07 Mai 2025
"Resumindo, talvez seja verdade: mesmo antes de escolher entre um progressista e um conservador, o conclave que se abrirá em algumas horas terá de discernir cinquenta anos (1978-2021) de muito carisma, demasiada fragmentação, não pouco autoritarismo e pouco governo. Terá que decidir se continuar no caminho de décadas do desequilíbrio em favor do carisma ou se retornar ao caminho de uma reforma dos mecanismos de equilíbrio entre carisma e ofício", escreve Luca Diotallevi, doutor em sociologia pela Universidade de Parma, em artigo publicado por Il Messaggero, 06-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A maioria dos comentários que antecederam o já iminente “extra omnes” e, portanto, o início das eleições para o novo pontífice, concentrou-se na competição entre progressistas e conservadores. A essa abordagem responderam os ambientes eclesiásticos e muitos dos diretamente interessados afirmando que é impróprio aplicar tal distinção ao colégio de cardeais.
Em um primeiro nível, soa como uma desculpa. Como é possível fechar os olhos diante das diferenças entre Ratzinger (Bento XVI) e Bergoglio (Francisco)? Ou talvez as fileiras de seus respectivos fãs que, ao polemizarem, ostentam esses rótulos, estejam sofrendo de alguma alucinação?
Em um nível um pouco mais analítico, se redescobre o que os cientistas políticos sempre souberam. São muito raros os “progressistas a 360°” e igualmente raros os “conservadores a 360°”. O que havia de conservador no Bento XVI que em Londres elogiava a Grã-Bretanha e suas instituições como um exemplo de democracia e de sociedade livre? O que havia de progressista no Francisco, que com os movimentos sociais exaltava formas de liderança muito distantes daquelas democráticas? E, em ambos os casos, a lista de exemplos dissonantes poderia ser muito longa. Se nos aprofundarmos um pouco mais na análise, acabaremos percebendo algo mais profundo que de fato é compartilhado pelos três pontificados mais recentes (Wojtyla, Ratzinger e Bergoglio) e que obriga a relativizar a oposição progressistas/conservadores.
Como Max Weber ensina após a Primeira Guerra Mundial, e como De Tocqueville havia intuído antes dele, na sociedade contemporânea toda autoridade deve tentar manter unidas duas coisas que se movem em direções opostas.
A autoridade eclesiástica não é exceção e, em qualquer nível, precisa para funcionar tanto de uma legitimação racional (de acordo com as normas) quanto de uma legitimação carismática (que, em vez disso, depende de qualidades subjetivas do indivíduo).
A Igreja Católica sempre soube que não havia escolha entre exercício do ofício e atração carismática e que, ao mesmo tempo, era muito difícil não os deixar divergir demais (basta reler o final do IV Evangelho, muitas passagens dos Atos dos Apóstolos e não poucas das cartas paulinas). Na Igreja do segundo milênio, algumas modalidades de equilíbrio entre ofício e carisma funcionaram até o século XX. Santos e santas, congregações e ordens, respondiam à necessidade de “carisma” e, por causa de sua recíproca diversidade, de fato limitavam seus excessos. No lado oposto, o do “ofício”, párocos, bispos e papas realizavam um trabalho menos visível, mas certamente não menos eficaz e necessário, e o faziam sem que lhes fosse pedido, em primeiro lugar, para agradar.
Além disso, por cerca de um milênio, também atuaram e cresceram em número na Igreja outros mecanismos de equilíbrio entre “carisma” e “ofício”. No conjunto, esses mecanismos produziram a forma-igreja, típica do catolicismo e única no cenário cristão e religioso em geral.
Com a aceleração da modernização iniciada a partir do século XX, toda autoridade e, portanto, também a autoridade eclesiástica, foi solicitada a um aumento de suas qualidades carismáticas. O Vaticano II e Montini (Paulo VI) identificaram com lucidez o problema e responderam de forma coerente. No entanto, desde o final da década de 1960, grande parte do catolicismo e, por fim, também o Colégio de Cardeais acabaram considerando essas respostas de reforma por demais onerosas e optaram por um desequilíbrio drástico da combinação entre “carisma” e “ofício” em benefício do carisma. É exatamente nesse nível que a diferença entre conservadores e progressistas se reduz a pouca coisa.
Conservadores e progressistas (cada um a seu modo) se uniram na luta contra o reformismo de Paulo VI e depois impuseram soluções de desequilíbrio carismáticas em todos os níveis, começando pela eleição de Wojtyla (João Paulo II) em 1978. Nessa perspectiva, os pontificados de Bento XVI (Ratzinger) e Francisco (Bergoglio) estiveram em absoluta continuidade com o de Wojtyla.
Pouco contou que essa estratégia não tivesse nada de original e tivesse sido antecipada por quase todos os principais atores religiosos do mundo. Menos ainda contou o fato de que essa escolha não tenha sido bem-sucedida em contrastar a secularização, mas a acompanhou e até mesmo a acelerou. E nada parece contar o fato de que a promessa de uma Igreja mais plural feita pelos defensores do desequilíbrio carismático não tenha sido mantida, mas negada justamente por aquele mesmo desequilíbrio. É somente em uma Igreja com alguns direitos garantidos, com uma busca comum e ordenada de compreensão do Evangelho e, sobretudo, com uma mesma liturgia, e somente em “uma” Igreja, em suma, que cada fiel pode desfrutar do fruto dos mais diversos carismas. Pelo contrário, em uma Igreja reduzida a um arquipélago de ilhotas religiosas (com seu próprio clero, sua própria doutrina e seus próprios ritos), cada carisma se separa dos outros, despreza a massa dos fiéis comuns e se torna instituição em si mesma.
Resumindo, talvez seja verdade: mesmo antes de escolher entre um progressista e um conservador, o conclave que se abrirá em algumas horas terá de discernir cinquenta anos (1978-2021) de muito carisma, demasiada fragmentação, não pouco autoritarismo e pouco governo. Terá que decidir se continuar no caminho de décadas do desequilíbrio em favor do carisma ou se retornar ao caminho de uma reforma dos mecanismos de equilíbrio entre carisma e ofício. À sua maneira, o Conclave que está prestes a começar também verá o confronto entre uma aliança de fato de progressistas e conservadores de um lado e a frente reformista do outro.