
estamos numa encruzilhada. A morte do Papa Francisco não marca o fim de uma era, mas sim um convite.
Um convite para continuar esperando. Para continuar no caminho que ele traçou. Para nos tornarmos novamente uma Igreja peregrina.
Não vos escrevemos com distanciamento, mas em profunda comunhão. Como jovens, como camaradas, como mulheres, como leigos. Como crianças, uma Igreja que aspira a renovar-se, inspirada por este Ano Jubilar e alimentada pela promessa: "Spes non confundit", a esperança não desilude.
Queremos uma Igreja que acredite que o Espírito de Deus continua a soprar, ainda hoje, através dos jovens e abrindo novos caminhos.
Não nos esqueçamos.
Honramos os muitos papas, padres, religiosos, leigos, mulheres e mártires que vieram antes de nós.
Eles transmitiram a fé com fervor, às vezes com dor, muitas vezes com amor.
Mas também reconhecemos as áreas cinzentas: clericalismo, abusos de poder, silêncios cúmplices.
Honrar o passado também significa aprender com ele. Não para ficar preso, mas para curar.
O Papa Francisco nos mostrou outra maneira de ser Igreja.
Ele nos lembrou que o Sínodo não é uma reunião, mas um modo de vida.
Ele nos ensinou a ouvir – a realmente ouvir – os outros, aqueles que estão à margem, o Espírito.
Ele abriu portas, quebrou tabus, falou sobre abusos, estruturas de poder, a natureza como irmã e foi a lugares onde outros líderes mundiais jamais mostrariam seus rostos.
Ele convidou os jovens a “fazerem bagunça”, não por rebelião, mas por amor ao mundo.
Ele construiu uma cultura de diálogo, com a sociedade, com as outras religiões, com aqueles que pensam e sentem diferente.
Uma Igreja viva escolhe o futuro.
E esse futuro não pode ser escrito sem os jovens, sem as mulheres, sem os leigos.
Christus Vivit não é o apêndice de um relatório sinodal: é um manifesto para uma Igreja que vive da força dos sonhos dos jovens. Pedimos que levem isso a sério.
Sonhamos com um ministério de artesãos da paz na Igreja.
Líderes que constroem pontes, superam conflitos e reconhecem o poder da vulnerabilidade.
Que o Conclave não é um espaço fechado. Que se torne uma fonte de renovação espiritual.
Por que o povo de Deus não deveria testemunhar a você, pelo menos simbolicamente?
Por que não permitir mensagens de vídeo de jovens, de vítimas, de pessoas em busca de significado?
Por que não uma voz da periferia do mundo, na tela, no coração?
Esperamos uma Igreja radicalmente íntegra.
Uma Igreja onde transparência não é uma palavra vazia, mas o fundamento da confiança.
Esperamos uma Igreja inclusiva.
Uma Igreja que não julga pela origem, gênero, orientação ou status, mas pela capacidade de amar.
Esperamos uma Igreja em diálogo com todas as religiões.
Não por cortesia, mas por uma fé profunda no enriquecimento mútuo que Deus nos oferece através uns dos outros.
Esperamos uma Igreja enraizada na sociedade.
Não acima, não ao lado, mas em seu coração; vulnerável, em busca, presente.
Não por uma necessidade técnica, mas como um espaço missionário.
Onde os jovens vivem hoje, buscando, fazendo perguntas e compartilhando sua fé.
Investimos em ministério digital, liturgias online e comunidades sem fronteiras.
Francisco falou sobre as periferias digitais: acreditamos que elas podem se tornar uma nova Emaús.
Caros Cardeais,
não escolha apenas um papa.
Escolha um peregrino. Um pastor. Um artesão da paz.
Que a sua escolha seja um passo em direção a uma Igreja onde os jovens não sejam apenas acolhidos, mas corresponsáveis.
Que a sua escolha seja um eco de Francisco e uma resposta profética para o futuro.
Chame-nos de peregrinos da esperança. Mas acima de tudo: ouça-nos.
Porque esperança não é sonho. A esperança é uma jornada.
E fazemos essa jornada juntos.
Com respeito, com amor, mas também com grande expectativa, em nome dos jovens que buscam, esperam e acreditam.